Capítulo 19

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A náusea tomou conta de mim quando Eris mencionou Ganthul, a mão do rei Hybern e que, aparentemente, e uniu a Beron para tomar Prythian como sua. O fim da guerra foi um alívio tão grande para todos que ninguém pensou que matar o Rei significaria não matar os seus ideais, mas ainda lhes oferecer um bónus de motivação: a vingança.

Ganthul era destemido e cruel, esteve em todas as minas sessões de tortura a deleitar-se com o sofrimento quando não era o seu criador. Era um dos maiores apoiantes Guerra e, ao que parece, sobreviveu para se aliar a Beron.

- É em Hybern que eles escodem o exército para a guerra, maior do que podes imaginar. E eles vão usá-lo e invadir, Corte a Corte. – Eris tinha demonstrado ao pai qualquer interesse pelos seus planos e foi tudo o que Beron lhe adiantou e prometeu, Prythian.

- Ele tomou a Corte Primaveril. O que fez com o povo? O que fez com Tamlin? – Nada fazia sentido.

- Tamlin ninguém sabe dele. O povo está preso, naquela que, segundo o meu pai, será a prisão Real, em Sob-A-Montanha. – Um terror quase discreto percorreu a cara de Eris, como se sentisse, ainda, os terrores que foram feitos por Amarantha lá.

Ir até Hybern era demasiado. Não podíamos ir de encontro a um exército cruel cuja dimensão era desconhecida. E Beron podia demorar meses, anos, ou até décadas, para invadir qualquer outra Corte. Aguardar para nos deixar desleixados e menos defensivos. Podia demorar décadas de intervalo – criando o pânico em todos. Mas Tamlin podia ser uma força extra se tivesse disposto a recuperar a sua Corte de volta.

Olhei para Eris que continuava sentado à minha frente, olhando para o mapa fixo na parede, como se avaliasse os danos que o próprio pai causava.

- Sabes, raposinha, há uma coisa que não entendo. – Ele elevou uma sobrancelha e o seu olhar disparou na minha direção. Uma pergunta silenciosa. – Porque é que devias de denunciar o teu pai se, ele for bem-sucedido, serás o herdeiro não de uma Corte mas de um Continente?

Um sorriso mortífero apareceu no seu rosto e, por momentos, receie o rumo da conversa.

- Porque, princesa, a Corte Outonal ainda pode ser salva mas, se o meu pai governar toda a Prythian, não restará nada, nenhuma Corte, nenhum povo, nada valerá a pena ser salvo. – Ele olhou para mim e quando os nossos olhos se cruzaram eu senti a sinceridade das palavras e nada me restava a não ser assentir perante a declaração, ele assentiu de volta e colocou-se em pé. – Contei-te o pouco que sabia mas espero que cumpras com a tua promessa.

- Lutarás contra o teu pai se o momento chegar? – A pergunta saiu disparada, mas havia um limite e eu precisava de saber qual era.

- Para salvar a minha Corte, lutarei contra ele até ao fim.

Sem me levantar apontei para a porta. – Acho que sabes o caminho, raposinha.

Com a maior graciosidade do mundo como se não tivesse acabado de dizer que Beron tinha quase todas as chances de ganhar a guerra, ele seguiu, mas parou quando chegou à porta virando-se, novamente, para mim.

- Todos choraram a tua morte. – Uma pequena pausa enquanto tomava uma longa respiração antes de me olhar nos olhos. – Mas havia um alívio em todas as cortes. Um alívio porque todos temiam o teu poder, os teus ideais e a tua vontade de mudança.

- Eu nunca herdaria a Corte Noturna, o poder sempre escolheria o Rhysand. – Foi tudo o que disse.

- Governar é muito mais que ser poderoso. – Ele voltou a olhar para a porta e acrescentou. – Mas a Corte Noturna sempre foi muito pequena para ti. – E saiu.

Corte de Poeira e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora