Capítulo 2 - Pesadelo sem sentido

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Minha cabeça começou a latejar durante o pesadelo.

Tudo o que eu via era alguns flashes estranhos. Eu estava num banheiro pouco iluminado me encarando no espelho. Os cabelos estavam loiros, o que era uma péssima combinação. Meus olhos estavam arregalados de medo e mesmo não sabendo a razão, eu ofegava.

Minha respiração embaçou um pouco o espelho, mas não tanto ao ponto de eu não conseguir ver o rastro de sangue escorrendo pelo meu nariz. Comecei a chorar, embora eu não soubesse o motivo para estar chorando.

Meu irmão Alexander entrou no banheiro e desviei o olhar do espelho para encará-lo.

O que tá havendo com você? — quis saber, preocupado.

Q-Q-Quem é você? — gaguejei contra a minha vontade. Era como se o corpo no qual eu estava não fosse controlado por mim. Isso me deu uns calafrios esquisitos.

''Não escute ele. Sei quem você é. Você é meu irmão.'', eu queria dizer, mas aquele corpo não me obedecia. Eu era um espectador ali.

Alex franziu a testa. Minha visão ficou turva de repente e meus olhos reviraram. Senti aquele corpo desabar o chão. Os joelhos se chocaram contra o piso e caí de costas. Não senti nenhuma dor, mas eu podia me ouvir gritando quase como se estivesse morrendo.

Quando acordei, o pesadelo ainda estava fresco na memória e ele parecia queimar de um jeito surreal.

Fiquei um pouco desorientado ao olhar em volta. Percebi que eu estava no carro do Alex a caminho da faculdade. O cinto de segurança apertava um pouco a minha barriga. Engoli em seco, demorando pra processar aquele pesadelo sem sentido.

Sempre que eu pegava no sono, aquelas cenas me assombravam como um filme de terror. Meu cabelo naquele mesmo tom loiro horroroso que eu nunca usaria se tivesse o mínimo de sanidade e falando com as pessoas ao meu redor como se não as reconhecesse.

Eu não entendia bulhufas porque a cada pesadelo novo, mais bizarro tudo ficava.

— Outro pesadelo? — perguntou Alex ainda focado na estrada. — Sério, você precisa ver isso, Evan. Nunca pensou em ir ao médico?

— Não enche, Alex. — Passei a mão na testa com frustração. A enxaqueca era sem dúvida a pior parte. — Ir ao médico porque tenho pesadelos é o cúmulo.

Levantei a camiseta e toquei o círculo azulado em meu quadril, estava morno. Toda vez que eu tinha esses sonhos esquisitos, a cicatriz estranha esquentava por alguma razão parecendo queimar a minha pele. Alex tinha uma parecida só que era vermelha e por isso dava pra disfarçar melhor do que a minha. Por mais que fosse do tamanho de uma moeda, ela de certa forma deixava meu corpo menos perfeito.

Inflei as narinas e abaixei a camisa com raiva. Eu detestava encarar aquela bendita cicatriz, tanto que meu humor na maioria das vezes ia para o espaço quando eu me atrevia dar uma espiadinha nela.

Ethan dizia que ela era linda, que me tornava especial, único ou alguma coisa brega do gênero. Já eu mal podia esperar para ter dinheiro o suficiente pra tirar aquela porcaria numa cirurgia. Deus me livre passar a vida inteira tendo aquela deformidade no quadril.

Soltei o ar pela boca e apertei de leve o colar que ganhei do Ethan em um dos meus aniversários. Achei o presente meio idiota. Eu usava por pura consideração ao Ethan e também porque eu ficava ainda mais gato com ele no pescoço.

— Como está o Ethan? — Alex questionou como se estivesse lendo a minha mente.

Revirei os olhos e abri o espelho embutido no carro pra poder ajeitar meu cabelo, que pra variar estava meio rebelde.

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