Capítulo 2

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Asterin andava por entre os cidadãos de Adarlan, a cabeça erguida, ombros para trás, costas eretas, os olhos dourados passando por cada pessoa, desafiando-as a ficarem em seu caminho.

O que certamente não acontecia.

-Por que você faz isso? - A risadinha de Celaena atrai sua atenção - Eles até correm de você.

-É melhor assim. - Asterin esconde a amargura em sua voz.

Adarlan nem sempre a temeu e Asterin quase tinha perdido a própria vida por isso.

Ela não saía sozinha, sempre estava cercada por guardas, bruxas ou seus pais, mas sempre vira os olhares de ódio direcionados a ela e a sua mãe.

Um dia, quando completou seus 13 anos, Asterin decidira que uma princesa deveria andar entre seu povo, viver com seu povo. Queria que eles a amassem, como as bruxas a amavam.

A garota saiu escondida de seu quarto e usou Celaena, mesmo contrariada e a advertindo diversas vezes, como seu álibi. Ela andou por entre as ruas mostrando os dentes branquinhos e perfeitos, mesmo não sendo acostumada com aquilo, estava fazendo por eles.

O primeiro a se aproximar foi um homem calvo que usava uma batina.

-Bruxa! - ele gritou.

O sorriso de Asterin vacilou, mas ela o manteve.

-Sim, - disse - sou uma bruxa.

Ela não tinha vergonha de quem era, de sua mãe ou de sua família.

-Aberração! - uma loura gritara.

-Nós não aceitamos bruxas em nossa cidade, sua... Criatura imunda!

-Sua rainha é uma bruxa. - o sorriso da garota tinha desaparecido.

O calvo cuspiu no chão, outros se juntando a ele, olhando-a com ódio e nojo.

-Aqueles demônios não pertencem a esse mundo! - um homem alto disse - Você não pertence a esse mundo.

Asterin sabia o que aconteceria a seguir, tinha sido um erro ir até lá. Ela deixara que suas unhas e dentes de ferro aparecessem. A multidão gritou xingamentos.

-Eu não quero fazer mal a ninguém. - tentou.

-Você é o mal desse mundo, bruxa! - o calvo gritou de volta.

O homem alto atacou, Asterin se esquivou, ele socou, ela desviou e acertou o punho na bochecha dele. A garota ouviu quando os outros protestaram e se aproximaram também, mas não cedeu. Eles a encurralaram. Ela sentiu os socos e chutes vindo de todos os lados, não gritou ou chorou, atacou de volta.

Sangue azul escorria por todos os lados quando o homem de batina voltou a se aproximar, Asterin viu quando a lâmina em sua mão brilhou, mas não tinha mais forças para atacar.

-Essa será uma mensagem ao seus...

Ele nunca terminou a frase, sangue vermelho jorrou de seu estômago quando ele foi perfurado pelas costas, as expressões de desespero e dor cobrindo seu rosto. Asterin sorriu quando a rainha Manon Bico Negro Havilliard, sua mãe, surgiu às costas do homem. Os outros ofegaram, algumas mulheres gritaram, mas foram silenciadas quando o rei Dorian Havilliard os estrangulou.

-Eu não sei qual é o problema de vocês, - a voz de seu pai soou calma e fria, a garota soube na mesma hora que ele estava furioso - mas descobriremos vagarosamente nos calabouços.

Asterin tinha sido levada por eles nas costas de Abraxos, cuidada por Yrenne e Celaena e, é claro, levado bronca de seus pais. Mas quando se deitou para dormir, ela quis vingança e sabia exatamente quem a ajudaria.

Ainda era cedo quando Dorian a deixara em Terrasen, mas ela não tinha ido ali para ver Marion como tinha dito, deu a volta e correu para a floresta. Sabia que ele não se atrasaria, nunca se atrasava. Em questão de segundos um círculo escuro se abriu na clareira e Asterin na mesma hora correu até o garoto de asas longas que atravessava o portal.

-Demônio! - ela gritou.

-Bruxa! - ele respondeu sorrindo, mas seu sorriso morreu quando ele notou o rosto machucado dela - O que aconteceu, Asterin? - Suas mãos tocaram cuidadosamente os hematomas - Quem fez isso com você?

-Eu preciso da sua ajuda.

Benjamin estava com ela quando eles atravessaram para o calabouço, a escuridão dele ofuscou a visão dos guardas que não viram quando Asterin se aproximou como um predador do primeiro prisioneiro, o homem alto. Ele tentou gritar, mas o garoto o silenciou.

-Essa será a minha mensagem ao seu povo: - As unhas de ferro desceram lentamente enquanto ela sussurrava - Para cada fio de cabelo que for arrancado do meu povo, para cada pedra que for movida contra o reinado dos meus pais, um de vocês morrerá.

Asterin matou cada um dos prisioneiros com as próprias unhas e dentes. A escuridão de Ben sussurrou para cada cidadão de Adarlan a mensagem de sua princesa e o que havia acontecido no calabouço, garantindo que a mensagem estivesse clara.

E quando acabou, Asterin Bico Negro Havilliard decidira que preferia ser temida que amada.

-Asterin? - Celaena a chamou - Está tudo bem? Você ficou distraída do nada.

-Estou ótima.

Ela sorri ironicamente para um homem que a encarava demais, e ele rapidamente vira o rosto.

-Você realmente deveria parar com isso.

-Isso não impede nenhum deles de acabar sem roupas na minha cama. - Asterin retruca.

-Você... - A amiga faz uma careta - Isso é nojento, eu realmente não precisava saber disso.

Asterin dá de ombros. Era verdade, por mais que fosse cruel, eles sempre apareciam, e ela sempre aproveitava. Não que eles não sentissem mais medo, todos sentiam. Bom... Quase todos.

Um sorriso involuntário ameaça a dobrar os cantos dos lábios da garota, que rapidamente cobre o rosto com os longos cabelos negros.

Benjamin nunca tivera medo dela, sempre devolvia na mesma moeda ou começava as provocações. Asterin sabia que ele era tão letal quanto ela, podia ver nos olhos verdes brilhantes, na escuridão a sua volta, no modo como andava...

-Asterin? - Celaena parecia brava agora - Qual é? Estou tentando falar com você. O que há de errado?

-Nada. - Asterin balança as mãos de modo desleixado, se sentindo gloriosa quando as pessoas mais próximas se encolhem - Na verdade, tenho outro compromisso agora, acabamos amanhã.

Asterin andava pelas ruas de Adarlan todos os dias, garantindo o temor dos cidadãos e deixando claro que estava sempre de olho.

-Estou indo para Terrasen, você vem? - pergunta à amiga.

-Hoje não dá, - a amiga lhe oferece um sorriso carinhoso - fiquei de ajudar minha mãe.

-Ok. Nos vemos depois, Cel.

A princesa leva o indicador e o polegar aos lábios, soprando um assovio alto e de apenas uma nota. As pessoas ao redor se afastam correndo quando Tiamat, a enorme serpente alada de Asterin, pousa na frente dela.

-Não faça besteiras, Asterin! - Celaena grita para ela.

Com um sorriso irônico nos lábios, Asterin a ignora e sobe em Tiamat. Ela pisca uma vez e suas pálpebras se adaptam para o vôo.

Com um rugido alto que balança os telhados das casinhas de Adarlan, Tiamat levanta vôo com sua cavaleira nas costas.

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