Capítulo XIV - Breu

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- É o Matheus- digo e ela se espanta.

- Como é?- diz ela assustada me olhando.

Ela não diz mais nada apenas se afasta mais da sombra e caminha direção a cozinha me levando junto.

A cada passo que damos em recuo ele dá em avanço.

Ela segura forte em meu pulso e me carrega até sua gaveta com velas.

- Aqui pegue uma- diz ela me entregando uma vela prata, uma preta e uma branca.

- O que devo fazer?- pergunto ofegante pelo meu desespero.

- Acenda as velas e as espalhe por toda a casa, a sombra não vai conseguir nos alcançar se estivermos com os pavios das velas queimando.

Faço o que ela diz e espalho vela por toda a casa.

A cada vela acesa um grunhido de dor é expelido da sombra. Aos poucos é possível ver ela fraquejar.

A cor escura e os olhos vermelhos que estavam nos amedrontando começam a clarear ao ponto de enxergarmos através de seu "corpo". Ela se afasta de nós e desaparece em lentidão.

Ficamos em silêncio esperando que algo mais ocorresse, mais nada acontece, até o momento em que ela decide falar.

- Hannah Archer, quero que me explique como pode deixar tal falta de responsabilidade ocorrer ao ponto de seu irmão ter falecido- diz ela com raiva no tom de voz.

- Não sei se estou pronta para lhe contar, mas tem ocorrido muitas coisas que antes só aconteciam quando estava junto a senhora ou a mamãe.

- Ainda assim terá que me explicar- diz ela dessa vez calma- Venha sente aqui- fala apontando para o sofá que estávamos próximas.

Me sentei nele e deitei no ombro de minha vó, procurando conforto no que iria dizer a ela.

- Vovó, a senhora ainda fala com a mamãe?

- Por que a pergunta?- diz ela acariciando meus cabelos por cima da toalha.

- Tenho tido a impressão de estar sendo seguida por ela, mas não de forma positiva- falo deixando uma lágrima escorrer.

- Existe somente um modo de saber, você me contando o que está havendo.

Respiro fundo e começo a falar.

- Eu estava junto a ele quando ocorreu, eu não fiz nada para o ajudar, estava amarrada em uma árvore e quando me soltei ele estava sendo atacado por uma mulher que não consegui ver o rosto, ela o atacou de maneira que não houvesse como ele sobreviver. Talvez se eu tivesse chegado a tempo isso não teria ocorrido- falo deixando mais lágrimas rolarem- Por que para onde eu vou sempre carrego a desgraça comigo? Eu só queria que esses pesadelos que me cercam sumissem logo, mas ao invés disso eles só aumentam- digo em meio a soluços.

- Não se sinta mal por ter que carregar isso contigo- fala ela pegando um dos pingentes do meu bolso- Esse é um objeto que repele o mal daqueles que usam, a pessoa ou o outro ser que lhe entregou eles, deseja te proteger a todo custo- diz e me abraça de lado.

- Consegue manter a calma mesmo tendo desespero no olhar, tenho certeza que não puxei seu lado da família- digo magoada.

- Sendo ou não por conta de sangue, o que te aguarda é grande, visto que eu possa ser, a própria responsável por você ser assim- diz ela e olho fundo em seus olhos.

- Mas quem iria querer me proteger?- digo ainda a olhando.

- Talvez alguém que sinta algo por você, um rapaz ou uma mulher- diz alisando o pingente.

Por um instante decido ficar quieta, apenas inalo o ar e o exalo com calma para que não haja mais um surto interno.

Eu não sei quem poderia estar a zelar tanto por minha vida que me dera três de seus pingentes. Mas ouvindo o que minha vó disse, é realmente possível que seja uma mulher quem me deu, são jóias muito delicadas para um homem.
Ainda assim não me dá a resposta.

- Deve tentar descansar querida, amanhã será um longo dia- diz dando um beijo em minha testa e saindo com uma das velas na mão.

Queria poder falar mais com ela, saber mais o que está havendo, mas ela não vai aguentar ficar acordada por tanto tempo. Terei que saber mais, porém aos poucos.

- Boa noite vovó- digo vendo ela entrar no quarto iluminando o corredor.

Devo descansar, renovar minhas energias, amanhã será um novo dia e não serei perturbada.

Me deito no sofá confortável e macio, e me encolho, em minha mente apenas um vazio paira, mas sinto que ele desaparece pela presença que sinto de minha protetora me guardando.

𝗠𝗲𝗶𝗮 𝗡𝗼𝗶𝘁𝗲 - 𝐷𝑜𝑛𝑎 𝑑𝑎 𝐸𝑠𝑐𝑢𝑟𝑖𝑑𝑎̃𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora