em casa

1.5K 216 20
                                    

capítulo cinco

Rhysand voava no piloto automático.
Sua mente era um vazio que ele nem sequer entendia.
Era como se fosse um adolescente novamente.
Como se fosse novamente aquele garoto treinando e se esquecendo de ir ao encontro da mãe e da irmã.
Se sentia pequeno.
Fraco.

Feyre estava prestes a metamorfesear as próprias asas quando ele a puxou para perto e ela entendeu.
Se agarrou a ele da forma que o parceiro precisava e mesmo que entedesse seu silêncio, o olhar distante se tornou dolorido para ela.

— Rhys. – a mão dela tocou seu rosto fazendo-o estremecer como se tivesse acordado de um sonho.

— Sim? – a voz era rouca. Salpicada com o embargo de um choro que viria em algum momento.

— Ela está bem. – a grã senhora disse confiante. – Vai estar bem quando chegarmos.

— Ela precisa estar. – desviou o olhar sentindo a garganta secar. – Precisa estar. – repetiu.

A parceira apenas assentiu repetindo as palavras e tentando tranquilizá-lo por todo caminho.

Silenciosamente pedia a Mãe que a… sogra estivesse bem.
Em algum momento se tornará estranho usar nomes tão humanos.

Hybern parecia um reino abandonado.
Da forma como eles haviam imaginado.
Nenhuma proteção em volta do castelo.
Nenhuma guarda a postos.

De todos os lugares afetados pela guerra, Hybern fora o maior deles.
O reino simplesmente parecia estar deixando de existir.
O território estava em pauta na reunião dos grão-senhores. Quem o herdaria. Se haveria um novo rei.

Uma breve comunicação com Cassian e os dois casais se dividiram.
Cada um flanquando um lado. A espreita por qualquer armadilha que fosse possível antes de pousarem.

Feyre sentiu o chão trepidar quando os dois machos acertaram o chão com firmeza.
E sem meias-palavras se dividiram buscando pelo castelo a senhora da noturna.

— Não fique longe. – Rhys disse beijando a mão da parceira antes de soltar. – Não sabemos se há alguém ou algo por aqui.

Enquanto andavam abrindo quartos, Rhys tentava seguir um cheiro que não existia e então passará a se perguntar quanto tempo a irmã levara para chegar até Velaris sem magia.

Se a mãe ainda estivesse ali, poderia ainda estar viva?
Estaria.
Era claro que estaria.
Não havia espaço para o contrário.

— RHYS! – a voz de Cassian ressoou entre os corredores.

Estava engasgada em emoção. Fora forçada a sair. E Feyre sequer teve tempo de piscar antes que Rhys atravessasse os dois.

Duas portas grandes estavam escancaradas e a mulher de cabelos pretos estava meio deitada no chão e meio nos braços do illyriano de cabelo comprido.

— Ela está viva. – Nestha se pronunciou olhando para o grão senhor.

Seus poderes ainda eram uma incógnita. Que ela não fazia qualquer questão de entender.

Rhysand parecia ter desaprendido a andar pois da prota até onde o amigo estava, ele atravessou novamente caindo de joelhos.

Puxou a mãe para o próprio colo e os outros presentes na sala assistiram a escuridão começar a preencher o quarto.
Ele murmurava palavras não audiveis e Feyre soube que ele rezava.

O suspiro que soou preencheu a lacuna de silêncio que existia.

— Filho? – a voz pronunciou rouca.

E foi o suficiente para que o grão-senhor começasse a chorar.
Se abaixou até que a cabeça estivesse encostada contra o tórax da mulher e sentiu-se ainda mais pequeno.
Mãos o rodearam e ele lutou muito contra apertar com ainda mais força o corpo frágil que o abraçava.

Cassian pigarreou para evitar o choro que brilhava em seus olhos.
Feyre sequer sabia como conter.
E Nestha tinha o olhar fixo em um ponto no chão.

A volta fora tão rápida quanto a vinda.
Feyre desta vez voou sozinha mas o máximo possível ao lado do parceiro.
A mãe não tinha força para enfrentar a jornada então se agarrava ao filho como… como se tivesse tendo a chance de vê-lo outra vez.

A irmã ainda conversava com Morrigan quando pousaram.
Agora com roupas mais dignas, trajava um dos centenas de vestidos que existiam naquela casa.
Levantou-se correndo em direção ao irmão e a mãe, então a cena emocionante se repetiu.

Mas agora eram os três caídos ao chão.
Chorando e rindo com toda vida que tinham.

Morrigan se aproximou de Feyre dando um abraço de lado na amiga antes de empurra-la em direção do monte.

Rhys que notou a aproximação da parceria levantou a cabeça fazendo-a replicar o sorriso em seu rosto.
Ele estava lindo.
Os olhos brilhando como cem estrelas.
O sorriso largo e o rosto molhado.

Se desvinculou ajudando ambas a levantarem e tomou a mão de Feyre trazendo-a para perto.

— Grã-senhora, não é? – a irmã a olhou com um sorriso de canto fungando.

A mãe por sua vez arregalou os olhos levemente olhando para a jovem.
E mesmo depois de tudo que passará, Feyre rezou para que fosse o suficiente ao escrutínio da sogra.
Que ela lhe amasse… como Rhys disse que faria.

— Ela é minha parceira. – sorriu para a fêmea que amava. – Governamos juntos.

— Seu pai? – o olhar se tornou para o filho em curiosidade. 

Ele suspirou antes de se aproximar outra vez.
Tomou a mão da mãe e da irmã apenas por capricho e as mostrou.
Tudo.
O dia de suas mortes.
A retaliação que havia feito com o pai.
Amarantha.
Feyre.
A guerra.

E quando terminou se afastou temendo a reação que teriam.
As coisas que ele havia feito.
Quem ele se tornará.

— Você… – a mãe arfou e sorriu se aproximando. Tomou o rosto do macho em suas mãos e encostou suas testas fechando os olhos. – Eu sempre soube que se tornaria o maior governante que esse mundo já viu. 

Rhysand sorriu sentindo paz aliviar seu peito.

O momento foi interrompido pela irmã que se enfiou no meio dos dois.

— Tenho orgulho de você. De tudo que fez. – apertou-o mais uma vez antes de solta-lo. – Mas não posso acreditar que tenha o deixado viver. – vociferou.

— Querida… – a mãe tocou os ombros da filha que apenas respirou fundo.

— Ele merece estar morto. – insistiu.

— Santa Mãe! – Cassian interviu. – Será que você pode deixar pra ser uma pentelha por alguns minutos? - recebeu um gesto obscenuo respondendo com outro.

— Tão maduro. – a mais nova pirraceou e Cass lhe lançou um sorriso de quem iria joga-la no rio como fazia quando eram crianças.

Sem pensar muito ela atravessou antes que ele cogitasse correr se agarrando a mãe que revirava os olhos.

— Então… Feyre, não é? – as duas de viraram para Feyre que sentiu um leve pânico percorre-la ao ter a atenção para si. – Eu sou Selene. – a mais velha lhe sorriu calorosa.

Corte de Memórias e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora