Capítulo 6 - Hipnose sem sentido

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— Está me ouvindo, Evan? — A voz de Yago ecoou parecendo muito distante de onde eu estava, embora eu soubesse que estava deitado naquele sofá ridículo.

— Sim — respondi de um jeito meio robótico.

Havia uma escuridão tão apavorante ao meu redor que ela parecia estar lentamente me engolindo. Eu podia sentir a minha pulsação latejando na garganta de um jeito surreal. Todo o meu corpo parecia cansado e pesado. A combinação não me fazia muito bem.

— O que está vendo? — quis saber e fiquei um bom tempo em silêncio porque tudo o que eu via era a tal escuridão mórbida.

Porém, aos poucos uma imagem de uma porta foi se formando. Ela era de um tom de bege horroroso. Descrevi para Yago da melhor forma possível e o som da minha própria voz soou estranha aos meus ouvidos. Eu estava consciente só que ao mesmo tempo me sentia nadando num transe pra lá de esquisito.

— Abra a porta — instruiu e nem pensei duas vezes antes de alcançar a tal maçaneta.

Tentei girá-la, mas algo me empurrou para longe dela.

Na verdade, alguém me empurrou.

Arregalei os olhos ao ver o Evan loiro que me dava náuseas bloqueando a droga da porta. Ele estava com uma aparência desleixada e por alguma razão evitava o meu olhar e só encarava o chão.

— Não abra a porta, por favor — pediu o Evan oxigenado e nada naquela voz derrotada se parecia com a minha. Até mesmo o meu timbre suave e único tinha se perdido.

— Preciso abrir — murmurei sem saber se eu estava ou não dizendo aquilo em voz alta ou só mentalmente. Era uma sensação bizarra.

— O que está acontecendo? — O tom rígido de Yago pareceu ecoar em cada centímetro do meu corpo ao ponto de eu sentir calafrios subindo pela minha espinha.

— O Evan não quer me deixar abrir a porta. — Me senti ridículo falando de mim na terceira pessoa, mas eu me recusava a me associar a uma pessoa tão decadente quanto aquele cidadão diante de mim.

— Posso falar com ele? — questionou Yago e senti minha testa franzir sem entender bulhufas de como ele conversaria com alguém que só existia na minha cabeça.

— O Yago quer falar com você — soltei com um ar debochado porque eu estava quase acreditando que Yago tinha colocado alguma droga no ar daquele consultório porque as coisas estavam caminhando para um fluxo completamente sem pé e nem cabeça.

O outro Evan se aproximou de mim ainda sem me encarar e tocou de leve meu ombro. Seu toque formigava e senti os pelos da minha nuca se arrepiarem com o atrito daquela pele macia em contraste com a minha. Era uma sensação tão boa que me aproximei dele um pouco mais.

De repente, algo gelado pareceu ser injetado na minha corrente sanguínea. Fechei os olhos e até mesmo as batidas do meu coração pareciam espaçadas demais. Por um instante, deixei de acreditar que estava mesmo vivo.

Num passe de mágica, o outro Evan tinha desaparecido.

— Pode falar, Yago — me ouvi dizer, senti meus lábios formando aquelas palavras, mas eu não podia controlá-los. Era desesperador.

Eu queria socar alguma coisa ao entrar em pânico, só que eu parecia não ter mais um corpo. Tentei gritar, mas a minha própria voz não me pertencia mais.

— Evan? — questionou e achei aquela a pergunta mais idiota do mundo porque querendo ou não, nós dois éramos o Evan.

— Pode me chamar de Sebastian — disse o invasor infeliz que roubou meu corpo. Por que diabos ele escolheria usar o nome do meio que eu detestava? — Não atendo mais por Evan. Esse nome não me remete a nada de bom.

Love Yourself [DESGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora