7- Cheiros e lembraças

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Ainda tentava me recuperar dos acontecimentos dessa manhã. Em um minuto eu estava apenas comprando lembrancinhas para minha família, e no outro, eu estava atirando em um homem, para poder me defender.

Estava dirigindo com dificuldade, meus pensamentos pesavam, meu corpo estava dolorido, minha cabeça latejava e meus ouvidos zumbiam.

Peguei meu celular, que estava na cadeira do passageiro, e o liguei.

-Poxa, já são 11:00 hr da manhã. Eu fiquei por 4 horas naquele lugar? - questionei-me em voz alta.

Foram tantos eventos, que mal vi as horas passarem. Precisava aperta o pedal, pois tinha marcado com meus pais de chegar antes das 10:00 hr. Eles devem estar preocupados. Como no caminho não tinha sinal, eu não podia ligar para eles para avisar que chegaria um pouco atrasada.

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Depois de 01:30 hr de viagem cansativa, avistei a entrada do rancho da minha família. Uma sensação boa surge entre as milhares de ruins. Meus olhos se encheram de lágrimas de saudade. Fazia tanto tempo que eu tinha deixado minha casa, para poder morar na Califórnia, que achei que quando voltasse, eu estaria diferente, que a cidade de São Francisco me mudaria, porém, quando olhei aquele lugar acolhedor, com aquele amontoado de árvores, o celeiro cheio de cavalos comendo capim, minha casa com o mesmo aspecto de quando eu fui embora e os carros do meu avô e da minha mãe, logo à frente, prontos para sair para algum rodeio, como fazíamos antigamente, me senti inundada de lembranças e pensei que nada poderia apagar as raízes que tenho desse lugar, nem mesmo a cidade linda de São Francisco.

Passei entre o celeiro e falei com meus antigos amigos de montaria, meus cavalos.

- E ai galera. Tô de volta. – gritei para eles, que logo pararam de comer o capim e levantaram suas crinas para mim, soltando um relinchado, como comprimento.

Eu ri de felicidade. Como eu senti saudade daquele som.

Chegando próximo à entrada da minha casa, observei uma pessoa sentada na cadeira de balanço, com os óculos sob o nariz e lendo algum jornal. Com seus cabelos e a barba grisalhos, tinha um aspecto de preocupação no rosto. Meu avô, continuava a manter o costume de ler as noticiais depois das refeições, dizia que era bom para a digestão. Quando escutou o som do carro se aproximando, se levantou apressado e começou a berrar.

-ELA CHEGOU! ELA CHEGOU! OH GRAÇAS AOS CEUS- ele gritava, enquanto corria em direção ao cercado que tinha ao redor da casa.

Dei um sorriso de orelha a orelha para ele. Estacionei o carro logo ao lado da caminhonete, e abri a porta do meu carro o mais rápido possível.

Vi minha mãe e meu irmão saírem desesperados pela porta de casa, com os olhos marejados de lagrimas.

Corri em disparada para os braços do meu avô que esperavam ansiosos pelo meu abraço. Senti seu aroma de perfume barato, misturado com cheiro da roça e sua loção de pós-barba, voltei a minha infância novamente, quando me sentava junto a ele no sofá a noite, para que ele me ensinasse a tocar violão. 

- Vovô, eu sei que o senhor está com saudade, mas eu preciso respirar. – falei para ele, com a voz um pouco falha, por conta do aperto dos seus braços sobre mim.

-Ah, desculpe querida. Estávamos preocupados. – falou ele, me soltando dos seus braços com delicadeza.

-LUNIIISSS, ACHAVA QUE VOCÊ NÃO VIRIA.- Eliot pronunciava, se jogando sobre mim com um abraço forte.

Escutar ele me chamar daquele jeito, me deixou ainda mais emotiva. Quando Eliot era bebe, ele me chamava de Luni, com um tempo, começou a pronunciar Lunis, e nunca Luna. E assim ficou. Só ele me chamava daquele jeito, era uma coisa intima nossa, então nunca reclamei.

- É claro que eu viria, não perderia por nada de ver meu aluno favorito de montaria ganhar seu primeiro campeonato de montaria. – falei para ele, o abraçando com mais intensidade. Apesar de sentir meu corpo todo dolorido, o carinho deles era como um analgésico para mim.

- Minha filha, porque toda essa demora? Já estávamos ligando para a polícia. – minha mãe proferiu se juntando a nós.
Eu bem que queria um ajudinha da polícia mesmo. – falei comigo mesma nos meus pensamentos.

- É que deu problema no carro, tive que parar no posto para concertar. Tentei ligar para avisar, mas não tinha sinal. – menti para ela. Eu tinha que aproveitar aquele momento, não queria estraga-lo deixando-os preocupados. Amanhã eu resolveria esse problema sozinha.

- Nossa filha, como você está linda. Venha aqui. – ela abriu os braços para que eu pudesse me envolver neles.

Minha mãe, sempre foi meu porto seguro. Nela eu deixava todas as minhas fraquezas, minhas inseguranças, minhas batalhas e me rendia ao amor e ao conforto. Depois que meu pai faleceu, quando eu tinha 12 anos de idade, eu e ela somos a fortaleza uma da outra.

Ela passava as mãos nos meus cabelos e respirava aliviada, como se estivesse esperando aquele momento há anos.

- Não sabem o quanto eu precisava de vocês. – falei, pegando as mãos do meu avô, do meu irmão e da minha mãe para levar até meu peito.

-Oh minha querida, sua mãe estava a ponto de enlouquecer todos nós, quando soube que você viria. Tenho certeza que não era só você que precisava de nós. – meu avô riu para mim com os olhinhos se fechando.

-Ah, deixe disso papai, eu só estava um pouco ansiosa. – minha mãe o cutucou, com um tom irritado na voz.

- Vamos Lunis, tenho muita coisa para te contar. – meu irmão me puxava pelo braço em direção a minha casa.

-Espere Eliot, minhas malas, eu tenho que pega-las. – falei, parando meu irmão no meio do caminho.

-Deixe querida, eu pego para você. – meu avô proferiu, com um sorriso no rosto.

Eliot voltou a me puxar em direção a porta de entrada da minha casa. Passei por ela, e fui atingida com aquela fragrância de moveis de madeira que tanto amava. Observei cada detalhe inesquecível daquele cômodo. Os sofás com tecidos bordados pela minha falecida avó, a lareira gigante com lenhas prontas para serem usadas a noite, a instante cheia de livros e portas retratos da minha família, a TV antiga e logo acima dela um rádio, e por fim o tapete grande e aconchegante em que eu costumava me sentar para escrever minhas músicas na infância. Tudo parecia confortavelmente familiar, é como se eu nunca tivesse saído dali. A sensação de alivio por estar em um ambiente famíliar, fez meu corpo relaxar e alguns sintomas começaram a emergir, trazendo dores em devidos lugares. Minha cabeça voltou a latejar e minha visão se tornou um borrão, talvez porque eu estava a mais de 6 horas sem comer, apenas bebendo água.

-O que você está olhando? Você está bem, Lunis? – escutei meu irmão perguntar.

-Sim, estou bem Eliot. Ouça, eu sei que você quer me contar muitas coisas, mas eu estou um pouco cansada da viagem, então eu vou subir para meu quarto e tomar um banho. A noite, botamos os assuntos em dia, ok? – falei, olhando para ele com dificuldade.

- Ah, tudo bem. – ele respondeu um pouco decepcionado.

Salpiquei um beijo na sua bochecha e me direcionei até as escadas. Com dificuldade, subi os degraus devagar. Pressionei os meus olhos, fechando-os e abrindo-os, para poder enxergar com mais clareza.

Assim que consegui chegar até o andar de cima, não olhei muito para os lugares, me desloquei ligeiramente para meu antigo quarto.

Me deitei de imediato na cama de casal e deixei meu cansaço físico e mental vencer. O dia tinha sido muito longo, apesar de não ser nem 16:00 hr da tarde. Meu corpo precisava se desmontar, estava tão tensa que só senti o peso sair quando me aconcheguei na cama. Uma nuvem preta, invadiu meus pensamentos e eu simplesmente apaguei.

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Qual a sensação que vocês sentem quando voltam para sua casa natal? Me conta ai, nos comentários.

*Favorita e compartilha a história, essa autora aqui, agradece ;*

Vivendo uma nova experiência na FazendaOnde histórias criam vida. Descubra agora