Capítulo 18

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As três semanas seguintes foram exaustivas. Todas as tardes, sem excepção, Amren e eu treinávamos a minha magia e ocasionalmente, Rhysand e Azriel apareciam para ver algum tipo de progresso. Nunca existiu nenhum, não depois de quase ter matado a imediata no primeiro dia. Mesmo assim, Amren era insaciável e persistente. Todos os dias me atacava tão fortemente que só a cura rápida de poder illyriano me salvava. Num dos combates com Rhysand percebemos que a minha herança de illyriana era mais intensa do que anteriormente e que, tal como Cassian e Azriel, também eu tinha um poder letal. Todos eles acharam que devia também usar sifões mas recusei, várias vezes.

Os dias eram todos iguais. Treinos matinais com Devlon e o restante dos illyrianos todas as noites convívios com Az na taberna habitual – onde normalmente jantávamos e debatíamos as novidades de Beron e ténicas para evitar a futura guerra. Eu fingia que não estava com medo e que não tinha passado a carregar cinco adagas, todas elas escondidas, para qualquer lugar que fosse e, se o Mestre Espião percebeu, sabiamente, nunca tocou no assunto.

Hoje, Azriel ajudou Amren a treinar, sobretudo em como controlar e manipular as sombras, algo que eu não precisava de ajuda, como ressaltei mais de quatro vezes. Depois da frustração habitual da Grã-Feérica em não conseguir que eu criasse qualquer ilusão, decidimos vir diretamente para a taberna jantar mas Amren preferiu ir para casa onde Varian a esperava. Estava a colocar uma fatia de queijo na boca, quando Azriel falou:

- Sem tocar num ponto sensível, achas que só quando estás com raiva é que consegues criar realidades diferentes?

Engoli, fitei-o com o olhar e respondi:

- Primeiro, são mais uma espécie de ilusões e Rhysie acha que só as crio quando me sinto mesmo ameaçada ou em perigo o que, com nenhum de vocês, acontecerá.

- Não te sentes ameaçada connosco, é isso?

- Exatamente.

Foi a vez de Azriel começar a comer e eu aproveitei para saborear o vinho. Nas últimas duas semanas, passamos todas as noites a conversar e a fazer companhia um ao outro, uma forma que arranjamos de não pensar em tudo o que podia ou não acontecer. Ele não falava de Gwyn mas eu sabia que se continuavam a encontrar e surpreendia-me que os nossos encontros nunca fossem desmarcados.

Ele olhou para mim enquanto mastigava e depois desviou o olhar para o empregado para pedir mais comida. Era naqueles momentos e por frações de segundos que entendia o porquê de tanta gente suspirar quando ele passava. Machos e fêmeas. Era algo no olhar e na maneira como a mandíbula se mexia sempre que falava, aquelas feições perfeitas que traçavam as maçãs do rosto e os olhos cor de âmbar que pareciam derreter quando ele sorria. Ou, talvez, fosse o ar misterioso que o envolvia. A forma como ele passava a mão pelos cabelos e os puxava sempre que queria dizer algo e concluía não o fazer. Tudo isso, junto, tornava o meu melhor amigo um dos machos mais cobiçados de Velaris e um dos mais temidos, também.

⁃ Em que é que estás a pensar? - perguntou enquanto servia mais vinho para ambos.

⁃ Nada. - Ele arqueou uma sobrancelha e fez um olhar fulminante, um que eu jurava que excitaria a maioria das pessoas. - Pára de me olhar assim.

⁃ Ok. Então diz-me o que é que estavas a pensar. - Ele estava a levar mais um pedaço de pão à boca e gesticulou para eu continuar.

⁃ Estava a pensar, Azriel, que percebia porque é que tanta gente te olha como se te quisesse levar para a cama. É essa atitude toda. – Fiz um gesto na direção dele. – Não preciso de entrar na mente da feérica na mesa do fundo para saber que daqui a uns minutos se vem meter contigo.

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