Contrato

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- Bom dia, meu amor. Como está hoje? Dormiu bem? - Bennie abraçou-a, ainda deitados.

- Bom dia, querido. Estou um pouco melhor. Depois do susto de ontem, não sei se conseguirei me recuperar tão fácil. - Kimberly sussurou, sonolenta.

- Eu sinto muito, infelizmente a porra da bateria enguiçou. Juro que iria te buscar, me sinto tão mal. - Bennie falou, tentando parecer compreensivo.

Kimberly deu um sorriso triste, estava muito confusa ora aquele homem era um cavalheiro, ora era um troglodita. Entretanto, Kabal não saía de sua mente, mas por quê? Por que pensava tanto em um homem que viu duas vezes no dia anterior? Por que estava assim? Bennie percebeu que sua noiva estava muito pensativa e procurou investigar a causa disso.

- Kimberly, o que se passa na sua cabeça agora? Está muito quieta.

- Não é nada demais... bem, na verdade é... ainda estou traumatizada com o evento de ontem. Desculpe por estar distante. - Ela falou de forma com que Bennie ficasse convencido, pensando em seu novo cliente.

- Não precisa se desculpar, vou cuidar de você da forma como merece ser cuidada. Se não quiser, não precisa trabalhar hoje. - Bennie sugeriu.

- Até parece que vou perder um dia de serviço por causa disso! Também preciso atender um novo cliente, que me procurou ontem no final do expediente.

Bennie ficou surpreso com a firmeza como Kimberly falou. Perguntou quem era esse tal cliente e ela sabendo que ele só estava especulando, procurou ser o mais superficial possível. O que deu muito certo, pois seu noivo era muito burro, algumas vezes. Antes de irem para o trabalho, Kimberly e Bennie foram para o chuveiro, juntos. Há uns dias que não tinham um contato mais próximo e íntimo. Porém, devido ao trauma que Kimberly passou na noite anterior, foi uma tentativa vã e frustrada.

- Hora de irmos então. - Bennie falou, descontente.

- Sim, vamos. - Kimberly rebateu, sem olhar para ele.

- O que vai fazer com esse sobretudo aí? Acha mesmo que vai encontrar a pessoa que te ajudou? — Bennie falou, com certo desdém.

- E qual o motivo de estar tão preocupado com isso, Bennie? Vou levar para alguma ONG, para doações. Que inferno, vê se me deixa um pouco! - Kimberly se irritou. Seu noivo queimou de raiva, calando-se

Quando chegaram no trabalho, precisaram esconder a raiva que sentiam um do outro, outra vez, Bennie disse que precisava sair. E dessa vez, era para se reunir com advogados do Conselho a respeito de um caso envolvendo um suposto tráfico. Kimberly não estava nada contente.

- Olha, não sei que tanto você sai sem mim. Se estou começando na carreira, deveria me dar mais chances e oportunidades de aprender e ganhar experiência. Deveria me permitir ir com você nessa reunião. Isso me deixa muito chateada, sabia? — Kimberly falou, descontente.

- Pare de ansiedade, na hora certa e no momento certo, você irá comigo. Quantas vezes vou ter que te dizer isso? - Bennie suspirou para não explodir.

- Tudo bem então, só que o carro vai ficar comigo. Vá de táxi ou mande virem te buscar, esse carro é meu. Não vou mais andar a pé, quer goste ou não. - Ela se aproximou, encarando-o firme.

- Você está passando dos limites, Kimberly. É a última vez que te digo isso. Fique com essa merda desse carro, engula ele se quiser! - O advogado saiu, bufando.

Por um momento, ela se sentiu firme e não sentiu culpa da atitude que tomou. Contudo, como tudo nem sempre são flores, Kimberly teve uma crise de choro em seguida.


**


O telefone do escritório tocou, era Kabal perguntando onde poderiam se encontrar. Ela prontamente marcou o local levando suas coisas para poder anotar o que fosse importante. E assim, começar o processo de defesa.

- Olá... fico feliz que você veio, Kimberly. - Kabal tentou se mostrar amigável.

- Oi... pois é, eu vim. Não poderia te deixar na mão depois de ter me acodido ontem. Ah, também vim te devolver isso. - Kimberly entregou o sobretudo, que foi emprestado.

- Muito obrigado, só que não precisava se incomodar e lavá-lo, também nem iria me fazer falta. - Kabal ficou sem jeito.

- Bem... Deixemos de conversa e vamos ao que realmente importa. Me conte exatamente tudo que aconteceu. — Kimberly se prontificou a anotar o depoimento de Kabal.

Kabal contou tudo nos mínimos detalhes, disse que roubar bancos e joalherias era o que mais lhe atraíam. No entanto, também falou que fez de tudo, inclusive matar por dinheiro. Estava tão injuriado pelo fato de ter sido afastado da polícia, com uma aposentaroria tão baixa. Que recorreu ao crime, mas estava farto de fugir.

- Kabal, isso é muito sério. É mais grave do que eu poderia imaginar. O que piora sua situação é ser foragido. E outra, o problema não vai nem ser te defender quando for a júri, mas sim dos inimigos que você fez. E eu também estou em início de carreira. O seu vai ser o primeiro caso criminalista que vou assumir. - Kimberly mostrou-se deveras preocupada.

- Doutora, você precisa me ajudar, urgente! Eu não quero mais essa vida para mim. Por enquanto, estou vivendo bem aqui em Washington. Entretanto, a hora que meus inimigos e a polícia vierem atrás de mim para tentarem me pegar, vou ter que agir e muita gente, mas muita mesmo pode morrer. Alguma coisa precisa ser feita! - Kabal se alterou.

- Olha o tom como fala comigo. Vim aqui disposta a resolver seu caso, mas se continuar desse jeito. Vou deixá-lo à própria sorte! — Kimberly apontou o dedo.

- Você não ousaria e nem teria essa coragem. Teria?! - Intimou.

Kimberly, outra vez, teve medo daquele olhar e respiração abafada vindas dele. Ela recuou, obrigada.

- Está bem, vou te ajudar. Porém, vai me prometer uma coisa: ficará longe de problemas o máximo que conseguir. — Kimberly disse, com semblante sério.

- Foi o que pensei, incrível como mudou de idéia, senhora Jones. Vou tentar evitar problemas, mas não garanto.- Kabal mostrou-se dissimulado.

- Tentar? Você quer que eu te ajude ou não? Tem que me prometer que vai fazer o que falei. Sou advogada, não Deus para fazer milagres por você! - Kimberly enfureceu-se.

- Está insinuando o que? Que sou um erro da natureza? É isso?!

- Não, não é isso que você está pensando. Eu disse no sentido de que não possuo poderes para evitar o pior que é você ser julgado, condenado e sabe-se lá até mesmo executado. E não quero isso para você. - Kimberly não percebeu, mas demonstrou muita preocupação para com ele, deixando-o confuso também. - A propósito, tem algum mandado de prisão ou qualquer outra coisa? - Indagou.

- Sim, a intimação está aqui, por favor, faça o que for preciso. Não me importo que seja nova no ramo, confiarei em você e na sua capacidade. Só quero tentar ter minha vida de volta ao normal, se é que sou normal. — Kabal abaixou a cabeça.

- Kabal, vou fazer o que for preciso, até mesmo me arriscar livrando o seu pescoço. No fundo, sinto que você é um homem de respeito e que quer viver em paz. Agora preciso ir, até breve, me ligue caso precise e tenha algo a mais para acrescentar. Também ligarei de volta assim que eu montar sua defesa. - Pela primeira vez, Kimberly sentiu-se reconhecida e importante.

O mesmo aconteceu com Kabal, pois raras vezes recebeu tanta atenção sincera vinda de alguém depois de seu acidente.

Perfeita Imperfeição.Onde histórias criam vida. Descubra agora