Capítulo III - Alucinações

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Continuo acompanhando a elegante mulher até uma casa enorme que fica em frente a vila de onde havia saído. Sem dúvidas essa mulher tem o estilo de vida bem contraditório comparado ao das outras pessoas daqui.

A casa está em ótimos cuidados, ela deve possuir uma quantia absurda de funcionários para manter seu jardim assim.

- Fui eu mesma que projetei- fala quebrando o silêncio.

- É lindo- respondo ainda apreciando tudo ao meu redor.

- Os sumiços tem ocorrido naquela região- diz apontando para um canteiro com rosas vermelhas- Consegui capturar mais de quatro animais. Eles vêm até o canteiro e acabam se esperando com o espinho das rosas, desistindo de voltar para casa.

Passo a mão sobre as pétalas da rosas procurando algo que possa me ajudar a os encontrar, até sentir um pequeno formigamento em um dos meus dedos.

- Está bem, querida?- fala com a feição calma.

- Está, apenas me furei com o espinho.

- Aqui use isto- fala me entregando um pequeno lenço branco.

- Obrigada.

- Não tem que agradecer, sem você por aqui os animais não iriam querer aparecer- fala com um largo sorriso no rosto. Largo o suficiente para que eu veja suas presas pontiagudas.

Começo a me sentir muito tonta e tudo ao meu redor fica preto e branco, minha cabeça dói e não sei mais onde estou. Ouço barulhos de corvos sobrevoando a casa e uivos próximos a mim. Assim que decido tentar me levantar acabo caindo no chão e batendo com a cabeça.

(...)
Sinto uma dor fortíssima do lado direito da minha cabeça. Olho ao meu redor a procura de algum feixe de luz para poder ver meu rosto. Bem a minha frente há um longo e velho espelho de corpo inteiro, me levanto e começo a andar até ele.
Meu rosto, está totalmente comprometido, meu nariz sangra e minhas roupas estão todas rasgadas. Tento limpar um pouco da sujeira que está no canto da meus lábios, mas o reflexo não acompanha meus movimentos, ele nem se quer responde ao movimento da minha boca.
Tento me aproximar do reflexo mas agora ele me observa e começa a rir descontroladamente.
O chão abaixo dos meus pés cede e acabo caindo dentro de uma longa e escura fossa, tento nadar em meio a sujeira para a luz que me parece ser a saída, mas todo aquele líquido viscoso e nojento começa a subir. Não consigo me mexer nem respirar, então apenas paro de tentar e fecho meus olhos.

Uma luz se aproxima do meu rosto me fazendo dar um pulo da cama, de novo olho ao meu redor com a sensação de estar sendo observada por alguém, na dessa vez tudo me parece normal.

- Tome isso para te ajudar na enxaqueca- fala a mulher esticando um copo para mim.

- Qual o seu nome?- falo dando um único gole do líquido, que arranha minha garganta.

- Meu nome não importa, o importante aqui é que está viva e bem. Só mais alguns goles do remédio te farão bem- fala esticando mais um copo em minha direção.

Ao entregar o copo para mim, percebo o quão gelado é o toque dessa mulher, suas mãos possuem veias que saltão por cima do pálido de sua pele. Ela me parece cada vez mais familiar. Seus olhos são em um tom avermelhado, seu corpo é magro e alto.

- Acho que eu terei que me retirar- falo olhando para ela que parece estar mechendo com algumas ervas.

- Por que a pressa, seu irmão já achou pistas nesses últimos dias.

Últimos dias, há quanto tempo estou aqui, desacordada.

- Quanto tempo está cuidando de mim?.

- Cerca de três a quatro dias, é complicado saber em que dia estamos quando não se vê a luz do sol.

- Sinto lhe dizer mas terei que ir, essa missão vale meu emprego, preciso a concluir.

- Bem, sendo assim, recomendo que saia pelos fundos, minha mulher não ia querer saber que trago outra para cá quando ela não está- falo e apenas assinto.

- Eu voltarei aqui pare investigar a roseira novamente, provavelmente com o meu irmão- falo e ela vem em minha direção.

- Não confie nela- fala próxima ao meu ouvido se afastando logo em seguida.

Ela, mas uma pessoa com quem devo me preocupar.

Caminho para fora da grande casa. Minha cabeça ainda dói e continuo me sentindo tonta, mas não posso passar tanto tempo assim na casa de uma estranha. Meu irmão nem fez questão de vir aqui, mas isso já era de se esperar.

Uma forte dor vem na parte interna da minha cabeça me fazendo cair no chão.

Flashback On

- Eu não quero saber de você com outras pessoas, você não foi feita para sair de casa, se não aceitar isso,vou ter que te obrigar a ficar aqui- papai fala apontando para o rosto da minha mãe.

Não era a primeira vez que ele fazia isso, na verdade ele faz isso comigo e com a mamãe. Meu irmão invés de nos defender, só assiste e ri.

- Hannah!- diz quase gritando- Me diz o que você é?, eu não tive uma filha como você para sair por aí falando sobre feminismo e defendendo aquelas bestas.

- NÃO SÃO BESTAS- grito com toda minha voz- são pessoas normais, que amam do jeito normal, então para de os chamar assim.

- Está gritando comigo?- fala e me bate no rosto- Você nunca mais vai gritar comigo, entendeu?- dessa vez não tenho força o suficiente para falar nada, apenas deixo as lágrimas rolarem.

- Filha escuta, eu sei que um dia você será um grande orgulho,reflexo do que eu não pude fazer, reflexo do certo e justo por todos, só preciso que aguente por enquanto, tá bom?- fala me dando um beijo na cabeça.

Dessa vez meu irmão vem em minha direção e começa a me dar chutes na boca do estômago.
O som abafado dos gritos da minha mãe podem ser ouvidos de fundo, me sinto fraca e acabo desmaiando com a visão da mamãe no chão da cozinha em prantos.

Flashback Off

Acordo de mais uma alucinação, decido ignorar mantendo meu rumo ao carro.

𝗠𝗲𝗶𝗮 𝗡𝗼𝗶𝘁𝗲 - 𝐷𝑜𝑛𝑎 𝑑𝑎 𝐸𝑠𝑐𝑢𝑟𝑖𝑑𝑎̃𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora