Capítulo 8 - Culpa

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Por que o hospital parece ser tão mórbido? Talvez, porque aqui morreram sonhos... mas mesmo com todas as coisas boas que aconteceram, aqui ainda vai continuar sendo estranho. Um ponto que poderia mudar isso seria tirar essas paredes brancas!
Camilly viajava em suas teorias tediantes, enquanto seus pais conversavam com um médico na porta do quarto onde estava.

—Ele liberou você!— sua mãe disse entusiasmada, invadindo o quarto. Camilly comemorou forçadamente e ficou sentada na borda da cama. Sua expressão mudou totalmente quando falou:
—Não tinha necessidade de me deixar aqui por uma noite!— era nítida sua raiva. O lábio inferior da sua mãe se contraiu.
A srt. Jones sempre teve a fama de ser muito protetora e cuidadosa. Bastava um arranhão, ela já levava sua filha ao médico. Camilly nunca gostou desse comportamento da sua mãe. Ela se sentia presa, limitada de aprender a levantar e seguir em frente. Seu pai por outro lado, não dava muita atenção a esse tipo de coisa, preferia que sua filha se cuidasse sozinha. Mas mesmo ele a deixando ser livre, Cami sempre levara consigo o sentimento que é ser traída. De ter que conviver com mentiras, traições, e perdão por algo imperdoável.

Ao chegarem em casa, a primeira coisa que Camilly fez foi ir direto ao seu quarto pegar seu celular, que havia ficado por causa da correria da ida ao hospital.
Ela estava melhor, conseguia respirar, mas em alguns momentos a sua respiração oscilava, mas disse para si mesma que sua situação era a menos pior.
Camilly foi até a barra de mensagens, tinham aparecido várias perguntando se estava bem.
—As pessoas só procuram você quando algo acontece, fora isso, as pessoas nem sabem que você existe!— sussurrou mentalmente. Logo em seguida, clicou no grupo "Os aleatórios", criado por Jackson — o grupo contia ela e os outros quatro — para poderem se comunicar de maneira mais fácil.
Nenhuma mensagem.
Um grunhido tristonho foi soltado. Voltou para a aba das conversas e foi até o contado de Jack.
Quando pegou o celular só esperava uma única mensagem, a dele. Um agradecimento por ter salvo sua vida, ou, uma explicação por ter ficado encantado com o fogo, ou um simples "estou bem".

Oii! Como está?

Enviada.
Seu coração acelerava, seus dedos tamborilavam na cama sobre a qual estava deitada de bruços.

Me desculpe não ter ficado, meus pais me levaram ao médico.

Enviada, mas não foi recebida.
Camilly passeou seus olhos por todo o seu quarto tentando tirar sua atenção da ansiedade prestes a vir. Seus olhos pararam em uma foto colada junto com várias outras em uma parede roxo claro, onde ficava sua penteadeira. Seu coração saiu do acelerado e foi para o devagar, lentamente.
Cami se levantou deixando o celular para trás, ficou de frente a penteadeira cheia de cosméticos, e levou seus dedos trêmulos até a foto.

Eram três garotas. Tinham mais ou menos 10 anos, sorriam com os braços entrelaçados. A da esquerda tinha o cabelo amarelo acobreado e olhos quase azuis, a do meio tinha os olhos e cabelos cor de mel, e a da direita tinha as madeixas tingidas de amarelo claro prateado, quase branco, e olhos em um azul cinzento. Lucy, Camilly e Rebeka.
Estavam felizes que iam acampar juntas, pena que isso foi a sete anos atrás. Tanta coisa aconteceu naquele dia, e esse foi o último registro de três melhores amigas inseparáveis...

As pálpebras de Camilly tremiam juntamente com seu corpo, e uma lágrima fria escorria pelo seu rosto um pouco pálido ao se lembrar daquele verão que desejara esquecer para sempre.
Algo latejava em suas veias, conforme toda a dor e culpa retornara a tomar conta.
Foi sua culpa!
A voz de uma garotinha sussurou em sua mente.
—Não, não foi!— grunhiu entre os soluços.
Eu pedi ajuda, e você não me ajudou.
A voz estava irritada, e jogava todas as lembranças daquele dia.
—Eu tentei!— seus olhos já deixavam escapar lágrimas, e suas mãos tremiam dolorosamente.
Um calor irritante percorria em seu estômago, mas sua pele estava fria como gelo.
Lembre-se, Milly, do que fez comigo! Lembre-se dos meus gritos!
—Pare, por favor! — choramingou — Eu não quis fazer isso! Me perdoe!— lágrimas e mais lágrimas molhavam os cabelos grudados em suas bochechas. A respiração que antes estava controlada, agora gritava com dificuldade para sair de suas narinas. As suas mãos trêmulas e gélidas encontraram o topo de sua cabeça, puxando um emaranhado de cabelos.

Os Cinco Sobrenaturais (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora