Capítulo 1 - Nada acontece por acaso

3.9K 148 23
                                    

*** Nessa história não há a pandemia, espero que gostem!!

E lá estava eu. Não conseguia acreditar! Meu time do coração havia acabado de vencer a Copa Libertadores e eu estava ali, junto com vários torcedores e pessoas importantes aguardando o after party do título. Era surreal! Tive muita sorte de ter sido selecionada para ver o clube jogar pelo telão dentro da nossa casa, no Allianz, não era como ter visto o time jogar pessoalmente, mas eu estava muito ansiosa para vê-los assim que chegassem. O ônibus estava preso no mar de torcedores que se encontravam do lado de fora, só se ouviam os fogos de artifício, sinalizadores por toda parte e tudo era verde. Que emoção! Eu nunca vou esquecer esse momento na minha vida! E se era único, eu queria aproveitar, óbvio. Peguei uma taça de champanhe e comi aperitivos que eu nem sabia o nome, mas eram incrivelmente gostosos. Eu me senti um pouco deslocada, minhas roupas eram simples, apesar de ter caprichado, utilizava a camiseta do Palmeiras, uma calça jeans e um all star branco que sempre me acompanhava nos melhores momentos. Infelizmente, eu não tinha como prever que eu iria continuar aqui para uma festa ou teria me preparado mais, com um vestido para a noite, mas fazer o quê... O que importa é que eu estou aqui nesse momento tão feliz. E então, anunciaram que o ônibus finalmente conseguiu passar pela avenida e entrar pelos portões, haviam familiares de jogadores ao meu redor, sócios, diretores... Todos aguardando ansiosamente a entrada dos anfitriões.
Com muita animação e gritaria, entraram todos com garrafas de champanhe, Rony e Felipe Melo levavam a taça com todo o cuidado até o local planejado e os demais iam entrando logo atrás dançando com a música alta e foi então, que eu o vi... Abel Ferreira, o técnico português recém-chegado ao país e ao clube. Com um sorriso de fazer as pernas tremerem... Que homem!
Eu fiquei apenas no canto, não conhecia uma pessoa sequer naquele lugar, haviam outros torcedores, mas eles eram muito mais desenvolvidos, boa parte aparentava ter boas condições financeiras e se enturmavam com os jogadores e direção como se já fossem conhecidos de longa data. Se antes eu me sentia deslocada, agora tinha piorado. As namoradas/esposas e familiares dos jogadores e sócios também estavam lá e só com um dos sapatos de uma moça que observei, talvez poderia pagar meu salário durante um ano no restaurante. Eu era só uma garçonete, estudante de arquitetura, com um carro velho e uma família desajustada que teve a sorte de estar nesse lugar com todas essas pessoas.
Um tempo passou e por mais que tentasse, meus olhos não saíam de Abel, ele era um Deus grego! Um milhão de vezes mais bonito pessoalmente. Como eu o observava atentamente, vi quando ele se dirigiu a uma porta que dava para um corredor e quando me dei conta, meus pés já me levavam em direção a mesma porta.

- ... Vocês viram? O papai venceu. Nós vencemos! - o sotaque dele era ainda mais lindo que o próprio.
- Vocês foram incríveis, papai! Parabéns!! Queríamos tanto estar junto a ti... - ouvi a voz de uma garotinha.
- Vocês não sabem o quanto gostaria que estivessem aqui comigo... Me dói o peito de tanta saudade, mas eu prometo, mais algumas semanas e eu vou vê-las, está bem? - Ele parecia claramente emocionado, aquilo me partia o coração.
- Está bem, papai. Nós estamos contando os dias!
- Eu também... - ouvi a garotas dizerem algo como 'não chore'. - Está na hora de irem dormir! Sei que já deve ser tarde aí, amanhã conversamos novamente.
- Tudo bem, papai. Nós te amamos.
- Eu também amo vocês, mais que tudo no mundo. Até amanhã.

E depois de toda essa fofura, sai dali antes que ele me visse. Algumas taças de champanhe depois, havia visto Abel se despedir e sumir pela porta em que mais cedo falava com suas filhas e eu já estava me preparando para ir embora quando tive a brilhante ideia de ir ao banheiro. Eu não fazia a mínima ideia de onde era, mas eu não ia ter coragem de perguntar a ninguém dali e então, tive uma ideia ainda mais brilhante: ir procurar.
Passei pela porta e havia um corredor um pouco escuro, segui em frente, não sei se era a bebida, mas minha visão estava embaçada, maldita hora que tomei todo aquele champanhe! Fui seguindo apoiando nas paredes a minha frente e então, vi algo escrito em uma porta que eu não consegui identificar, mas deduzi que fosse o banheiro e então, me pus para dentro. Lá dentro haviam uma cama, um criado mudo e alguns pertences, será que que eu estava delirando por conta da bebida?
Ouvi uma notificação e busquei meu celular na bolsa, mas acabei derrubando tudo que havia dentro dela, droga! Me abaixei rapidamente para guardar tudo, se fosse o quarto de alguém, não iria gostar de ver uma pessoa estranha por lá, tinha que sair dali o mais rápido possível.

- Posso te ajudar? - Ouvi aquele sotaque português inconfundível, tomei um susto, não era possível.

Olhei para cima e vi Abel, com apenas uma toalha enrolada na cintura e outra menor que secava seus lindos cabelos escuros. Deus tenha misericórdia da minha alma por tudo que passou pela minha cabeça naquele momento.

- Ah, meu Deus, sinto muito, e-eu estava procurando o banheiro e acabei entrando aqui e... E-eu não quero incomodar! - Eu não conseguia sequer dizer uma frase sem gaguejar, o poder que esse homem emite deveria ser estudado.
- O banheiro fica daqui duas portas. - Ele se abaixou e pegou minha bolsa que estava caída e que eu sequer havia percebido com todos os acontecimentos, que ainda estava no chão, me entregando em seguida. Seus olhos eram tão lindos, sua boca... Eu estava hipnotizada. Ele me olhava confuso.
- O-obrigada! Desculpe. - E sai pela porta como um foguete e checando no meu cérebro se havia guardado bem aquela imagem.

[...]

Após a ida ao banheiro e já do lado de fora do estádio onde eu esperava o carro do aplicativo, já que havia bebido, aquela imagem não saía da minha cabeça, sua voz, só de me lembrar, arrepiava cada centímetro de minha pele. Um sorriso escapou dos meus lábios, queria vê-lo de novo, mas era bobagem! Jamais teria tamanha aproximação que havia tido hoje, no máximo o veria de longe, na área técnica nos jogos. O carro chegou levando esse pensamento lá pro fundo de minha mente. Quando cheguei no meu pequeno apartamento, tranquei a porta, tomei um banho e já corri para a cama, estava muito cansada depois do dia de hoje, cansada e feliz!

[...]

No dia seguinte, eu acordei e achei que havia vivido um sonho, meu coração estava aquecido. Procurei pelas fotos em meu celular e fiquei feliz por vê-las, mas agora era hora de encarar a realidade. Me levantei e fiz minha higiene, enquanto escovava os dentes não conseguia parar de sorrir. E então me dei conta de que meu colar não estava no meu pescoço. Olhei pelo chão e nada. Era um colar em ouro com o nome 'Diana' escrito e que havia sido presente dado pela minha avó, não poderia perde-lo, era a única coisa dela que havia me restado. Entrei em pânico só pelo fato de imaginar ter perdido e nunca mais encontrar. Vasculhei por todo o apartamento e não estava em lugar algum!
Eu já estava muito atrasada para o trabalho, não conseguia me lembrar se havia tirado... Precisava parar de procurar ou Seu Giovanni, meu chefe, me mataria. No caminho todo até o restaurante e durante todo o dia não conseguia me concentrar direito, já havia errado dois pedidos e Seu Giovanni havia gasto toda a cota de gritos diária comigo e estava quase por arrancar os cabelos por minha causa.

- Mas que diabos está acontecendo com você, Diana? - Ele gritou com seu sotaque italiano.
- Me desculpe, chefe. Estou com problemas para me concentrar, perdi algo muito importante para mim...
- Se concentre e procure essa porcaria depois do expediente! Se errar mais algum pedido, irei te demitir! Ouviu bem? - E saiu em seguida, vermelho de raiva.

Velho ranzinza! Detestava trabalhar nesse lugar, mas foi o melhor que consegui arranjar para poder pagar minhas contas e a faculdade que não era barata. Não era um salário incrível, eu precisava controlar muito bem as minhas contas para não ter dívidas e sempre tentava manter a minha reserva de emergência. Não vejo a hora de finalmente terminar a faculdade e conseguir um emprego melhor na área que eu realmente gosto.

De repente, enquanto atendia um cliente, me ocorreu um estalo. Eu havia tirado meu colar antes de ir ao banheiro ontem a noite no after e guardei na bolsa... E depois deixei tudo cair no quarto de Abel! Não queria pensar na possibilidade dele ter caído lá, mas eu já olhei em tudo ao redor e não encontrei, inclusive a bolsa. Minhas mãos foram instintivamente a cabeça, estou perdida!

About Us | Abel Ferreira Onde histórias criam vida. Descubra agora