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Entrei no colégio apressada, ajeitando desajeitadamente minha mochila nas costas. Minha respiração estava acelerada quando muito à frente vi o garoto virar o corredor.

O segui.

Ele entrou no vestiário masculino.

Ok, eu poderia ter parado ali. Poderia ter me escorado na parede rabiscada e esperado.

Mas não, como uma louca psicopata fora da casinha, adentrei o vestiário.

Me arrependi no mesmo instante.

O lugar estava iluminado e, graças ao os céus azuis e estrelados, vazio.

Mordi a boca e, hesitante, comecei a andar entre os armários.

— Oi? — soprei ainda hesitante, não escutando nada em resposta.

Eu o encontrei parado em frente à uma pia. Os braços estavam esticados na porcelana branca os agarrando com força, a cabeça estava baixa fazendo os cabelos pretos tamparem a testa. Observei pelo espelho que ele respirava com força.

Parei um pouco e olhei suas costas cobertas por uma blusa preta de mangas curtas subirem e descerem.

Hesitante dei mais uma passo à frente.

— Oi?

Chamei novamente, portanto ele parecia muito concentrado na bolha que criou em volta de si.

Parei atrás de si e levantei a mão, tocando seu ombro com cuidado. O garoto acordou do transe, virou-se de repente e segurou a minha mão com força, empurrando-a e a afastando dele.

Arregalei os olhos e dei um passo para trás, assustada.

— O que você tá fazendo aqui? — questionou ríspido, olhando por trás de mim.

— Eu...

O garoto voltou a olhar para mim, esperando.

— Eu... eu queria... agradecer — soprei, desviando os olhos para seu pescoço pálido.

Senti minhas bochechas esquentarem.

— E não poderia ter esperado do lado de fora do vestiário masculino? — frisou.

Pisquei.

Ele não estava errado.

Olhei para seu rosto envergonhada e foi quando notei pela primeira vez os machucados.

Havia um corte, não muito profundo ou grande, na sua sobrancelha escura e uma vermelhidão roxeada em volta do seu olho esquerdo.

Pisquei algumas vezes rápido.

— O que quê aconteceu? — ergui a mão para tocar seu rosto, mas recuei.

O garoto apertou a mandíbula e desviou os olhos de mim para o lado.

— Não é da sua conta.

Mordi o lábio.

— Eu tenho band aid — comentei, puxando minha mochila para frente do corpo e tirando a tira do bolso menor.

Ao levantar os olhos percebi que o garoto já me olhava.

Me senti mais envergonhada.

— Eu posso... — ergui o band aid em direção a sua sobrancelha cortada, mas afastei ao não ver reação da sua parte.

— Não preciso da sua ajuda — ele soprou sério.

Mordi o lábio novamente, com o coração disparado, as mãos trêmulas e as bochechas quentes.

— Só quero retribuir — soprei, deixando minhas mãos caírem ao lado do meu corpo. — Você me ajudou, me deixe te ajudar agora — pedi, envergonhada, olhando sua pescoço.

O garoto ficou quieto. O escutei respirar em silêncio e só levantei os olhos quando o escutei suspirar e passar a mão pela bochecha.

— Tudo bem — ele respirou fundo e apoiou a lombar na pia.

Como ele é alto — bem alto — teve que se abaixar um pouco para eu alcançar sua sobrancelha. Abri o band aid e me aproximei com os dedos trêmulos. Ignorei sua respiração acelerada no meu rosto e coloquei com calma o band aid no local machucado. Ele fechou os olhos pela dor quando apertei para colar o adesivo.

Dei dois passos para trás ao terminar, o vendo abrir os olhos e me encarar.

Limpei a garganta e escondi as mãos no bolso do meu moletom.

— Então... você se meteu em uma briga em tanto, hein — sorri de leve, tentando tirar aquela tensão. — Eu achava que os pais ensina os filhos a brigar — soltei um riso.

O garoto piscou, apertando os dentes.

— Eu já disse que isso não é da sua conta — falou ríspido, voltando a ficar de costas. — Já me ajudou, agora vai embora.

Apertei a boca irritada.

Ok, acho que não esperava um obrigado ou algo do tipo, ele só não precisava ser um babaca total.

Não disse mais nada, apenas assenti com a cabeça e sai do vestiário.

Céus, como sou infantil.

Acho que no fim das contas estou com mais raiva de mim do que dele, porque, no fim, eu que fui atrás dele.

•••
oiii, se vcs puderem, pfvr, de uma compartilhada na minha história com os amigos virtuais ou que vcs conheçam pessoalmente msm. eu ficaria muito agradecida pois assim a minha estória alcançaria muitas outras pessoas.

obg!!!! <4

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Before the StormOnde histórias criam vida. Descubra agora