009 - Convite Irrecusável

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O amigo de Fercho cumpre com a promessa e de fato manda um carro nos buscar. Um Cadillac Escalade para ser mais específica. E não um, não dois, mas três seguranças ao nosso encalço. Me sinto como se estivesse indo para uma festa de gala digna da Vogue.

O percurso até a boate é tranquilo. O clima está meio estranho então todos resolvem ficar quietos, chega a beirar o constrangimento. Mas em parte fico agradecida, pois qualquer coisa é melhor do que a voz aguda de Nathalia.

Ao chegarmos na rua por detrás da Éden, os seguranças nos acompanham até uma enorme porta de metal, que está escancarada. Um rapaz de cabelo cor de rosa chamativo está escorado na parede ao lado, mexendo no celular meio impaciente. Ele não está de fantasia e sim vestido com um terno vinho escuro, que acredito eu deve valer muito.

Ele levanta a cabeça ao nos ver e abre um grande sorriso ao se deparar com Christian.

— Diego! — berra Chris, se aproximando do amigo.

Eles trocam um aperto de mão e Diego logo passa o braço por cima do ombro de Fercho, guiando-o para dentro.

Ucker os segue, e as meninas e eu o imitamos. Passamos por um corredor com carpete vermelho no chão, típico das salas de cinema, e iluminado apenas por umas fitas de led no roda-teto, antes de chegarmos a uma escada que leva para o subsolo.

Diego para e se volta para nós.

— Olha, como vocês bem sabem, tem muita gente de menor aqui — diz ele. — Então, por favor, nada de comentarem algo com os amiguinhos do colégio, essa é uma festa para pessoas... selecionadas. O celular de todos vocês vão ser confiscados pelo segurança, mas relaxem, vocês vão receber um saquinho onde vão colocar seus dados para pegarem depois. Vou ter que resolver um probleminha, mas volto dentro de algumas horas para me juntar a vocês. Boa festa.

Dito isso, Diego acena para nós e volta pelo mesmo caminho que percorremos agora a pouco.

Nathalia toma a iniciativa e avança em direção ao lance de escadas, acompanhada por Amanda.

— Do nada estou com um pressentimento terrível — comenta Maite.

Não sei ao certo o motivo, mas me sinto da mesma forma, então cenas da festa na praia surgem na minha cabeça como um raio, e só aí me dou conta de que é a primeira festa em que eu venho desde o ocorrido. Uma onda de pânico me domina e tudo a minha volta começa a ficar embaçado. Acho que vou vomitar.

Me agacho no chão e cubro a minha cabeça com o capuz da fantasia.

— Mas que diabos... — Amanda grunhe.

— Anny — ouço a voz de May, mas não sinto vontade de levantar.

Ela vem até a mim e abaixa para ficar na minha altura, então põe a mão cuidadosamente sobre minhas costas e pergunta baixinho o que está acontecendo.

Não quero falar.

Primeiro que se eu abrir a boca a chance de eu começar a chorar é de 99 numa margem de 100, o que vai ser um desastre já que vou borrar toda a minha maquiagem. Segundo que eu não me sinto íntima o suficiente dela para falar da festa na praia, de Zen e tudo o que eu senti depois do que aconteceu.

Ucker se aproxima da gente e também se abaixa. Ele diz para as meninas irem na frente com Fercho que chegamos em alguns instantes. Nem precisei olhar para saber o quanto Nathalia ficou azucrinada, mas mesmo assim obedeceu ao pedido dele e partiu com os demais.

— Acho que uma água vai te fazer bem — sugere May.

Fico grata por sua preocupação, contudo a única coisa que eu quero de verdade é ficar sozinha. Obviamente não digo isso a ela.

— Não, obrigada.

Respiro fundo uma, duas... cinco vezes e enfim tomo coragem para me levantar.

Ucker está me fitando meio preocupado quando vira a cabeça e olha meio que sem entender para algo ou alguém atrás de mim.

Me viro e me deparo com Alfonso, vestindo jeans, uma blusa branca por dentro da jaqueta de couro, e de Jordan's nos pés.

— Onde você se meteu, hein? — indaga May quando o mesmo se aproxima.

Ele a ignora e passa reto por nós, nem sequer se da o trabalho de olhar em minha direção, e para de frente a Ucker.

— Tudo resolvido — começa a falar, mas para quando vê que estamos atentas a ele. — Conversamos melhor depois.

Ucker assente e puxa do bolso traseiro uma pulseira idêntica a que estamos usando.

— Só pode entrar com uma dessas.

Poncho a pega e a põe no pulso, depois passa o braço por cima do ombro de Ucker, igual Diego fez mais cedo com Fercho, e segue rumo a escada.

— Hoje promete.

***

Duas horas depois estou com uma Maite depressiva no bar. Estamos sentadas de frente para o balcão enquanto o barman enche nossas taças de martine pela... sei lá, décima vez? Parei de contar na sexta.

— Ele vai encontrar uma mulher mais madura, não vai, Anny? — choraminga ela, virando a taça de martine goela abaixo. — Qual é, nem podemos sair direito.

Não sei o que falar.

Em tese eu deveria agir como uma amiga de verdade e lhe mandar a real, que o que ela está falando tem muita chance de acontecer e o melhor que ela pode fazer por ela mesma e até por ele, é deixar essa história de lado.

É o que eu faço? Não, porque sou uma covarde.

— May, você tem que pensar que se ele realmente gosta de você, de alguma maneira vocês vão fazer dar certo.

Ela assente com a cabeça mas continua na mesma. Resolvo puxa-la para dançar.

À princípio May recusa, mas depois de uns minutinhos de insistência da minha parte, ela se da por vencida e me acompanha até a pista de dança.

Seria cômico se não fosse trágico, o fato de eu tentar consola-la quando na verdade eu mesma estou um trapo por dentro.

Me sinto sufocada pelos jatos de fumaça que vez ou outra são lançados no meio da multidão; os confetes caem o tempo todo no meu olho e as pessoas suadas esbarrando em mim me deixam agoniada, porém May parece mais relaxada e isso me dá um pouco de paz.

Instantes depois os meninos se juntam a gente. Ucker ao que parece conseguiu despistar Nathalia, pois está dançando com uma loira cacheada fantasiada de leoa.

— A Nath vai surtar — May diz para mim e para Fercho, que ri antes de se virar para uma morena de olhos azuis próxima de onde estamos.

Sinto um par de mãos deslizando pelo meu quadril em direção a minha cintura. Um arrepio percorre minha espinha quando Alfonso sussurra o quanto estou gostosa.

Ele cola nossos corpos e começa a dançar grudado a mim.

May abre um sorrisinho malicioso em nossa direção e puxa Fercho para o meio da multidão, ele parece meio contrariado pois ainda está falando com a morena, mas quando olha para mim e para o amigo, aceita ser guiado por Tita.

— O que acha de irmos para um lugar mais reservado e terminarmos o que começamos no banheiro do seu quarto?

— Acho que é um convite irrecusável.

Depois do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora