Indecifrável

CAPÍTULO 1

* OITO MESES ATRAS

- Hei, o que vai fazer sábado à noite? - Perguntou Lindsay me cutucando.

- Vou estar ocupada! - respondi prontamente, sem nem pensar. O que também devo acrescentar não é mentira, pois realmente estarei ocupada. Sim. Fazendo exatamente as mesmas coisas de sempre, eu sei. Mas esse é meu ritual sagrado nas noites de sábado. Começo por um maravilhoso banho, no qual eu adoro ficar lendo até a pele dos meus dedos ficarem completamente enrugados e a agua completamente fria e sem mais nenhum vestígio de espuma. Na sequência parto para a minha obsessiva limpeza de pele semanal, depois pinto as unhas e por último, mas não menos importante, termino com enorme pote de sorvete de baunilha.

- Ritual de sábado? - perguntou revirando os olhos.

- Se você sabe o que vou estar fazendo, por que pergunta? - era obvio que ela sabia o que estaria fazendo, ela só me conhece desde a terceira série.

- Neste sábado não. Vamos a festa da Miranda! - declarou toda empolgada - A uma festa da Miranda! Sabe que esperei ser convidada a quase um ano!

- Sei, e não estou afim. - desculpa por esse balde de agua fria, mas sei que deve ser emocionante ir a uma festa na casa da Miranda, mas eu não estou afim. - Você sabe que por mais eu ame você eu não irei a uma festa dela.

- Por favor Hayley. Faça isso por mim como presente de aniversário. - pediu com um gesto de suplica fazendo a cara de um cachorrinho abandonado. Muito contrariada, não tive como negar essa chantagem tão miserável.

- Uma hora. Não vou ficar nem um segundo a mais. E passe na minha casa as oito horas.

- Obrigada, você é a melhor amiga. - explodiu ela em gritos me dando um abraço esmagador.

- Eu sou a única melhor amiga que você tem!! - Ótimo, cai mais uma vez na armadilha da Lindsay, ela sempre faz dessas e eu sempre caio. Maldito círculo vicioso.

São sete e vinte e três e eu não sei o que usar. Não tenho um armário fabuloso como a Lindsay, mas consigo me virar como o que possuo. E o que eu deveria usar numa ocasião dessas? É formal, informal? O que adolescentes de 16 anos usam? Não ligo muito para a moda, na verdade sempre fui bem básica e pratica para roupas. O segredo? Simples, use o que você acha que fica confortável. Minha mãe diria, porque você não põe um vestido, faça uma maquiagem, ajeita esse cabelo, você é tão linda, se mostra e todas essas asneiras. No real, gosto do meu estilo e é com esse que eu irei. Uma camiseta, calca jeans e tênis. Ainda sobraram vinte minutos. Tempo que usei lendo esperando a Lindsay na entrada de casa.

Do momento em que entrei no carro, até saímos do taxi, fiquei submersa em meus pensamentos, fingindo ouvir atentamente qualquer coisa que Lindsay balbuciava. Entenda, não faço isso por mal e tampouco signifique que não dou importância ou não goste dela. Não!! Isso nunca, só é uma coisa que faço, aparentemente sempre sem perceber. Mergulhar em meus próprios pensamentos e me auto excluir do mundo real. O que eu penso quando estou dentro da minha cabeça? Bem isso é muito complicado até para mim mesma explicar. Onde parei? Há sim, Lindsay e seu monologo.

- Não acho que seja uma boa ideia Lindsay, viu o tanto de gente que tem para entrar? - odeio multidões, não tenho nenhum trauma ou fobia, só não gosto da ideia das pessoas esbarrando ou respirando em cima de mim, com seus corpos e odores. Arrg, Isso é nojento.

- E daí? Nos shows a multidão é maior e você não reclama. - esse golpe foi muito baixo, não havia possibilidades de discutir com isso. Show é show, festa é festa.

- Quem vai tocar? - talvez saber qual a banda que irá animar a festa facilitasse a minha estadia e eu não fique-se assim tão relutante em permanecer.