CAPÍTULO 5

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Os dias passavam rápidos demais e conforme iam passando nada mudava. a não ser a insistência de Travis em aparecer todos os dias no colégio, antes do inicio das aulas, no intervalo e até quando eu tinha aula de educação física. Onde quer que eu fosse, o que quer que eu fizesse, lá estava ele, como uma assombração. Nunca me deixando esquece-lo. Eu havia bolado um plano, o de ignorar completamente a existência dele, eu só precisava seguir com o cronograma e logo logo isso ia passar, ele ia superar e eu poderia continuar com a minha vida. Ele por sua vez parecia seguir ao seu próprio plano também pois não faltava nenhum dia, mesmo naqueles em que chovia. Eu tentava ignorar, sério, mas não tinha jeito ele me cercava em todos os lugares. Então já fazia semanas, seis talvez desde que ele aparecerá a primeira vez, na mesma hora e no mesmo lugar só pra poder me ver.
Em uma manhã, quando sai do ônibus ele não estava. Naquele dia não estava nem chovendo. Uma sensação de alívio tomou meu corpo. Pelo visto ele tinha caído em si, ou simplesmente tivesse se cansado. Mas a sensação era boa, poder andar tranquilamente pelos corredores e saber que ninguém estaria me vigiando, cuidando meus movimentos e medindo cada centímetro do meu corpo. Mas essas alegrias violentas tem fins violento. Minha tranquilidade e paz acabaram rápido de mais. Ele tinha aparecido no final da aula, com sua habitual jaqueta de jeans e seu gorro preto. Apoiado na grade com a cara fechada. O que tinha acontecido? Eu não ousaria perguntar a ninguem, não daria esse gostinho a ele.
Quando o vi, meus olhos não acreditavam no que estavam vendo e eu podia jurar também que meu coração tinha pulado algumas batidas. Respirei fundo e tentei não criar situações em minha cabeça. Ele poderia estar aqui por causa do Paul. Ou por qualquer outro de seus amigos. poderia estar a caça da sua mais nova e avassaladora paixão. Ou por fim, ele não tinha jogado a toalha e tinha vindo me encurralar. Qualquer que fosse o motivo, ele estava de volta.
- Esta usando a tática do silêncio comigo Miller? - perguntou já me seguindo. - Entendi. Sabe que não vai funcionar, né? - me seguiu até o laboratório de ciencias.
- Então também vou ficar calado. - e com isso entrou junto comigo. Ele não poderia estar aqui, dentro do colégio e muito menos em uma sala de laboratório. Mas nada o impedia, devido ao fato de ele estar sentado em uma das mesas folheando livros que nem ao menos continham gravuras.
Comecei a fazer minha pesquisa, mas toda vez que eu o espiava ele me olhava de volta e abria um sorrisinho em minha direção. E eu voltava a meter a cara nos livros o mais rápido possível. Não consegui escrever nem mesmo um paragrafo, toda hora Travis fica se mexendo na cadeira ou folheava os livros mais rapidamente. Era nítido que ele tinha algum distúrbio mental, já que não conseguia ficar quieto no mesmo lugar por mais de cinco segundos. A hiperatividade dele ou tédio estava me deixando louca, me tirando a concentração. Eu estava tão distraída que nem sequer vi o que acontecia ao meu redor.
Do outro lado do cômodo Lindsay estava começando uma discussão acalorada com Paul, sobre alguma menina que estava supostamente dando encima dele. Como eu sei disso? Pelo fato dela estar gritando e dando vários tapas nele. Como um furacão vermelho ela começou a jogar o material dele pela janela. Canetas, lápis, estojo, livro de química, anotações rasgadas agora voando janela a fora.
- Você tem ideia do que a Ruiva está fazendo? - perguntou ele com a voz de curiosidade e o pescoço totalmente espichado tentando ver melhor a cena. Por causa da posição em que estava dava pra ver seu tórax definido através do suéter fino. Mais distração.
- Achei que fosse ficar calado. E a Ruiva tem nome. Lindsay. - falei por cima de um livro.
- Eu sei. - me disse com ar triunfante levantando da cadeira e saindo da sala.
Ele tinha audácia, isso era.
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Mais duas semanas depois ele continuava a vir todos os dias. Continuava com o plano. se a intenção era se fazer notar ele estava conseguindo. Pois eu já não conseguia mais ignorar como eu pretendia. Era impossível. Toda vez que eu tentava, pensava em esquece - lo eu inconscientemente o trazia a minha mente. Minha notas também estavam péssimas, perdia fácil a concentração quando ele chegava. E eu tenho que admitir, eu havia começado a reparar nele. Sem querer é claro. Só era inevitável.
Travis era inteligente, porem não gostava de demonstrar ou talvez não queria que os outros ficassem sabendo. Ele tinha uma mania de ficar ajeitando o cabelo toda hora. Fazia automaticamente. Também ficava batendo o pé quando sentava, como alguém que esta com pressa ou ansioso.
No outro dia ele estava conversando com o Josh quando eu, Jesse e Lindsay estávamos chegando no colégio.
- Cara você não entende.. - tentava explicar ele a Josh. Naquele dia ele estava de moletom preto e tenis de corrida, provavelmente ele estava voltando ou indo para o treino.
- Não, você que é um babaca. - rebateu sem piedade. Mas mesmo antes de responder ele já sorria como se a próxima coisa que saisse da sua boca fosse calar seu adversario.
- é, mas um babaca convocado. Vou jogar o torneio. - virando e olhando pra nós. Como se isso fosse pontos extras. - Garotas - disse ele com um aceno em forma de reverencia.
Lindsay respondeu com um rápido oi, Jesse revirou os olhos e balançou a cabeça em negação. Ela dizia que não tinha nada contra ele só achava ele prepotente e orgulhoso. Não gostava era da forma como ele tratava as outras pessoas. E eu, tinha dado meio sorriso.
- Por que você não da uma chance pra ele? - Lindsay ajeitando o cabelo depois de pegar esse meu quase sorrisinho.
- Sei lá. - eu disse olhando ela e desejando ter colocado mais uma blusa por causa do frio. O gorro estava enterrado em minha cabeca e mesmo assim ainda sentia o vento nas minhas orelhas.
- Sabe o que eu acho? Eu acho que você esta com medo de se apaixonar, que você resolveu acreditar nessa historinha que a Iara te contou.
- Não fala besteira. - disse jogando os livros que estava segurando para ela. - quando foi que você me viu apaixonada por alguém?
Ela me olhava, como se tentasse ver através da minha cabeça.
- Nunca. - admitiu ela. - mas da pra ver na sua cara. Deixa rolar.
Deixa rolar. Deixa rolar. Aquelas duas palavras ficaram na minha martelando o restante da manhã toda. Eu não queria e não podia me apaixonar por ninguém agora. Porque...
Eu não tinha bem um por que mas eu não podia me permitir. Não era assim que eu era. Eu tenho sonhos, tenho planos e nenhum deles envolvia uma segunda pessoa. Mas mesmo assim porque não? Ser adolescente era isso, ney? Se arriscar, fazer besteiras. Deixar rolar. Deixar rolar. Eu podia deixar rolar? Eu queria deixar rolar?
Para Lindsay sempre tinha sido fácil. Ela era linda, inteligente e tão tranquila. Em tudo. Não tinha essas neuroses e crises de adolecentes. Ela era impetuosa. As coisas para mim sempre fora mais complicadas. Eu era complicada. Sempre fui controladora, sempre me programei e eu já tinha planejado toda a minha vida. Por mais descuidada que eu fosse. Eu queria ser como ela, eu poderia ser como ela? Eu nunca seria como a Lindsay. Mas eu poderia me permitir ousar um pouquinho.
Naquela tarde eu tinha decidido dar uma oportunidade. A mim, a ele, e ao que for que viesse. Mais de três meses de desde a festa da Miranda. Se depois de todo esse tempo ele ainda estava aqui... eu não fugiria mais.
Na manhã seguinte eu era uma nova Hayley, eu estava animada para ve-lo. Qual seria a reação? Eu ria comigo mesma. Porém eu tinha acordado tarde naquela manhã, pois não tinha conseguido dormir pela ansiedade. Me vesti correndo, mas mesmo assim eu já teria perdido o onibus.
- Pai? Pai? Tem como me levar para a escola. - perguntei dando uma mordida na torrada que estava no prato dele.
- Claro, agora que eu já acabei de terminar meu café e você de comer a minha torrada.
- Então vamos. - disse jogando a chave do carro para ele. - não quero perder o primeiro periodo.
Quinze minutos depois já estavamos na rua do colegio.
- pode me deixar aqui pai,não precisa ir até o colégio. - disse pra ele.
- não quer ser vista com o papai Hayley. - debochou ele baguncando meu cabelo.
- nada disso. É só que eu já to grandinha pra isso. - sai do carro. E mandei um beijo pra ele.
Peguei minha mochila e segui até a entrada oeste. A uns bons quinze metros eu o vi. Ele estava na sua costumeira posição, apoiado no muro com os bracos cruzados. Mas não estava sozinho, tinha uma garota junto com ele. Estavam conversando e estavam tão próximos. Suzy. A garota com quem ele falava era a Suzy. Passei por eles e segui para o banheiro mais próximo. Não era nada de mais. Eles só conversavam. Mas e se fosse algo mais? Eu me importava? Não era isso que eu queria? Me livrar dele? Deixa rolar. Deixa rolar, eu ficava repetindo para mim mesma.
No intervalo sai correndo até o refeitorio para encontrar Lindsay e Paul. Paul deveria saber de alguma coisa. Lindsay estava em uma das mesas no fundo pintando a unha de rosa pink e com metade de uma maçã em cima da mesa.
- cadê o Paul? - sentei no banco a sua frete.
- já deve estar vindo. Por quê? - questionou sem nem tirar os olhos das unhas.
- vi Travis e Suzy conversando hoje de manhã.
- não era isso o que voce queria? - disse ela assoprando uma das maos.
- era. Eu acho. Eu sabia que não ia demorar para ele ir atrás de outra. - disse para ela. Mas tentando me convencer. - Agora estou livre. - suspirei.
Depois que disse isso em voz alta, pensei em como eu tinha sido estupida em achar que todas aquelas semanas ele tinha aparecido para me ver. A quanto tempo eu estava fazendo aquele papel de idiota? E quanto tempo ele e Suzy estavam de conversinha? Não me importava. Não era da minha conta. Aquilo já não era mais assunto meu. No final das contas eu estava certa. Ele tinha se cansado e já estava com outra. Eu podia ficar tranquila. Era so deixar rolar, que tudo voltou como era antes. Estava tudo bem.
Meghan confirmou que os dois estavam conversando a alguns dias. Ela tinha ficado sabendo pela Angel, melhor amiga de Suzy. Os treinos estavam indo bem, meu tornozelo havia se curado e coreografia estava sendo finalizada. A nossa apresentação seria em dois meses, no final do ano letivo.
Tinham decidido por uma das musicas da Britney Spears. O nosso figurino também estava incrível. Nos iriamos arrasar. Polly estava terminando de confeccionar eles.
- Viu o cara novo? - perguntou ela
- não, nem sabia que a escola aceitava alunos quase no final do ano.
- é então, fiquei sabendo que ele foi tranferido. Seus pais tiveram que ir para a europa e ele veio ficar com a avó. - disse Polly terminando a bainha de uma das saias.
- como você fica sabendo dessas coisas? - já era a terceira vez que eu tentava costurar o mesmo botao na camisa.
- tenho minhas fontes. - disse ela entre uma risanha - ele é bem gatinho, ele faz o seu tipo.
- qual é o meu tipo? E como você pode saber?
- tenho minhas fontes. - joguei a camisa que estava costurando nela. - o nome dele e Tyler Cohen.
Tyler Cohen era aquele típico garoto (aquele que você evita, principalmente por bullying) marrentinho, brigão. Aquele que decide descontar a raiva que sente por seus pais não darem atenção a ele, no resto do mundo. Sendo assim, some essa personalidade com a imagem do cara mais lindo que você conhece. Exatamente!!!! Tyler Cohen era incrivelmente lindo, sexy de um jeito bruto e rústico.
O jeito que o conheci foi como posso dizer, diferente. Naquela tarde eu, Polly e nossa colega Mary estávamos saindo do auditório do colégio quando esbarramos sem querer com ele. Eu ainda nem sabia que ele, era ele. Mas assim que vi seus olhos soube que era problema. Um sensor dentro de mim começou a disparar. Tudo nele gritava perigo. Seu cabelo preto arrepiado para cima, seus olhos igualmente negros, o desenho da sua boca e a curva que ela fazia quando ele sorria e exibia seus dentes brancos, como um predador minutos antes de morder a sua presa. Seu tórax e braços longos dentro de uma camiseta velha de banda de rock.
- É ele. - Cochichou Polly - o Cohen.
- Ele é tão lindo. - Mary atrás de mim suspirando de amores por ele.
- Eu não achei isso tudo... tá, ele é diferente, ok. Isso já leva um ponto. Ele não ser daqui outro ponto. Mas fora isso.... Não aparenta ser grande coisa... Ele deve ser como todos os outros. - disse já andando de costas para elas.
- Não sei não, heim, ouvi que na semana passada ele brigou com dois garotos no mesmo dia.
A verdade era que eu não estava sendo cem porcento sincera, nem com as meninas, nem comigo mesma... eu não sabia dizer o que eu realmente senti quando o vi... no fundo da minha mente uma única coisa se repetia, como um mantra, uma música que se repete várias e várias vezes criando sua própria batida e ritmo deixa rolar, deixa rolar...
Naquela mesma tarde algumas horas depois quando já havíamos terminado nossas tarefas e estávamos indo entregar ao Sr. Francis nosso professor de teatro, quando bem ali no pátio diante de mim a cena mais nojenta acontecia. Cohen o novato ofendendo um menino por alguma ridícula. O que, ou qual era o motivo da piada, eu não sabia. Não dava para ouvir ou entender nada por conta das gargalhadas de um grupo de alunos que se formara ali.
