Capitulo 4

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Thiago Crocker

  Bem... Acho melhor ir direto ao ponto. Estamos há algum tempo nos encarando, nossos corpos colados, e os olhos dele fixos nos meus lábios. Antes que eu pudesse reagir, sua boca encontrou a minha de uma maneira rápida e feroz. Não que eu esteja reclamando...

  Sim, eu admito que fiquei assustado com a atitude súbita e intensa, mas decidi apenas me entregar ao momento. Fechei os olhos e deixei minhas mãos repousarem em seu peito, sentindo a textura da camisa sob meus dedos. Suas mãos desceram até minha cintura, onde apertaram com firmeza. Um arfar involuntário escapou dos meus lábios. O frio das mãos dele me causou frenéticos arrepios que subiram pela espinha.

  Então, sua boca deixou a minha e desceu para o meu pescoço, traçando um caminho de destruição em minha pele sensível. Um gemido escapou, baixo e sufocado. Eu não consegui controlar. Estava entregue. E foi nesse instante que tudo mudou.

  Sem aviso, Matheus me empurrou com força. Meu corpo bateu contra a parede, e eu me encolhi. Seus olhos, que antes carregavam algo parecido com desejo, agora eram puros ódio, e a confusão no meu olhar se intensificou.

  — Se você contar pra alguém o que aconteceu aqui, eu acabo com a sua vida, seu viadinho de merda! — Matheus cuspiu as palavras, ódio fervendo em cada sílaba. Seus olhos, que antes transmitiam uma mistura de desejo e medo, agora estavam tomados por um rancor frio.

  Ele cuspiu no chão e limpou a boca com a palma da mão, o gesto carregado de desprezo. Saiu da sala com passos pesados, quase arrancando a porta do batente ao passar. Fiquei ali, encostado na parede, meus dedos tremendo enquanto tocavam meus lábios, ainda doloridos do beijo feroz. Observei pela janela o carro dele arrancar com velocidade.

  Passei dias tentando entender o que havia acontecido. Não nos falamos durante a semana seguinte, e ele agia como se nada tivesse acontecido. Mas nós dois sabíamos a verdade. Havia algo entre nós, algo que não desaparecia, mesmo com o silêncio e as risadas maldosas que vinham dos amigos dele. Toda vez que eles me provocavam, Matheus ria. E cada risada era uma punhalada no meu peito.

  O sábado chegou como qualquer outro dia. Uma tarde entediante e quente. Meu celular tocou, me tirando dos pensamentos. Atendi sem olhar quem era, e a voz do outro lado explodiu como um grito.

— OOOOIII, QUERIDO! — Any, tinha que ser ela. O grito foi tão alto que quase fiquei surdo.

  — Meu Deus do céu, mana, eu devo ter roubado o último ovo de galinha da arca de Noé pra merecer isso… — murmurei, me jogando na cama.

  — Escuta aqui, fofinho. — ela continuou com o mesmo entusiasmo. — Você tem duas horas pra se arrumar. Vamos numa festa!

  Antes que eu pudesse responder, ela desligou. É claro, sabia que eu negaria seu "convite". Com um suspiro resignado, me levantei e me arrastei até o banheiro. Não sei vocês, mas eu me depilo enquanto tomo banho. É mais prático. Saí do banheiro 40 minutos depois e fui direto ao guarda-roupa. Peguei meu short verde de malha, aquele que fica meio justo em um corpo como o meu. Gosto dele porque realça minhas curvas, que acho até meio grandes demais. Comecei a vestir o short ao som de uma música que explodia no meu quarto:

“Tô fazendo amor com a favela toda, 
mas meu coração, babaca, vai ser pra sempre seu…”

  O ritmo envolvente preenchia o ambiente enquanto eu dançava e me arrumava. Esperava beijar muita boca, afinal, fazia tempo que não beijava ninguém. Voltei ao meu espelho, calcei meu tênis branco e vesti uma blusa preta. Peguei minha shoulder bag preta da Nike e finalizei o look com um gloss de morango e um perfume que sempre faz sucesso entre os garotos. A buzina lá fora me apressou.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora