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Natasha estava animada, mas desanimada pela minha falta de ânimo.

Brooke Walker havia nos chamado para sua festa, que rolaria nesse fim de semana, na nossa aula de biologia. Eu, particularmente, não estava nenhum pouco afim, mas Natasha parecia ansiosa e eu dei o braço a torcer dessa vez.

— Deixe de ser careta — a morena resmungou.

Revirei os olhos.

— Pare de ficar me arrastando para os lugares. Não sou um objeto.

Natasha bufou e contornou as pessoas no corredor.

— Mas é dramática.

Cruzei os braços e parei nas portas do refeitório. Natasha estava prestes a entrar no local quando notou que eu não a seguiria. Parou e me olhou.

— O que foi? — me perguntou, ajeitando a mochila nos ombros.

— Não estou com fome.

Eu estava morrendo de fome, portando não havia pedido dinheiro para meus pais. Eles não contavam nada para mim e para meus irmãos, mas sei que os dois estavam passando dificuldades financeiras desde que Corey, meu irmão mais velho, entrou na faculdade por meio de uma bolsa. Infelizmente não era integral.

Há algumas semanas atrás eu fiquei inquieta e ansiosa, então desci no meio da noite para tomar leite com mel e acabei escutando uma conversa dos meus pais na cozinha. Os dois estavam preocupados que não conseguissem bancar todas as despesas apenas com o salário do meu pai, já que ele era o único que trabalhava.

Não contei nada a eles ainda, mas depois de escutar isso comecei a fazer currículos e distribuir pela cidade. Ontem recebi uma ligação de uma lanchonete e eles ficaram de me encontrar hoje para uma entrevista. Pelo visto o salário não era muito, porém eu estava aceitando tudo que fizesse eu ajudar meus pais.

Natasha franziu a testa.

— Você não está com fome? — questionou desconfiada.

Ela sabia o quanto amava comer.

Passei a mão pela nuca suada.

— Sim — funguei. — Comi pra caralho no café.

A morena me olhou desconfiada mais uma vez, depois assentiu.

— Tá, tanto faz — Natasha soprou desanimada. Eu sabia que ela não gostava de comer sozinha, mas eu me recusava a ficar encarando as pessoa comerem enquanto minha barriga ronca. — Me espera no estacionamento depois.

Balancei a cabeça uma vez e lhe dei as costas.

Não tinha muitas opções de lugares bons para ir, então, como qualquer pessoa buscando por algum lugar silencioso, fui até a biblioteca.

O lugar estava quente e silencioso. Havia poucas pessoas ocupando as mesas e nenhuma delas se deram o trabalho de olhar para quem havia entrado.

Caminhei entre as prateleiras buscando qualquer coisa que chamasse a minha atenção. No fim peguei um livro aleatório, após não encontrar nada que me prendesse.

Me sentei em uma das mesas mais vazias, ao lado de um garoto de cabelos pretos e com fones de ouvido. Não realmente ao lado, ele estava a alguns bons centímetros, tanto que eu não conseguia ver o que ele lia.

Abri o livro e comecei a rolar as páginas, mas, conforme tentava me prender ao livro, tudo que eu conseguia imaginar era a comida ruim do refeitório que nesse momentoso parecia muito tentadora.

Varri os olhos devagar pelas pessoas e parei em um garota loira. A mesma comia um sanduíche em silêncio, e passava as páginas de um livro com a capa horrível — não que eu estivesse reparado direito na capa, estava mais babando no que ela comia. Minha barriga roncou mais alto do que eu esperava e tratei de desviar os olhos para a mesa quando algumas pessoas a minha volta me olharam.

Meu rosto ficou quente, mas não me atrevi a levantar para encarar as pessoas.

Céus... estava encarando aquela garota como uma passa fome.

Apertei os olhos.

Foi quando senti.

Uma barrinha de cereal havia sido jogado no meu colo e quando criei coragem, levantei os olhos apenas para ver que ninguém mais estava olhando para mim. Confusa, olhei para o lado, apenas para encontrar o garoto de cabelos pretos me encarando.

Ele piscou lentamente os olhos verdes brilhantes, ainda com o rosto sério, e apontou com a cabeça para a barrinha de cereal no meu colo.

Abri a boca para negar.

— Pode ficar — a voz era calma apesar do rosto sério dele.

Apertei a boca olhei para a barrinha, não conseguindo negar.

— Obrigada — soprei ao levantar meus olhos para o desconhecido.

Mas ele não estava mais lá.

Before the StormOnde histórias criam vida. Descubra agora