008 - Segredos

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Subo para o primeiro andar e, já trancada num dos banheiros, substituo minha jardineira por um biquíni cortininha listrado. Guardo minhas coisas na mochila e volto para o andar inferior, onde encontro todos dispersos pela sala, inclusive Alfonso, que está sentando no sofá com os pés apoiados sobre a mesinha de vidro ao centro.

Noto que a barba está um pouquinho maior, como se ele estivesse esquecendo de apara-la, assim como o cabelo, formando alguns cachinhos escuros na ponta. É tão charmoso que chega a ser cruel. Meu Deus, detesto esse homem.

Ele me olha dos pés a cabeça enquanto passo por Fercho e Amanda e ponho minha mochila sobre uma das poltronas.

— Que clima de enterro.

Fercho assente, concordando comigo, e logo chama todos para irmos até a área externa.

Ele, Ucker e Poncho levam os coolers para fora, e as meninas e eu ficamos encarregadas de levar as sacolas com os petiscos.

Observo que Amanda e Ambre nem sequer se olham, muito menos chegam perto uma da outra, e começo a pensar que se trata de algo bem mais sério do que uma briguinha de irmãs, como o Ucker tentou colocar. Não costumo ser tão curiosa, mas eles transbordam um ar de mistério tão intenso que me deixa muito intrigada.

Avançamos pelo corredor e pela cozinha e atravessamos a abertura da porta deslizante de vidro para enfim chegarmos até o deck acoplado a piscina em forma de círculo, onde habita uma espécie de bar ao centro; duas pontes de madeira ligam da margem até o centro. Há algumas espreguiçadeiras distribuídas pelo espaço, cada par parece ter sua própria mesinha com guarda-sol.

Nathalia estende uma toalha verde-água em uma delas e se deita, direcionada ao sol. Amanda senta numa beirinha deixada pela amiga e começa a espalhar óleo de bronzear pelo corpo.

May, que até então está estranhamente quieta, senta numa banqueta próxima ao balcão da churrasqueira que fica no deck. Parece cabisbaixa.

— E aí, Tita. — Digo quando me aproximo o suficiente para que ela consiga ouvir sem eu ter que gritar.

— Oi, amiga.

Ela apoia os cotovelos no balcão atrás de si e me lança um sorrisinho fraco, sem vontade.

— O que houve?

May abre a boca por um segundo, como quem vai falar algo, mas parece pensar melhor e a fecha, depois da de ombros e fala que vai pegar cerveja para nós duas.

Olho de relance para Alfonso e percebo uma troca de olhares entre ele e Ambre. Poncho tem uma expressão meio inquieta, enquanto a outra esboça um sorriso melancólico, semelhante ao de Maite.

— Puta que pariu! — berra Fercho, chamando a atenção de todos para si.

Ele e Ucker estão um do lado do outro, ambos mexendo na churrasqueira numa tentativa falha de fazer fogo.

— Esse troço não deveria ser automático? — indaga Ucker, o que só faz deixar Fercho mais nervoso ainda.

— Ucker, em nome do nosso senhor Jesus, se você não quer que eu arranque sua língua e a asse para o almoço, fique quieto!

Ucker levanta as mãos em sinal de rendição e parte em direção oposta a Fercho, que só consegue acender o bendito fogo uns quarenta minutos depois.

Nesse momento, May e eu dividimos uma long neck sentadas na borda da piscina, apenas com os tornozelos submersos na água. Ela está gravando alguns stories para o Instagram quando Alfonso emerge bem na nossa frente.

Depois do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora