Capitulo 1

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Thiago Crocker

  Mais um dia. Mais uma maldita manhã na minha vida miserável.

  O sol invadiu meu quarto como se zombasse de mim, forçando-me a acordar. A luz atingia meu rosto com uma crueldade silenciosa. Levantei-me de má vontade, sentindo o peso invisível que me acompanha todos os dias. O caminho até o banheiro parecia mais longo, mais pesado. A água do chuveiro escorria pelo meu corpo, mas não conseguia lavar o vazio que me consumia.

  Após o banho, olhei para o espelho com olhos cansados. Escovei os dentes, coloquei meus óculos, meu escudo contra o mundo turvo. Sem eles, tudo parecia tão distante, tão fora de foco. Vesti minha calça jeans, uma camiseta qualquer e o moletom preto que me abraçava como um velho amigo, já desbotado pelo uso diário. Peguei meu celular, a mochila e desci em silêncio.

  Na cozinha, abri a geladeira. O frio lá dentro parecia ecoar o gelo que sinto no peito. Peguei um Toddynho e comecei a preparar um sanduíche, tentando ignorar os pensamentos que sempre voltam. Com um gesto automático, conjurei duas esferas roxas de plasma? (Não sei exatamente o que é isso), duplicando o sanduíche. É algo tão simples, mas até isso me lembrava que sou diferente. E o mundo odeia os diferentes.

[...]

  A escola estava a poucos metros quando o som de um motor rugindo rasgou o silêncio. Virei a cabeça e vi o carro vindo na minha direção, rápido demais. Meus reflexos tomaram conta, e consegui pular para o lado, evitando o impacto por um triz.

  — Ei, viadinho! Olha por onde anda, porra! Sua mãe não te ensinou a olhar pros lados antes de atravessar a rua?!

  O grito ressoou, cheio de desprezo e veneno. Baixei a cabeça, os punhos cerrados. Não adiantava. Ele era só mais um dos idiotas ricos da escola, mais um babaca que achava que o mundo girava ao redor dele.

— Desculpa... — Murmurei, sem vontade, apenas para encerrar a cena.

  Continuei andando, tentando não pensar no que acabara de acontecer, mas o gosto amargo das coisas que eu poderia ter digo ficava preso na minha garganta. A escola, com sua fachada imponente, se erguia à minha frente como a entrada de um inferno. Mais um dia. Mais tormento.

  Cheguei à sala e respirei fundo, hesitando antes de bater na porta. Minha mente já estava cansada de todas as lutas invisíveis que travavam diariamente.

  — Atrasado de novo, senhor Crocker? — a voz cortante do professor Bruno me atingiu assim que entrei. — Sente-se.

  Bruno. Ou, como todos o chamam pelas costas, o "Diabo de Projeto de Vida". Mas o que ele tinha de demoníaco, também tinha de...atraente. Balancei a cabeça, afastando o pensamento e me dirigi ao meu lugar de sempre, no fundo da sala. Coloquei os materiais na mesa e tentei focar, mesmo sabendo que isso era praticamente impossível naquele dia.

  — Hoje, vamos fazer algo diferente, pessoal. — disse ele, com o tom enigmático. — Vamos ouvir algumas músicas e compartilhar as sensações que elas despertam em vocês.

  Ele ligou a televisão no teto e começou a tocar as faixas. Me forcei a prestar atenção, mesmo que a voz dentro de mim insistisse em me distrair. Mas, quando a música começou, algo em mim quebrou.

  O primeiro acorde me atingiu como um soco no estômago.

FLASHBACK ON

  — Mamãe! Papai! Olhem só, eu consegui! — gritei, com a alegria inocente de uma criança que acabou de vencer uma pequena batalha, Eu havia acertado todos os pinos no boliche. Um strike.

Minha mãe sorriu, o olhar dela era puro orgulho. Meu pai me aplaudiu, e eu corri até eles, animado, rindo com a vitória.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora