Capítulo IX - Última investigação

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Um formigamento sobe a partir de meus pés. O simples ato de mobilidade se torna mais complexo. Minha respiração é nula, e meus olhos ardem por não conseguirem se fechar. O som do silêncio cobre minha aura de medo e desespero. Estou sendo encharcada de dúvidas que correm pelo espaço vazio de minha alma.
Passos se aproximam fazendo meus batimentos acelerarem, uma sombra surge ao meu lado, ela não me assusta, só me causa curiosidade. Seu semblante de medo cobre sua face, como se sentisse culpada. Aos poucos ela passa a transparecer, até seu sumiço completo.

Finalmente posso me mover e puxar o ar que faltava em meus pulmões. Me acalmo vendo que a nuvem escura que me cobria se afastou, agora ela se encontra bem distante de mim.

Tento manter uma linha de raciocínio perante à isso, mas não há uma explicação sensata para o que acaba de ocorrer.

Essa será a última vez que quero ter contato com essa cidade, irei procurar a Sra Carrier, e depois disso voltar para casa.

Ligo a chave do carro e dou partida. Talvez as pessoas que moram aqui saibam o endereço dessa mulher, afinal cidade pequena.

Prossigo com minha busca parando algumas pessoas que vejo estar próximas da avenida onde me encontro, mas sempre que pergunto eles negam saber de algo.

[...]
Já fazem horas desde que iniciei minha busca, não consigo descrever sua aparência a ninguém, o que torna a investigação ainda mais difícil.

- Nada ainda?- diz Lilith vindo até o carro. Balanço a cabeça em negação - Quem você tanto procura?, Eu sou a mais esperta daqui, talvez eu saiba quem é.

- Sra Carrier, não existe característica físicas, mas ela me deixou um bilhete e uma rosa vermelha- digo esperando finalmente ter uma resposta.

- Uh, posso ver a rosa?- diz e a entrego.
Ela passa seus pequenos dedos sobre a pétala e depois levanta a cabeça para mim.

- Posso te levar até ela, sei onde ela está agora- diz e meus olhos se enchem de esperança.

- Obrigada- digo já a seguindo. Ela olha para mim e sorri como resposta.

Saltitando com seus sapatinhos, e balançando seu vestido azul, ela corre em direção à uma mulher do outro lado da avenida com cabelos longos e negros, pele branca e pálida.

Ao me aproximar e olhar diretamente em seu rosto, percebo ser a mesma dona do enorme casarão onde havia ficado a alguns dias. Minha surpresa é tanta que nem percebo Lilith puxando minha blusa.

- Essa é a Senhora Carrier- diz e a moça faz uma referência para mim.

- Muitas pessoas tem me avisado da sua constante procura por mim, achei que não concordaria em me encontrar através de meu bilhete. Bem, mas aqui está. Podemos conversar melhor se vier até minha casa- diz ela e ainda permaneço em silêncio.

- Achei que sua esposa não gostasse de visitas como eu- digo quebrando meu silêncio.

- Minha esposa anda ocupada de mais com seu trabalho, por isso garanto que ela não saberá.

- Seja breve, não ficarei por mais de uma noite- digo e ela passa a caminhar em direção a sua casa.

Sinto que ela não está segura de si, mesmo que suas frases mostrem o oposto.

O tempo frio e o céu branco se entrelaçam com a neblina e a ventania. O chão ainda molhado e com poças de d'água abrigam sapos e rãs.

A rosa que ela havia deixado para mim está ficando mucha e seca aos poucos.

Já em frente a casa posso ver a roseira que me fez desmaiar, nela as rosas estão todas mortas, apenas a que eu abrigo em mãos está com seu vermelho vivo.

𝗠𝗲𝗶𝗮 𝗡𝗼𝗶𝘁𝗲 - 𝐷𝑜𝑛𝑎 𝑑𝑎 𝐸𝑠𝑐𝑢𝑟𝑖𝑑𝑎̃𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora