Medo de viver

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O destino daquela carruagem era uma cabana bem simples e escondida na floresta próxima à grande capital, a viagem iria levar dois dias. Iria precisar da garota acordada. Atravessar os portões com ela naquelas condições seria ruim para ele.

A grande capital era rodeada por uma muralha que beirava 210 metros de altura de puro aço com uma grande cúpula de um vidro especial que mantinha toda a poluição fora da cidade. Era um local onde os mais ricos e nobres poderiam viver, as pessoas pobres eram expulsas da cidade e mandadas para as cidades menores para que se tornassem escravas das grandes empresas. A capital era um lugar de sonhos onde muitos gostariam de viver, pois a miséria não existia e até mesmo os alimentos considerados extintos poderiam ser encontrados nela. No mundo todo existiam 30 capitais, a principal é localizada onde era a antiga Londres.

Chegando ao seu destino a garota ainda estava desacordada, não iria recobrar sua consciência tão cedo por conta de seus ferimentos e estado mental. Pierre deixava a carruagem atrás da casa entre algumas árvores, corria para abrir a porta da carruagem e ajudar seu jovem mestre a descer a garota, mas sua ajuda foi em vão o rapaz descia com ela em seus braços, parecia não querer largá-la de jeito nenhum, ela seria sua futura obra prima.


Na porta dos fundos da casa duas mulheres o aguardavam, ele passava pela porta rapidamente e ai até o quarto que estava preparado para a garota e a deixava sob a cama, as duas mulheres estavam atrás dele, iriam cuidar da garota até que acordasse.

Saia logo do quarto e ia para a sala, a casa era pequena tendo apenas cinco cômodos, um local simples, mas bem aconchegante. Ele se sentava no sofá e fechava os olhos deitando levemente sua cabeça para trás, mas sua atenção era chamada por seu servo Pierre.

–Mestre, quanto tempo ficaremos aqui? Desejas que eu mande alguém para preparar a casa da capital? – Ele olhava apreensivo para o jovem, estava nervoso e com medo, pois seu jovem mestre estava indo contra algumas leis da capital. O jovem abria os olhos e suspirava, estava cansado e irritado por quase a perdê-la.

–Iremos embora apenas quando ela acordar, não fique com medo nada irá acontecer, ninguém se arriscaria a chegar próximo dessa cabana e muito menos fazer algo a minha pessoa. E por favor, mande alguém à casa da capital. – Se levantava e ia para seu quarto, para que não fosse mais incomodado por ninguém.

Passavam-se alguns dias em que ele estava trancado em seus aposentos. Resolverá sair para ver como a garota estava, continuava dormindo seus machucados já estavam ficando melhor, alguns já estavam até curados. Os dias se passavam e a todo o momento ele ia ao quarto da jovem para ficar com ela, esperando que acordasse logo.

Em seus sonhos, era perseguida por sombras em uma trilha sem fim, seus esforços de se livrar eram em vão, as sombras a abraçavam e muitas às vezes começavam a se deformar. Estava ficando louca, aquelas sombras queriam sua alma acima de tudo, enquanto corria pela trilha acabou caindo e acordando de repente de seu sono profundo.

Levantava e se sentava na cama, puxava suas pernas para perto de seu corpo e as abraçava, levava sua mão ao rosto sentindo as lágrimas que haviam escorrido enquanto sonhava. Sua mente estava bagunçada pensava que tudo aquilo não poderia passar de um sonho, mas no fundo sabia que não era apenas um sonho.

Olhava ao seu redor, via que estava em um quarto simples com poucos moveis, ao centro havia um tapete desbotado que já não podia dizer qual era sua cor original, a única janela era escondida por uma fina cortina branca que se movimentava suavemente com o vento. Levantava da cama e percebia que suas roupas estavam diferentes, usava uma camisola negra que ia até a altura de seus joelhos.

A alguns passos da cama a porta estava entre aberta, podia se ouvir claramente os sons que vinham do lado de fora, se aproximava da porta e a abria totalmente o rapaz estava do lado da porta, estava olhando para o lado e conversando com alguém usava uma roupa simples, uma camiseta branca de algodão com alguns botões abertos e uma calça preta social, ao ver a garota na porta seu rosto estampava um belo sorriso, diferente do dia em que ela o havia visto, sua voz era doce e gentil como sempre.

–Olá minha pequena, que bom que acordou de seu longo sono, fiquei preocupado achei que não iria mais acordar, pois já faz duas semanas que estava dormindo. – Não dava chances à garota de conseguir lhe fazer perguntas, parecia saber o que ela iria lhe perguntar, sua mão direita acariciava suavemente o rosto da garota. – Seus machucados também estão bem melhores e parece que não ficará com nenhuma cicatriz.

Segurou a mão do rapaz e a retirou de seu rosto, lágrimas começavam a escorrer. – Porque me salvou?! Eu não quero continuar a viver, não quero ficar mais nesse mundo, porque fez isso comigo, por que... – Sua voz demonstrava tristeza e muita angustia, o jovem apenas a abraçou e sussurrou em seu ouvido.

–Logo você terá respostas para todas as suas perguntas, minha bela criança. Se arrume e venha à mesa para comer, precisamos viajar essa noite, não quero que esteja fraca. A sim a Angel irá lhe ajudar a se trocar.

– Antes mesmo dela perguntar algo a ele, já havia saído e a mulher estava a sua frente para ajudá-la, a mulher era mais velha que ela provavelmente teria em torno de seus 30 anos, usava um longo vestido preto com magas longas e gola que tampava seu pescoço, alguns detalhes em branco na manga e gola, usava também um longo avental branco, seu cabelo estava preso em um coque era loiro, um arquinho de cor dourada com algumas engrenagens se destacava em seu cabelo, a cor de seus olhos eram verdes, mas em seu rosto havia uma cicatriz que pegava de orelha a orelha e passava por cima de seu nariz.

Angel a ajudou a se trocar, colocando um vestido que o jovem mestre havia escolhido, era negro e longo não tinha mangas, em sua barra indo até a altura dos joelhos havia desenhos e engrenagens todas em ouro e pedras preciosas, por cima do vestido estava um corpete verde claro com apenas um cinto simples de couro negro passando em sua cintura, a gola ia até o pescoço, seu cabelo era preso e colocado ao lado uma pequena cartola verde com algumas plumas e joias.

Após comerem em um silencio mortal e doloroso, todos os empregados da casa corriam de um lado para o outro arrumando malas e as levando para a carruagem, a garota se mantinha em silencio e apenas seguia as ordens do rapaz. Tudo estava pronto na carruagem, ele se levantava e caminhava para a carruagem, ele vestia apenas um terno negro e uma cartola. Angel ia até a garota e a ajudava a se levantar, ainda estava um pouco machucada e fraca.

Na carruagem ela se sentava ao lado de Angel, as duas ficavam de frente para o rapaz, ela mantinha seu olhar para o piso da carruagem, não ousava encarar ele. Nenhuma palavra era dita durante a viagem, ele estava com olhar fixo para papeis e mais papeis e deixava a garota de lado.

A viagem seria rápida, não iria durar mais que três horas. Chegando a entrada da cidade, no portão principal da cidade a carruagem era parada pelos guardas, a garota conseguia ouvir claramente a conversa do lado de fora e prestava atenção, a garota sem que percebesse mostrava um ar de preocupação fazendo com que Angel segurasse em sua mão e sorrisse, acalmando um pouco a garota.

Os guardas dos portões eram sempre em dois, revezavam a cada duas os homens, os portões só eram abertos a aqueles que tinham bilhetes de entrada ou uma carteirinha com identificação de cidadão. Um dos guardas, o mais velho se aproximava da carruagem, trajava um blazer negro fechado, calças azuis escura e uma bota negra que ia até seu joelho. Usava um tapa-olho e um chapéu coco. Podia se notar no cinto que havia uma espada, cassetete e uma arma diferente com tecnologia daquele momento.

–Boa noite senhor, poderia me mostrar à identificação e bilhete para liberar a sua entrada na capital.

–Senhor esta é a carruagem do primeiro ministro, acho desnecessário pedir para que mostre identificação. – A voz de Pierre parecia um pouco irritada pelo pedido do guarda. A porta da carruagem se abria e o jovem descia dela, a garota prestava atenção no que estava acontecendo, e acaba olhando para fora da carruagem.

–Me desculpe, a viagem foi bem estressante, tentaram nos roubar várias vezes e acabamos perdendo o bilhete. – A voz dele era calma e mostrava o cansaço que ele sentia. O guarda imediatamente se curvava diante do rapaz e mandava que abrissem o portão. – Obrigada. – Ele voltava para dentro da carruagem e voltava a ler seus papeis, a garota tentava entender quem ele era. Sua mente estava uma bagunça, queria saber o que iria acontecer com ela dali para frente.

Noite das mil facesOnde histórias criam vida. Descubra agora