Parei diante do meu armário tentando me lembrar da droga da senha, mas a ilustre presença de Davi Marlbore fez com que eu perdesse um pouquinho a minha linha de raciocínio.
Pela primeira vez em muito tempo, o rapaz não estava usando roupas estranhas dignas de um missionário. O cabelo estava desarrumado e aquele verde em seu olhar me deixaria caidinho se eu não achasse meus olhos mais bonitos.
— Oi. — Abri o meu melhor sorriso sedutor, mas por alguma razão não deu muito certo.
Geralmente Davi ficava vermelho quando eu sorria daquele jeito, mas tudo o que o garoto fez foi revirar os olhos pra mim, o que achei um absurdo. Ninguém em sã consciência revirava os olhos pra mim.
— O que foi? Brigou com a namorada? — provoquei porque eu sabia que ele estava namorando a Bianca, que era uma garota bonita que atraía a atenção de boa parte do time de futebol.
— Não enche, Evan! — rebateu com raiva demais para o meu gosto.
Decidi deixar pra lá porque o pai dele era tão lunático e paga pau do presidente que nem me surpreendia o filho ter acordado de mau humor.
Abri o meu armário assim que lembrei a senha e decidi ignorar o Davi como troco por sua ignorância. Não demorou muito pra que ele vazasse dali pisando duro como um esquentadinho.
Tive vontade de soltar um palavrão só de revirar aqueles livros pesados de Direito. A verdade era que eu detestava aquele curso e só mergulhei de cabeça nele pra agradar o meu pai.
Fábio Tramontini era a única pessoa do universo que conseguia me dar medo de verdade. Sempre me esforcei para suprir as expectativas absurdas dele, porém Alexander ainda era o menino de ouro do papai.
Isso me dava nos nervos? Com certeza, mas eu tentava não pensar muito nisso até porque era decadente ter inveja de alguém inferior a mim. Ainda assim, me incomodava tentar e nunca obter a aprovação de Fábio pra nada.
Como se não pudesse piorar, meu pai também era o juiz responsável por dar a pena aos homossexuais. Portanto, eu tinha que andar na linha porque conhecendo o meu pai, ele não seria tão bonzinho comigo em me dar a chance de esquecer através da manipulação mental.
— Evan. — Uma voz feminina fez com que eu calasse meus pensamentos na mesma hora. Fechei o armário num estalo e decidi que mataria aula porque naquela altura do campeonato, eu não estava nem aí pra educação.
— Oi, Naomi. — Ofereci para ela o meu sorriso sedutor e fiquei satisfeito ao ver meu charme funcionando como sempre, deixando-a vermelha feito um tomate. Com as garotas dava mais certo, o que era meio triste já que sempre fui gay.
— Vai estar livre depois da aula? — perguntou ela como se tivesse alguma chance comigo.
— Não — menti porque não queria parecer grosseiro. Mesmo sabendo das minhas preferências, Naomi continuava insistindo como se por algum milagre divino eu fosse acordar hétero. — Tenho que ir ao médico — continuei, feliz por ter encontrado uma verdade na qual me agarrar. — Fica para uma próxima, meu anjo.
— Meu anjo? — disse alguém atrás de mim e nem precisei me virar para saber que era Ethan pronto pra me fazer perder a paciência mais uma vez. — Eu não sabia que vocês estavam tão íntimos assim. — Dava pra notar o ciúme escorrendo em seu tom, o que me fez revirar os olhos por tédio.
— Pois estamos — decidi provocá-lo um pouco. — Inclusive, vou sair com ela — soltei, já me arrependendo assim que as palavras saíram. Porém, eu não podia voltar atrás. Evan Tramontini não voltava atrás em nenhuma decisão, isso era coisa de fracote. — Amanhã depois da aula. — Dei uma piscadela pra Naomi, que ficou toda derretida como já era de se imaginar.
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Love Yourself [DESGUSTAÇÃO]
Bilim KurguPLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. 🏆VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2022 NA CATEGORIA FICÇÃO CIENTÍFICA🏆 Evan Tramontini sempre foi narcisista ao extremo. Após uma série d...