— Você é muito doida — escuto a voz do garoto atrás de mim.
Viro-me para ele, tentando não mostrar que eu estou triste, magoada ou decepcionada.
Minha amiga me abandonou aqui.
Eu poderia ser presa!
Se eu não sair daqui eu vou ser presa.
— Eu... eu preciso... eu preciso ir pra casa.
Começo a caminhar, indo rumo a minha casa. Ou acho.
Escuto os passos do garoto atrás de mim.
— Você vai sozinha? De noite? — questiona.
Não paro de caminhar e ainda posso escutar seus passos.
— Não tenho outra opção.
Ele fica em silêncio, portando ainda escuto seu passos lentos atrás de mim.
— Vai continuar me seguindo ou sua casa também fica nessa direção?
O garoto continuou em silêncio por alguns segundos.
— Eu tenho um carro.
Paro de andar de repente e quase sinto minhas costas baterem no seu peito.
Mordo o lábio sem coragem de me virar.
— Está me oferecendo uma carona?
— Vai aceitar?
Me viro para ele.
— Pergunte e saberá — respondo, sorrindo levemente.
Eu ainda estou brava pelo lance com Natasha.
Isso, exatamente isso. Não estou magoada, triste ou decepcionado, mas sim com raiva.
Ela me abandonou e nem se deu o trabalho de avisar!
— Você quer uma carona pra casa?
Me mexi de leve ao sentir seus olhos presos no meu tão firmemente.
Pisquei.
— Eu... não sei se devo.
Olho para baixo.
Ok, o cara me ajudou duas vezes e foi um pouco legal ao oferecer a carona, mas eu ainda não conhecia ou confiava nele.
Olhando para baixo consegui ver que ele deu um pequeno passo para frente. Pequeno mesmo, quase imperceptível.
— Prometo que não vou tentar nada — soprou, com a voz calma e reconfortante.
Levantei os olhos e fitei os seus verdes, sentindo-me agitada por dentro.
— Tudo bem.
Ele assentiu e atravessou a rua, eu o segui em silêncio.
Ele tirou as chaves do bolso e destravou o jipe preto que, para minha surpresa, não foi algo tão chocante assim. O carro combinava com ele.
Entrei no carro e coloquei o sinto.
O automóvel ganhou vida e o garoto saiu de perto do meio-fio, dirigindo entre as ruas movimentadas de adolescentes.
O silêncio se estalou e eu fiquei tentada a esticar a mão e ligar o rádio, porém não fiz isso pois sei quanto homens podem serem ciumentos com seus carros.
— Qual seu nome? — tiro minha atenção da janela quando escuto sua voz grave.
Aperto os lábios.
Por que estou hesitante?
— Paige Greenwood.
Ele continua olhando para a frente, com a atenção totalmente presa na estrada iluminada pelos postes.
— Não vai perguntar o meu?
Pisco. Ah, é mesmo.
— Qual seu nome?
— Seth Batchelor
— Prazer, Seth Batchelor — sopro com sarcasmo e humor, voltando a olhar a janela.
Apertei meus lábios e não atrevi olhá-lo quando meu estômago roncou.
Céus, esse garoto deve pensar que eu passo fome.
Minhas bochechas estavam quentes e sei que estão vermelhas, mas eu continuo quieta, sem coragem para olhá-lo.
— Vamos parar — avisa, simplesmente.
Quando vejo, estamos parados em frente à uma lanchonete 24 horas. Me sinto tentada a negar e pedir para irmos embora, mas meu estômago volta a roncar e eu cedo.
Merda.
•••
— Você não é de falar muito, não é? — questiono Seth, depois da garçonete se afastar ao trazer nossos pedidos.
Dois hambúrgueres e batatas fritas. Básico e gostoso.
Coloco uma batata na boca esperando sua resposta, mas começo a achar que ele vai ignorar.
— Não — responde, tomando um gole de água.
— Não bebe refrigerante? — volto a questionar.
Eu quero parar de falar, mas simplesmente não consigo, estou muito curiosa sobre ele. Acho que nunca o vi na escola ou reparei na sua presença.
Os cabelos de Seth são pretos como carvão, os olhos verdes brilham na luz, ele é uma cabeça e meia mais alto que eu e, aparentemente, tem um corpo atlético. Não é do tipo de pessoa que se passa despercebido, mas ironicamente nunca chamou muita atenção na escola.
Ou chamou.
— Não.
Mesmo sentindo os olhos intensos de Seth em mim dou uma mordida grande no meu hambúrguer, com os olhos nas pessoas a nossa volta.
Minha mente não para de trabalhar e eu mordo minha língua, tentando me impedir de fazer mais perguntas. É inútil.
— Você se mudou pra cidade agora?
Eu me odeio.
Seth levanta os olhos da sua comida para mim, seu rosto é neutro e eu agradeço por ele não parecer irritado com as minhas perguntas.
— Você faz muitas perguntas — comenta, colocando mais batatas na boca.
Volto a comer o hambúrguer, sentindo minhas bochechas quentes.
— 2 anos.
Levanto meus olhos para os seus verdes.
— Como?
Seth da de ombros e leva outras três batatas na boca.
— Eu morava em Portland, mas faz dois anos que eu me mudei pra cá por causa do trabalho do meu...
Ele pisca, seus olhos ficando distantes. Seth não termina a frase, ele suspira e pega seu copo de água.
Quero perguntar novamente, mas sinto que Seth pode ficar irritado, por isso, finalmente, me mantenho quieta.
— E você? Sempre morou aqui? — ele pergunta, batendo as mãos uma na outra e cruzando os braços.
— Sim.
Solto um riso assim que respondo, fazendo Seth franzir as sobrancelhas escuras confuso.
— Percebi que somos monossilábicos.
O garoto aperta os lábios, porém eu consigo ver a diversão nos seus olhos.
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Before the Storm
RomancePaige Greenwood aos olhos de todos é uma garota normal como qualquer outra que cursa o ensino médio, portanto, o que ninguém sabe, é que ela esconde um trauma que lhe ocorreu quando ela era apenas uma menina e ainda causa consequências no seu presen...