Planejamentos

1 0 0
                                    



A semana se passava e Adrian continuava fechado em seu gabinete no ministério, seus planos estavam fluindo como deveriam, mas um em questão ainda lhe incomodava e precisava ser resolvido urgentemente, deixar algo mal resolvido lhe tirava o sono e a paz.

Ter que incluir o primeiro-ministro no plano era fácil, pois o dinheiro naquela sociedade ainda falava alto e mesmo alguém sendo alguém do alto escalão, sempre vai desejar por mais.

Puxou sua cadeira e apoiou o cotovelo sobre a parte mais alta e encosto, aproximou o rosto da mão, deixando alguns dedos em frente da boca, ficou observando a janela e se perdeu por um momento em seus pensamentos, só era trazido de volta no momento que alguém bateu a sua porta.

Ao ouvir o som da porta se abrindo, se endireitou e cruzou os braços, era um jovem rapaz, ele carregava consigo uma prancheta embaixo do braço e não parecia nem um pouco satisfeito em estar ali, seu semblante deixava bem claro essa emoção e fazia Adrian se segurar para não dizer alguma coisa.

O visual do jovem era um tanto engraçado, seu cabelo perfeitamente divido ao meio, um terno azul e gravata borboleta, tornava o visual bastante único, mas parecia ser algo padrão para os secretários dos ministros, apenas ele que havia recusado ter um secretário.

— Olá senhor Adrian, o Primeiro-Ministro deseja que o senhor compareça imediatamente a sala dele.

O rapaz parecia anotar algo na prancheta e nem esperava uma resposta e saia as presas de dentro da sala. Adrian só arqueava a sobrancelha esquerda e revirava os olhos, respirou fundo e se sentou na cadeira em que antes estava apoiado.

Aquele pedido, não poderia ter vindo em melhor hora, talvez o universo estivesse conspirando ao seu favor naquele dia, pegava a flanela que estava em cima da mesa e limpava bem as mãos, estava todo coberto de manchas de graxa, o local era uma verdadeira "bagunça organizada", onde se olhava tinha alguma invenção, para ou que estava em andamento, jogou a flanela suja de volta para a mesa e se levantou logo passando a mão sobre a roupa, para tentar arrumar um pouco, não teria tempo para tomar um banho e colocar um terno, imaginou que o primeiro-ministro não iria se importar com sua aparência, pelo menos não naquele momento.

Não se demorou muito para chegar à porta do gabinete, passou a mão sobre os cabelos negros, achava até mesmo uma pequena engrenagem emaranhada entre os fios, olhou para uma das crianças que ria e fazia um sinal para que ele prendesse o cabelo, deixava alguns fios soltos e cor de seus olhos pareciam se destacar ainda mais, mesmo com toda aquela graxa espalhada pela roupa e rosto.

— Fiquem de olho, se alguém se aproximar me avisem. - Batia a porta e sem esperar por uma resposta abria a porta e adentrava. Em seu rosto estava estampado um sorriso amigável e gente, precisava bajular o primeiro-ministro se quisesse conseguir algo de forma mais imediata.

— Bom dia ministro Enrico, soube que desejava a minha presença, em que posso lhe ser útil? - Seus olhos estavam fixos ao homem que estava sentado lendo o jornal, que logo ia se abaixando e então colocado de lado sobre a mesa, aquele homem mais corpulento se levantava e ia de braços abertos em direção a Adrian.

— Bom dia Bambino. - Sua voz era animada e assim que abraçava Adrian o apertava um pouco. — Não posso me conter com tanta felicidade, essa semana eu e minha bela esposa Francesca estaremos fazendo 30 anos de casados.

— Parabéns senhor... - No momento que ele ia continuar falando, o homem se afastava e segurava o jovem pelos braços.

— Vou precisar de sua ajuda para organizar uma ótima festa, já que é o mais jovem daqui, imaginei que seria a pessoa ideal para ajudar a fazer algo grandioso e que ficasse na memória de todos. Vamos sente-se, sente-se, pedirei um chá para acompanhar a nossa conversa. - Enrico soltava o rapaz e voltava para sua cadeira e já ia pegando o telefone e pedindo pelo chá.

Adrian tentava manter a posse de bom moço e se sentava na cadeira de frente para o homem que parecia um bobo alegre.

