Capítulo 3

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Matheus Calpalds

  As aulas hoje foram um verdadeiro tédio. Assim que o sinal tocou, fui direto para casa. Meu pai? Ah, ele está viajando há seis meses e só volta amanhã. Como eu me senti quando ele partiu? Para ser bem sincero, eu me senti aliviado. Sem ele aqui, pude fazer o que quisesse, sem ninguém para me vigiar, julgar ou impor regras. Eu podia ter a liberdade que sempre desejei. Com meu irmão mais novo, praticamente morando na casa da namorada, eu era o rei do pedaço.

  Poder sair e voltar a hora que eu quisesse, e até mesmo trazer quem eu quisesse para cá... Desde que tudo estivesse limpo no dia seguinte, claro. Para isso, temos a diarista, a Mariana. Ela vem quase todos os dias, mantém a casa impecável e ainda me deixa refeições deliciosas. Porque eu não limpo e cozinho? Ah, eu não fui feito para esses serviços... "de mulher".

  Assim que cheguei em casa, estacionei meu Porsche na garagem e me joguei no sofá da sala. O silêncio se instalou ao meu redor, preenchendo o espaço imenso e vazio da casa. Desabotoei a camisa, deixando-a aberta e liguei a TV, buscando algo que me tirasse daquele estado apático. Acabei escolhendo um filme adulto, algo que geralmente me animava. Tirei o pênis para fora e comecei a me tocar, observando cada movimento sensual na tela. Mas, para minha surpresa... Nada. Nem um único sinal de vida.

  Frustrado, guardei-o de volta e desliguei a TV com um movimento irritado. Levantei-me com um suspiro pesado, sentindo um nó de frustração no peito. Caminhei até o quarto, ainda tentando entender o que estava errado comigo. Por que não consegui me animar? Me joguei na cama e, perdido em pensamentos desconexos, acabei adormecendo sem perceber.

  Quando acordei, a luz do sol invadia o quarto pelas cortinas mal fechadas, queimando meu rosto. Peguei o celular largado no travesseiro ao meu lado e, com muito esforço, olhei o horário. 09:15 da manhã. Levantei, ainda sonolento, e fui direto para o banheiro fazer minha higiene matinal. Depois do banho, vesti uma cueca box preta, um short largo e uma regata, sem muita preocupação.

  Descendo para a cozinha, encontrei Mariana já a postos, limpando os cantos do balcão.

  — Mariana, capricha no almoço hoje. Faz algo especial, que eu vou te pagar o dobro do que você ganha por dia — falei, enquanto me servia de um copo d’água.

  Ela sorriu, satisfeita, e me garantiu que eu não me decepcionaria. Por volta das 12:15, o aroma delicioso da comida caseira se espalhava por todos os cômodos da casa, fazendo meu estômago roncar. Desci as escadas quase correndo, curioso para ver o que ela tinha preparado. Quando cheguei à cozinha, meus olhos se arregalaram.

  Lasanha, frango assado com linguiça, purê de batata cremoso, maionese, uma salada fresca, farofa de cenoura e arroz de forno com queijo derretido. Mariana, como sempre, tinha se superado. E, como se isso não bastasse, havia um mousse de chocolate na geladeira.

  — Eu já disse que amo essa mulher? — murmurei para mim mesmo, soltando uma risada baixa.

  Sem hesitar, tirei a carteira e dei a ela R$1.400,00. Ela arregalou os olhos, surpresa, mas aceitou com um sorriso e um aceno de cabeça agradecido. Após a dispensar para o resto do dia, subi novamente para o quarto e troquei de roupa.

  Enquanto me preparava para sair, escutei vozes na sala. Meu corpo ficou tenso, e caminhei devagar até o topo da escada, parando para escutar melhor. A voz do meu pai ecoou, misturada a outra voz feminina, suave e desconhecida.

  — Ele deve estar no quarto. Quando ele descer, lembre-se do que combinamos. Você é só uma amiga que estou ajudando — ele dizia, e parecia nervoso. — Ele ainda não está preparado para saber que eu me casei sem avisá-lo.

  — Tudo bem... Mas uma hora você vai ter que contar a verdade — a mulher respondeu, num tom resignado.

  Senti meu coração disparar. "Como assim, meu pai se casou?" Minha mente deu um giro. Ele havia me dito que estava viajando a trabalho. Que tipo de trabalho é esse que envolve uma aliança no dedo e uma mulher desconhecida na sala de estar? O choque rapidamente se transformou em raiva.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora