8- Habituando-se

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Acordei com um barulho na minha janela. Um “toc toc” irritante.

- Parã... com isso. – falei entre os murmurinhos de sono.

E o “toc toc” continuava.

- Aaaa que inferno. Quem tá fazendo isso a essa hora da noite? – abri os olhos e fiquei confusa. Onde eu estava?

Observei cada espaço daquele lugar. Era meu antigo quarto, com minha cama de casal, minha poltrona, onde eu lia livros, minha mesinha de estudos, minha janela (ao qual tinha um passarinho bicando).

- Então é você que me tirou do meu sono, ou será que eu ainda estou dormindo? – me levantei em direção a janela. O passarinho no mesmo instante pegou voo.

Olhei de novo aquele lugar. Tinha algumas malas no chão, próximas a minha mesinha. De imediato, as lembranças foram voltando.

- É, definitivamente eu não estou sonhando. Eu estou aqui de verdade. – falei para mim mesma.

Peguei minha mala do chão e a abri. Puxei algumas roupas e acessórios de banho.

Fui em direção ao meu antigo banheiro. Assim que abri a porta, me deparei com aquele cenário. Era mágico. Tinha uma banheira enorme, mergulhada em um amontoado de pedras, uma janela bem a frente da banheira, que dava para observar o céu estrelado a noite. Um espelho emoldurado com madeiras, a luz do ambiente era fraca e tinha um aspecto rústico.

- Não era assim quando eu me mudei, caso contrário, eu não teria me mudado. - ri comigo mesma.

Me desfiz daquelas roupas sujas e cheias de marcas dos episódios de logo cedo. Liguei a torneira da banheira e logo saiu uma água morna de dentro dela. Fui em direção ao espelho e me vi refletida nele.
Passei os olhos em cada espaço do meu corpo. Identifiquei algumas marcas avermelhadas nos meus braços e na minha clavícula. Meus pulsos estavam com uma linha de hematoma, devido as cordas. Doia quando eu os apertava. Doia tudo. Cada pedaço de meu ser, eu me sentia fora dos eixos. A minha vida estava saindo do meu controle.
Pensei que talvez eu merecesse tudo aquilo que aconteceu naquela manhã. Que eu estava pagando pelo que eu fiz com aquela mulher. Por mais que eu tentasse fugir, ela sempre estaria comigo, como lembrete de que eu não merecia ser feliz.

Tentei afastar os pensamentos negativos que forçavam a aparecer. Olhei para a banheira e ela ja estava completamente cheia. Entrei aos poucos nela, deixando a água purificar cada centímetro do meu corpo. Me aconcheguei sobre a banheira e fechei os olhos para aproveitar aquele momento. Algumas lágrimas caíram dos meus olhos, era de alívio, pois as dores musculares estavam cessando.

Após aquele banho terapêutico, me vesti e desci para a sala de estar. Era por volta das 19:00 hr, e minha família ja estava reunida na cozinha, fazendo o jantar. Senti o aroma de pão de queijo e de café invandir meus sentidos, e meu estômago logo correspondeu, rugindo de fome.

- Que cheirinho delicioso. Eu amo...- fui dizendo, assim que entrei na cozinha e vi minha mãe cortando alguns legumes.

-... café, eu sei minha filha. - minha mãe continuou a minha frase, olhou para mim e me mostrou seu sorriso.

- Conseguiu descansar? - ela perguntou.

- Pode-se dizer, que foi o melhor sono que eu tive, desde muito tempo.- respondi, me aproximando dela, para poder lhe ajudar com os legumes.

- Fico feliz, você estava mesmo com uma carinha de acabada, quando chegou aqui. - ela fez uma careta.

-Mãaaaae. - repreendi-la com um cutucão, que a fez rir, e eu ri junto.

- E essa janta? Sai hoje? Minha barriga já ta reclamando. - meu avô, passava a mão na barriga, para dar ênfase na sua fala.

- Já já, papai, deixe de agonia. - minha mãe respondeu.

Vivendo uma nova experiência na FazendaOnde histórias criam vida. Descubra agora