— O senhor já teve alguma ideia para festa? - Cruzou os braços e tentava deixar transparecer em seu rosto que estava interessado em ajudar e fazer aquilo dar certo, era sua oportunidade de ouro para executar seu plano.

— Não consegui pensar em nada muito bom, mas a única coisa que desejo é que seja um baile de máscaras, o que acha? - O homem parecia realmente se importar bastante com o que Adrian iria sugerir ou até mesmo comentar.

— É uma ótima ideia, um baile de máscaras sempre é bastante deslumbrante e podemos escolher uma temática diferente, que tal um baile de máscaras com tema de animais?

— Uma ótima ideia Bambino.

Conforme a conversa fluía, tentou se mostrar um pouco inquieto, queria que o homem notasse e lhe perguntasse, não podia jogar o assunto tão facilmente na conversa.

— Parece estar inquieto, alguma coisa lhe incomoda?

— Me desculpe Enrico, mas preciso muito de sua ajuda para um assunto de suma importância, já que envolve a pessoa que mais amo neste mundo, mas claro que o senhor receberá uma boa remuneração por sua ajuda.

— E para o que vai precisar de minha ajuda?

Adrian naquele momento fingia não saber como dizer o que queria, como se estivesse nervoso com o pedido.

— Não se contenha com o que precisa dizer, você sempre me ajuda, então diga sem nenhuma enrolação.

— Preciso que o senhor aceite minha mulher como sua filha, quero que ela carregue seu sobrenome. Sei que é estranho pedir isso, mas preciso que ela tenha um nome forte e que seja de uma família de grande renome, não consigo pensar em outra pessoa sem ser o senhor, tenho certeza de que irá adorar a garota.

A feição de Enrico mudava por completo, ficando sério e parecia analisar com cuidado cada palavra que o rapaz dizia, mas aquelas palavras sobre renome, enchia seu peito de orgulho, mas não queria deixar tão claro ao rapaz, até seu tom de voz parecia mais sério.

— Realmente é um pedido estranho, mas tudo muito bem documentado poder ser de benefício a nós dois, algo me diz que isso vai me render algo a mais, estou certo?

— Claro, com ela sendo sua filha e se casando comigo, o senhor terá direito a uma porcentagem de minhas terras e até mesmo alguns lucros por fora.

— Então minha filha estará em ótimas mãos.

Adrian sorria com a resposta do homem, com ele falando daquela forma, era certeza que havia aceitado sua proposta, o deixando bastante satisfeito.

— E você tem em mente como explicar que a garota é minha filha sem que pareça estranho?

— Sim, podemos usar a festa de casamento para a apresentar a todos, usaremos a velha ideia de que ela estava em um colégio interno de outra cidade cúpula, que chegou recentemente a nossa cidade e claro, que está prometida a mim.

— Uma ótima ideia, mas confio em suas escolhas, deixarei tudo em suas mãos Adrian, não me decepcione. Você terá cinco dias para me apresentar as ideias da festa e até mesmo os croquis das decorações. - O homem balançava a mão como se dissesse para Adrian se retirar.

— Tudo bem. - Ele se levantava e fazia uma breve reverencia e saia da sala, parecia um pouco incomodado por ter que ser tão cordial com aquele homem, respirou fundo e olhou para as duas crianças que se mantinham ali firmes o esperando.

Caminhou tranquilamente de volta para sua sala, mas ao colocar os pés para dentro o telefone tocava.

— Sim?

— Senhor Adrian, peço desculpas por estar ligando, mas os papéis que pediu estão com dados incorretos, nenhum dos cientistas está conseguindo finalizar corretamente os testes, os genes continuam adormecidos.

— Não deveria estar me ligando e sim indo atrás de resolver isso, não quero saber se algo está errado, quero resultados. - A voz de Adrian era ríspida, não deixou que o homem falasse mais nada e desligou o aparelho.

Aquela ligação mudava completamente seu humor o deixando com semblante fechado, fazendo com que até mesmo as crianças sumissem do ambiente. Por mais que se preocupasse com o laboratório, tinha mais coisas importantes a resolver no momento e isso o deixava incomodado, pois sabia que se fosse ao laboratório conseguiria fazer todos trabalharem com mais eficiência.  

Noite das mil facesOnde histórias criam vida. Descubra agora