The Gift.

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O vento gelado bate em meu corpo, alguns fios soltos de meus cabelos voam em frente ao meu rosto, fazendo-me sentir algumas cócegas em minha pele. O silêncio que paira por ali apenas me fazer pensar mais e mais sobre tudo. Pensar que a quase três meses atrás eu ainda não suportava Ana, pensava estar presa em um universo paralelo e que a qualquer momento eu iria voltar para a minha casa, a verdadeira casa. Tinha certeza que era uma adolescente terminando o colégio, que todo aquele pesadelo era apenas um sonho ruim.

Como a Manoela do passado poderia imaginar que treze anos depois de repudiar a idéia de casar com Ana Caetano se tornaria algo real no futuro? Nunca. Se eu pudesse voltar e dizer isso para ela pessoalmente, provavelmente veria um suicídio de mim mesma.

Passei anos da minha vida odiando e repudiando a presença constante de Ana, no início meu ódio era apenas por ela ter sido uma idiota. Mas depois ela começou a se mostrar ainda mais idiota do que era, e isso fez um ódio começar a nascer dentro de mim. Eu simplesmente não podia ouvir falar dela, ou o nome dela. A presença dela no mesmo lugar que eu me fazia ter crises asmática. Tudo em Ana me fazia não gostar dela, era como se eu fosse alérgica a ela. Tecnicamente eu era mesmo.

E então eu me pergunto... Como viemos parar aqui? Sei que ela já me contou sobre nosso primeiro beijo, mas não me contou o motivo que eu quis me afastar dela depois disso, além do medo que eu devo ter sentido, é óbvio. Porque bem.. Ela era como minha inimiga, e eu não a suportava. Bem lógico eu ter ficado apavorada após beijar ela, certo? E segundo ela, foi eu quem tomou a atitude para que o beijo rolasse.

Talvez eu só quisesse fazê-la calar a boca.

Ou talvez a Manoela do passado quisesse descobrir porque as garotas se apaixonavam por Ana.

Pode ter sido curiosidade.

Ou talvez, mas só talvez um pouco de atração.

– Não está com frio?

Ouço uma voz atrás de mim, olho para o lado a tempo de ver Ana passar pela porta de vidro, duas canecas em suas mãos. Sei que é algo quente, pois é possível ver a fumaça sair pelo topo de ambos os copos. Sorrio para ela, ajeito-me no banco e dou espaço para que ela possa sentar ao meu lado.

– Na verdade não.

– Aqui, café com creme, do jeito que você gosta. – me estende a caneca branca com desenhos de patinhos. Ana passa um braço por cima dos meus ombros e me puxa para perto dela, inclino a cabeça para trás e me apoio em seu ombro. – O que tanto pensa? Parecia bastante concentrada quando eu cheguei aqui.

Levo a caneca até os lábios e sorvo um pouco do café, soltando um suspiro de satisfação pelo gosto maravilhoso da cafeína mesclando com o gosto doce do creme de baunilha. Ana sabe tudo do jeito que eu gosto, por isso é a esposa perfeita.

– Estava tentando me lembrar dos nossos tempos de escola. Queria entender um pouco mais sobre nós duas. – bebo grande gole do café, sinto os dedos dela acariciarem meu ombro esquerdo. – Minha mente parece ter uma grande bolha de nada, eu só consigo me lembrar claramente de algumas coisas. Porém, nada importante.

– Me pergunte, talvez eu consiga te fazer lembrar.

Um sorriso nasce em meus lábios, é isso. Essa mulher é um gênio. Viro-me de lado e coloco minhas pernas sobre as dela, Ana apóia a mão em minha lombar para me dar equilíbrio. Seguro a caneca com as duas mãos e olho para ela, penso no que devo perguntar primeiro.

– Depois do nosso primeiro beijo.

– Que você me atacou e saiu correndo.

– Sim. – sorrio sem jeito, ela bebe um gole do café dela. – Você disse que eu comecei a evitar você, certo? Mas por quê? Foi somente por causa do beijo?

Stupid Wife [Caevassi Version]Onde histórias criam vida. Descubra agora