Capítulo XXII - Casa Nova

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Abro meus olhos e os pisco várias vezes.

Eles dominaram completamente minha visão, consigo ouvir seus passos e sentir seus odores, mas eles ainda permanecem invisíveis no meu olhar, sei que estão aqui, e eles sabem que sei, mas ainda assim fingem estarem se escondendo para me causar mais medo, mais agonia, até que eu seja responsável por me enlouquecer.

- Vovó?- digo quando uma pessoa se aproxima- Por favor, diga que é a senhora- falo e uma lágrima escorre pelo meu rosto.

Nenhuma resposta retorna.

Sinto braços envolverem meu corpo e me levantarem.

Pela força de quem me carrega é possível saber que não se trata de minha avó, e sim de um homem que parece ter surgido para ajudar.

Sinto a luz alcançar meus olhos e fazer com que minha pupila recue, mas não consigo ver o sol, ou seja lá o que me ilumina.

Escuto o som dos passos daquele que me carrega se afastando da casa. Seu odor forte e marcante fica Impregnado nas minhas narinas, fazendo-me questionar se estou ainda acordada.

O homem me deixa sobre uma superfície macia, logo em seguida, posso ouvir o que parece ser a porta de um carro batendo.

Um calor se instala no meu corpo, provando que não se trata de uma alucinação.

O ar raso e denso gruda em mim cada vez que uma curva é dada.
Minha cabeça aos poucos volta ao normal, mas minha mente ainda demora a retornar.

- Acha que devíamos leva-la?- a voz de quem senta na frente diz.

- Você deveria ter entregue ela quando teve chance. Agora é tarde, se quisermos nos manter vivos teremos que cuidar dela- o homem que dirige diz.

- O que te faz pensar que ela não nos perdoará?.

- O que te faz pensar que sim?.

A conversa entre eles termina sem uma resposta.

Acho que eles não perceberam que estou acordada.

- Ficamos na casa com ela por um tempo, ela vai ter que nos ajudar.

- E depois?

- Depois vemos se vale a pena deixa-la viva.

O quê?, Por que eles pretendem me matar?, O que fiz a eles?

- Não tenho certeza se ela é útil- o copiloto diz.

- Ela tem que ser.

- Sabe, ela parece estar debilitada mentalmente para nos ajudar, ouvi ela chamar pela avó dela, dentro da casa antes de eu entrar.

- E o que há de errado com isso?

- Aquela casa está abandonada, ninguém mora nela a anos, sem dizer que ela está ferida, nas mãos, nas pernas, no rosto, alguém está na sua procura, e sabe todos os lugares que ela vai recorrer ajuda. Mas ela ainda assim parece não saber o que acontece, como se houvesse um bloqueio mental e...

- Chega Sensa, você sempre entra nesses assuntos mentais desnecessários, ela está muito bem, e falará conosco, agora trate de ficar atento, o cheiro dela está me deixando com fome, e precisamos nos alimentar.

Do que eles estão falando?, E como foi que me encontraram?.

Mais algumas curvas são dadas até chegarmos em algum lugar.

A porta do carro é aberta e o mesmo que havia me colocado no carro me tira dele.

- Vamos logo com isso, a oficina está sem vigia, não quero ser assaltado- fala aquele que dirigia.

Finalmente posso dizer que estou sobrea, mas eles não podem saber, por isso, ainda finjo estar desmaiada.
Eles caminham para dentro de um local sem iluminação e sem móveis, e me deixam sobre o chão sujo e gélido.

Assim que o último dedo do homem solta minhas costas, eu abro meus olhos por inteiro.

Eles se assustam e correm para a porta onde entramos, a fechando e trancando.

- Nem pense em fugir de nós, somos mais rápidos e estamos em maior quantidade.

- E porque eu fugiria?, nem se quer sei onde estou- digo para Honny que me olha de cima a baixo.

- Quando foi a última vez que banhou?- fala coçando o nariz- Sensa leva ela pro andar de cima, ela está precisando de um banho- diz e caminha para um dos corredores do local.

- Perdoe-me por ele- fala Sensa estocando sua mão, a seguro e me levanto.

- O que querem comigo?- falo concentrada nos seus olhos.

- Saberá em breve, mas agora precisa de um banho, nós somos sensíveis de mais quando se trata de odores- diz ele colocando a mão nas minhas costas e me guiando para um dos corredores.

Seja lá do que se trata esse assunto não posso confiar, eles estão dizendo que sou louca, que estou com problemas psicológicos.

Se eles soubessem pelo que tenho passado não me achariam doida.

- Vamos, por aqui- fala e sigo suas instruções.

Fomos até o fim do corredor longo e vazio.

Ele abre uma porta rústica e bonita que dá acesso a um lindo quarto com decoração em ouro, e cores em lilás e azul claro.

- O banheiro fica alí- diz apontando para uma das portas de dentro do quarto- Assim que terminar desça para comer. Suas roupas estão no cômodo ao lado- diz novamente apontando.

Fico parada na porta somente observando o lugar.

- Deve fazer isso agora- diz ele me despertando e me fazendo entrar no quarto.

Em resposta a ele aceno com a cabeça.

Ele sai do quarto deixando a porta fechada.

Esse quarto é surreal, mas não me entra na cabeça o motivo de estar sendo colocada nele.

O que será que querem de mim?

𝗠𝗲𝗶𝗮 𝗡𝗼𝗶𝘁𝗲 - 𝐷𝑜𝑛𝑎 𝑑𝑎 𝐸𝑠𝑐𝑢𝑟𝑖𝑑𝑎̃𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora