capítulo 5

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  Matheus Calpalds

  A festa no estádio parecia um verdadeiro culto ao excesso. O som explodia pelos alto-falantes como um chamado à perdição, e o lugar fervia em suor, álcool e luxúria. Fazia pouco mais de uma hora que eu estava ali, e já tinha provado o sabor de uns oito corpos femininos, sentindo suas curvas e seus desejos queimando na ponta dos meus dedos. Minhas mãos ainda seguravam um copo de bebida forte, e eu deixava o líquido descer, queimando, como se quisesse incendiar meu interior.

  Enquanto meu corpo se movia, quase automaticamente, ao ritmo da música, meu olhar vagava preguiçoso entre a multidão. Foi então que o vi. Thiago. Porra, o Thiago! Aquele desgraçado estava caminhando por ali, e o calor da festa parecia se intensificar em torno dele. Vestido com um short justo de malha tão curto que quase expunha o que havia de mais íntimo, ele parecia uma visão do pecado, uma tentação viva. Caralho! minha mente gritou. Como eu queria estar naquele exato momento ajoelhado diante dele, arrancando aquele maldito short com os dentes, sentindo a pele dele sob os meus lábios.

  Balancei a cabeça, sacudindo aquela imagem suja para longe. Que diabos eu estava pensando? Eu sou hétero! Amante de vaginas, não comedor de viadinhos! A afirmação ecoava na minha cabeça como um mantra. Eu precisava me livrar daqueles pensamentos imundos, daquela atração indesejada.

  O DJ começou a falar, e eu forcei minha atenção para o palco. Mas quando meus olhos voltaram a focar na cena, lá estava Thiago novamente, só que agora em destaque, com seus dois amigos inseparáveis. A música começou, uma batida frenética que pulsava como uma corrente elétrica no meu sangue. E então, Thiago cantou. A voz dele invadiu meus sentidos, doce e sensual, provocando uma sensação que eu não queria sentir. Porra, que talento ele tinha. Mas o encanto logo se quebrou quando uma maré de corpos eufóricos me arrastou para os lados, dançando, gritando, se esbaldando. O show deles no palco virou um espetáculo vulgar de bundas à mostra, um convite descarado à luxúria. Eu virei o copo, sentindo a bebida queimar minha garganta, como se tentasse sufocar a explosão de emoções conflitantes.

  "Mas que merda estava acontecendo comigo?" Uma pontada de ciúme me atingiu quando vi Thiago rebolar para aquela multidão, exibindo-se para todos, como se não fosse nada. Ciúmes? O que era isso? Não fazia sentido. Não podia fazer sentido.

  Quando desceram do palco, tentei segui-lo, mas o perdi de vista. Meu coração bateu mais rápido, a angústia crescendo dentro de mim como uma tempestade. Passei por entre as pessoas, como um caçador à procura de sua presa, até que meus olhos captaram um canto escuro, mal iluminado, atrás dos banheiros. Algo me puxava para lá, algo visceral, e eu segui o chamado.

  Quando cheguei, meu mundo desabou. Ali, naquele canto sombrio, estava Thiago, indefeso, e um verme qualquer tentando possuí-lo. O ódio explodiu dentro de mim como uma erupção, feroz e incontrolável. Não pensei. Meus músculos se contraíram, e eu voei para cima do desgraçado, arrancando-o de cima de Thiago com uma força brutal. Joguei-o no chão como se fosse um lixo, e meus punhos desceram sobre ele, golpe após golpe, esmagando seu rosto, destruindo-o. Eu queria matá-lo. Queria vê-lo apodrecer ali mesmo, aos meus pés. O sangue manchava minhas mãos, e ainda assim não era suficiente.

  Quando finalmente parei, ofegante, olhei para o lado. Thiago estava ali, tremendo, os olhos arregalados de terror. Corri até ele, a raiva se dissolvendo em preocupação.

— Estou aqui, eu estou aqui... — Repeti, tentando dissipar o horror que havia acabado de acontecer.

  O abracei tentando o confortar, como se pudesse o proteger de todas as coisas naquele momento. Porém, pude perceber que ele havia perdido suas forças.

— Thiago? Thiago?!

  Levantei seu rosto, mas seus olhos estavam fechados. Ele havia desmaiado. Peguei-o nos braços com uma facilidade inesperada, o corpo dele era leve, quase frágil. Sem pensar muito, o levei para o meu carro. Não podia deixá-lo ali, exposto, depois de tudo o que aconteceu. Dirigi direto para a minha casa, o silêncio pesando como chumbo.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora