What?!

284 20 3
                                    

Acordei na manhã seguinte quando os raios de sol penetraram a janela e permitiram uma visão perfeita do interior do quarto.

O Marcus ainda permanecia deitado no sofá, a dormir...mas como eu planeava sair dali o mais rápido possível, tinha que acordá-lo.

Levantei-me e fui buscar a minha mala que estava em cima de uma cadeira.

Tirei de lá uma garrafa de água e fui para a beira do Marcus.

Sapiquei-lhe a cara com algumas gotas daquele líquido, o que fez com que ele acordasse aos poucos.

Só não lhe despejei a garrafa pela cara a baixo porque não queria molhar o sofá.

-Jane...o que é que queres?- perguntou, ainda meio a dormir.

-Como hoje estou dispensada das aulas não tenho grande coisa para fazer...mas tu, não devias estar na escola?- disse eu.

-Eu vim levar-te ao hospital e passei cá a noite...acho que isso é desculpa o suficiente...mas agora, deixa-me dormir...

Aninhou-se no sofá e voltou a fechar os olhos.

-Ok...pode ser, mas fica com isto.- devolvi-lhe o telemóvel, já que não lhe tinha dado ontem, devido ao facto de ter adormecido.

Ele pôs o telefone no bolso das calças e perguntou:

-O que é que tu vais fazer?

-Sei lá...mas não vou sair deste quarto...não depois do que aconteceu...- respondi, as imagens daquela senhora vieram-me à cabeça, o que me deu um arrepio.

Ele olhou bem para mim, com uma expressão arrependida, e levantou-se do sofá.

-Anda, vamos embora...- respondeu.

-Mas tu não querias dormir?- perguntei.

-Faço isso quando chegar a casa...- disse.

Eu sorri-lhe, fomos buscar as nossas coisas, e demorou para aí uma hora até termos permissão para sair do hospital.

Eu e o Marcus dirigimo-nos até ao carro dele, que estava no parque de estacionamento, enquanto eu estive inconsciente ele deve ter ido buscar o seu carro.

Quando já estávamos em andamento coloquei o rádio mais alto, dado que estava a dar a minha música favorita.

Sem reparar, comecei a cantar a letra da canção...mesmo embaraçoso!

O Marcus começou a rir-se, o que me fez ficar mesmo nervosa e acabei por parar de cantar.

-Continua...estavas mesmo bem, por favor!- pediu ele.- O teu talento merece ser partilhado com o mundo...ou pelo menos, comigo!

Não sabia se o Marcus estava a gozar, mas com aquele rapaz nunca se sabe...

Desta vez, fui eu que me comecei a rir da figura que ele estava a fazer. Eu estava mesmo a ver que o Marcus ia parar o carro, ajoelhar-se no meio da estrada e suplicar para que eu continuasse a cantar.

-Não sejas bebé!- resmunguei.

-You make me crazy, babe...don't be so mean to me! I like you, you like me, let's stay together! Tell me your deepest dreams because I want to ear them! Honestly...the only thing I ask from you is the same love that I have for you!- começou a cantar.

-Tu estás bem? É que se quiseres, eu não me importo de dar meia volta e levar-te para o hospital...- gozei.

-Mas não gostas da música que inventei para ti?

Revirei os olhos e olhei pela janela, haviam imensas pessoas a passear àquela hora do dia.

-Ahm...podes deixar-me em casa?- perguntei.

-Agora? Primeiro vamos almoçar...- respondeu.

-Vamos?!

-Sim...tu escolhes o sítio.

-Pois...se eu ao menos conhecesse algum...

-A pizzaria? Lembraste...foi lá que nos conhecemos...ia ser divertido!

-É uma ótima ideia...às vezes até me surpreendes com as ideias que saem dessa cabeça.

-Tão engraçada...- declarou o Marcus, sarcasticamente.

Chegamos à pizzaria em apenas dez minutos...estava tudo exatamente igual à da última vez, só os rostos das pessoas é que eram diferentes.

Sentamo-nos numa mesa num canto do compartimento e almoçamos.

Não falamos quase nada, embora a troca de olhares sugerisse que ambos o queríamos ter feito.

Provavelmente amanhã já nem nos iremos reconhecer na escola...a quem é que eu quero enganar?...eu irei lembrar-me...há coisas impossíveis de esquecer...

Saímos do pizzaria e caminhamos um bocado por aquelas ruas movimentadas.

-Posso contar-te uma coisa?- perguntei, quebrando o silêncio que se mantinha entre nós.

-É claro.- respondeu.

-Mas só se prometeres não contar a ninguém...

-A quem é que eu haveria de contar? Não conheço assim tantas pessoas...

Respirei fundo e olhei-o nos olhos, sem parar de andar.

-Sabes, eu sempre pensei que a vida era simplesmente...vida...está tudo planeado, já não existem improvisos, e ninguém corre riscos...as pessoas têm medo de as coisas não correrem como elas querem...mas não somos nós que decidimos se as coisas dão para o certo ou não...é a vida...sempre foi a vida...- disse.

Os meus olhos percorreram cada centímetro do rosto do Marcus.

-Nunca tivemos uma escolha sobre a pessoa que amamos...nunca podemos escolher se éramos mais rápidos, fortes e mais ágeis do que os outros...a única coisa que podemos fazer é tentar...tentar ser melhores do que já somos...e a única coisa que me fez querer viver até agora foi encontrar alguém que tivesse coragem para largar tudo o que tinha e...tentar.- continuei.

-Eu acho que tu és uma dessas pessoas...- respondeu Marcus.

-Não, eu queria mesmo ser...mas não sou suficientemente corajosa para isso...

-Tu ultrapassas os limites do que achas que consegues fazer...irias fazer tudo por todos...e...

-Eu não sou uma dessas pessoas!- interrompi.- Não sejas teimoso!

O meu tom de voz aumentou, o que fez com que algumas pessoas olhassem para nós.

-Calma...não fiques chateada...- pediu Marcus.

-Desculpa...é que incomoda-me que tu penses que eu sou assim tão boa pessoa...não quero desiludir-te...- declarei.

-Hei...não o vais fazer.- acariciou a minha face, a sua mão estava gelada, o que fez com que me afastasse dele.

-Bem...é melhor eu ir para casa...- disse.

-Eu levo-te...- quando o Marcus se estava a preparar para se dirigir ao carro eu agarrei-o pelo braço.

-Vou a pé...não é preciso ires me levar a casa.

-Mas...- tentou dizer.

-Nada do que possas dizer vai me fazer mudar de ideias, agora vai.

-Se precisares de alguma coisa, estou no cinema...

-Ok...até amanhã.- dei-lhe um beijo na bochecha e abracei-o.

Comecei a andar na direção oposta à dele até chegar a casa.

Abri a porta e fui até à sala.

Quando me preparava para sentar-me no sofá, reparei que uma senhora e um rapaz, que eu supus ser o seu filho, estavam lá a tomar café com o meu pai.

Fiquei paralisada...não podia ser...

O rapaz olhou para mim, surpreendido por me ver ali.

E, quando ganhei coragem, exclamei:

-Edward?!

The same thing (Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora