– Por favor, não vá.
Supliquei, segurando com força a lapela da jaqueta preta que Ana vestia, ela suspirou e acariciou meu rosto com seus polegares.
– E por que eu ficaria?
– Por mim. – Ana paralisou ao me ouvir. – Fique por mim.
°°
Desperto assustada, meu coração bate acelerado no peito, estou ofegante e sinto meu corpo pesado. Já tinha três noites que eu acordava dessa forma, o mesmo sonho, a mesma sensação estranha. Não sei identificar se era uma lembrança ou apenas um sonho estranho.
Mas todas as vezes acontece a mesma coisa, estou chorando agarrada na jaqueta de Ana, implorando que ela não vá embora, sei lá para aonde, e ela sempre diz a mesma coisa e então peço que ela fique por mim.
Recupero o fôlego e aos poucos as batidas do meu coração normalizam, suspiro e me sento na cama. Tudo está silencioso, silencioso demais. As grossas cortinas me impedem de saber ao certo se ainda é noite ou se já amanheceu, mas ao olhar para o lado, vejo que já amanheceu. À muito tempo por sinal, já são 10:00am.
– Que ótimo jeito de se iniciar o dia.
Comento e solto uma risada irônica. Eu nunca gostei de pesadelos, sonhos estranhos. Sempre os odiei na verdade. E esse em especial está começando a me apavorar.
Não que Ana esteja planejando me abandonar, eu sinceramente espero que não esteja. Mas... As coisas andam tão estranhas. Estou preocupada, e com medo. Bastante medo.
E eu simplesmente não sei explicar o motivo.
Levanto-me da cama, me espreguiço, bocejando umas duas vezes. Coço a cabeça e vou em direção ao banheiro. Somente um banho gelado é capaz de me despertar totalmente.
Após o banho, vou até o closet e pego uma calça de moletom escura, uma blusa de mangas compridas e um novo par de meias. Saio do closet e abro as cortinas do quarto, a luz adentra o quarto aos poucos e pressiono meus olhos - ainda sensíveis.
– Tenho que conversar com Ana para me mostrar a cidade, não aguento ficar sem fazer nada nessa casa sozinha.
Suspiro frustrada e viro de costas para a janela. Olho em volta, como se o quarto fosse me dar algum tipo de ideia do que fazer. Porém. Nada.
Penso em jogar videogame, mas não faço ideia de como se mexe naquele troço gigante lá na sala. Sem contar que a tecnologia parece milhares de vezes mais avançada, não me sinto familiarizada com ela ainda. É uma droga, eu sei.
(...)
Ainda estou no quarto, toda esparramada na cama na verdade, cercada de pacotes de salgadinhos enquanto assisto vídeos meus com Ana e Joaquim. No momento eu estou assistindo um do aniversário de três anos do meu filho. O parabéns já passou, agora alguém estava filmando Ana e eu com o pequeno. Joaquim está sentado em meu colo, Ana ajoelhada em frente a mim fazendo caretas e algumas cócegas na barriga do pequeno, que gargalha com vontade.
É impossível não ver o quão felizes nós éramos. Ana parece tão extrovertida no vídeo, diferente da Ana meio retraída de agora. Acho que gostaria de ver essa Ana mais solta, brincalhona. Carinhosa.
Ana é bastante carinhosa, já deu para perceber isso.
– Vai filho, manda um beijo pra tia Cat.
Ana pede ao pequeno, ele olha para a pessoa que está gravando e balança os bracinhos. Ana fala algo no ouvido dele e em segundos o pequeno coloca a mãozinha sobre a boca e joga um beijo estalado em direção a câmera. Eu sorrio e o balanço, comemorando. Joaquim ri e Ana faz sinal de positivo com o polegar para ele.
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Stupid Wife [Caevassi Version]
Hayran KurguVocê já se imaginou casada com alguém que você nunca suportou na vida? Manoela também nunca tinha imaginado isso, muito pelo contrário. Era para ter sido apenas uma manhã normal, Manu acordaria, tomaria seu café com sua família, depois iria para a e...