— Você tá mesmo bem? — perguntou Ethan assim que ligou o carro e começou a dirigir. — Está bravo comigo? Se foi alguma coisa que eu disse...
— Não foi e não estou bravo. — Tentei me ajeitar no banco, mas nada feito. Meu corpo parecia ter sido atropelado por um ônibus. — São os pesadelos. — Passei a mão na testa frustrado com a dor aguda que parecia esmagar meu crânio. — Estão piorando.
— Ah, meu amor. — Apertou de leve a minha perna e tive uma vontade louca de vomitar. Eu achava muito tosco esses carinhos excessivos de casal e os apelidinhos melosos. — Você vai melhorar.
— Talvez seja o cansaço ou algo assim. — Forcei um sorriso e afastei a mão dele da minha perna porque não fazia sentido ele ficar se esfregando em mim quando nem estávamos trepando. Tinha hora pra tudo e quando eu não estava praticando um sexo selvagem, eu preferia manter distância das pessoas. — É isso ou estou ficando louco. Tenho medo de ir ao médico e descobrir que a única saída é passar a vida inteira num hospício.
— Eu não deixaria que te levassem para o hospício — murmurou com um ar protetor que me fez revirar os olhos.
Eu gostava muito do Ethan, mas me irritava essa necessidade dele de transformar o que tínhamos num relacionamento monogâmico. Nunca acreditei em monogamia. Por que transar com um se eu podia pegar todos?
Franzi a testa assim que vi a minha echarpe amarela dando sopa ali no carro. Agarrei-a, entrelaçando em meus dedos e passando ao redor do meu pescoço. Achei bem estranho ela estar ali e não no meu guarda-roupa onde era o lugar dela. Eu tinha várias daquela mesma cor porque a vovó fazia para todos os netos antes de ela morrer. Eu e meus primos tínhamos um carinho muito grande pelas echarpes, era coisa de família.
— Você esqueceu ela no meu carro — respondeu à pergunta que não fiz em voz alta. — Amarelo combina com você.
— Tudo combina comigo. — Dei de ombros com indiferença.
Ethan apenas esboçou um sorrisinho e balançou a cabeça. Soltei o ar com força pela boca assim que ele estacionou o carro em frente ao hospital.
— Valeu por me trazer, mas eu assumo daqui. — Destravei o cinto e fiz menção em abrir a porta, mas Ethan não deixou que eu saísse tão facilmente. É claro que não! Sem dúvida ele faria mais algum sermãozinho de quinta.
— Q-Q-Quer sair comigo? — perguntou gaguejando como se estivesse muito nervoso de uma hora pra outra.
Apertei os lábios sem conseguir processar o pedido nada agradável.
— Saímos hoje de manhã — falei sem rodeios. — Foi ótimo, tirando a parte do travesseiro que você jogou na minha cara. — Tentei fazer com que ele se sentisse culpado, mas nada feito.
Ethan me encarava com uma adoração além do normal. Claro que era ótimo ser amado daquele jeito, mas eu odiava as cobranças que vinham com aquele sentimento. Nunca me apaixonei justamente porque eu nunca conseguiria olhar daquele jeito pra ninguém. Jamais idolatraria outra pessoa além de mim. Não existia metade da laranja pra alguém que já nasceu inteiro.
— Não estou falando de sexo. — Pareceu bem triste, o que faria com que eu me sentisse culpado se eu não estivesse certo em cogitar aquilo. Os caras só iam atrás de mim porque queriam me comer e eu nem podia culpá-los. Era apenas uma das vantagens de ser irresistível. Poucos tinham esse privilégio. — Eu só queria passar um tempo com você.
— Eu passo esse convite — soltei antes que ele se aprofundasse muito em seus motivos. Eu não queria ficar ouvindo aquela ladainha de amor. Pra mim, amor era a coisa mais idiota já criada. Perder tempo amando qualquer um que fosse era o auge do fracasso.
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Love Yourself [DESGUSTAÇÃO]
Ciencia FicciónPLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. 🏆VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2022 NA CATEGORIA FICÇÃO CIENTÍFICA🏆 Evan Tramontini sempre foi narcisista ao extremo. Após uma série d...