Mas aquilo já era de mais. Esse garoto havia chegado ontem e já se acha no direito de se meter com os outros. O que era isso. É alguma coisa idiota que todo imbecil que entra em um novo colégio deve fazer, para deixar a sua marca. Como se fosse um código entre eles que dizia que tinham que agir assim para cravar seu status perante a escola toda. Eu já estava de saco cheio de tudo isso... por anos eu vivi presenciando isso e sempre me mantive a margem quieta. Porém desta vez a revolta tomou conta do meu corpo e quando me vi já estava diante dele. Se ele quisesse brigar teria que ser com alguém do seu tamanho... eu não era, óbvio... mas eu tinha que equilibrar de algum jeito essa balança.
- você não tem mais nada pra fazer - disse para ele tomada de raiva e fúria.
- Não. - disse ele ainda terminando de rir... e me analisando - na verdade adoro um desafio. Se está procurando encrenca sereia, posso cuidar de você.
Ele nem bem tinha terminado a frase quando meu braço tentou atingir o seu maxilar. Mas ele tinha sido mais rápido que eu e pegou meu braço no ar e me girou, segurando me bem apertado de costas junto ao seu corpo.
- Se eu fosse você, seria mais educada.
- Educada. Está de sacanagem. O que você estava fazendo com o menino, debochando dele. - disse entredentes tentando me soltar do seu abraço.
- Menos metida também... isso não é assunto seu, sereia. Fique do seu lado do campo. - me apertando mais junto a ele. - Mudando de assunto, seu golpe quase seria perfeito. Você usou a sua pouca força a seu favor, direcionando ela para o pulso e o jeito como você plantou os pês no chão. Tome cuidado com o seu quadril e seu tronco, estão muito relaxados. Porém, sereia, você é muito previsível. Por isso não deu certo.
Eu estava furiosa, cada palavra que saia da boca dele eu tinha mais vontade de soca-lo. E a cada vez que ele me chamava de seria minha visão fica nublada e vermelha. Respirei profundamente até me acalmar.
- Primeiro, não me chame de sereia, segundo sou educada com quem merece minha educação. Terceiro pode não ser assunto meu. Mas isso não lhe direito de debochar e rir de outras pessoas. Ainda mais você que chegou apenas a dois minutos nesse colégio. Não sei quais são os seus problemas e aparentemente você deve ter muitos... mas isso não significa que você possa comprar briga com todo mundo.
Quando eu terminei de falar ele já havia me soltado. Era bom dar uma lição de moral. Talvez isso evitaria ele de fazer novamente isso futuramente. Ou ele acabaria comprando briga com quem não deveria.
- Está certa. Peço desculpas a você e ao garoto. - disse Tyler olhando para o chão.
- Obrigada! - eu disse sem jeito. - e me desculpa também, eu não sou assim.. Não tenho esse comportamento violento. Eu poderia ter te machucado.
- Não poderia não. Poderia ter me acertado, mas não me machucaria. Você e sua mão com certeza.
- Certo. Só, me desculpe também. - disse sem jeito esfregando as mãos.
A pequena rodinha que tinha se formado já estava dispersa havia tempos. Sobrando somente Tyler eu e as meninas e alguns colegas que conclui sendo dele.
- Corajosa Hayley. - eu morreria de medo Polly disse e Mary acenando a cabeca em concordância a ela.
- Alguém tinha que fazer ele parar..e depois não foi nada de mais. - disse a elas. A verdade é que depois disso tudo eu estava agora tremendo igual a vara verde. Que merda era aquela que tinha acabo de acontecer.... e o que tinha dado em mim para dar uma de pugilista.
- Hey Sereia - alguém estava gritando atrás de mim. Me virei e Tyler vinha correndo em minha direção. - esqueci uma coisa.
-Pare de me char de sereia. o que foi agora.
- seu nome. - disse ele.
- Hayley Miller.
- Tyler Cohen - disse ele para mim.
- Eu já sabia. - respondi com um ar de superioridade.
- É claro, que sim.
- Mais alguma coisa. - questionei.
Num piscar de olhos Tyler avançou sobre mim e me beijou. Com raiva, força e vontade. Um beijo que me deixou sem fôlego. Apesar do ataque brutal, o beijo era bom. Tudo havia parado naquele momento. Senti os lábios dele, quentes e molhados se moldando aos meus. Intenso no início, com os meus protestos, mas suave no final.
Quando por fim ele me soltou eu esbravejei um palavrão, dando um passo para trás. Somente para respirar e beijá-lo novamente.







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