3. A cena da toalha

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— Então ele disse que você desperta coisas nele? — Foi a pergunta de Michael na chamada de vídeo.

— Cara, isso foi tudo o que você absorveu do que te contei? — Suspirei impaciente, girando de barriga para cima no tapete de sala. — Eu. Estava. Com. Uma. REMELA. No. Olho. Michael. É oficial.  Avise o Artur que irei morar com vocês, pois sou incapaz de lidar com isso.

— Você é ridícula. — Concluiu ele. — Aprenda a lidar com as vergonhas da vida, Marina. Além disso, ele tem uma filha de 5 anos. Remela deve ser a coisa menos nojenta que ele precisa lidar no dia-a-dia. E você bem sabe que, o Artur não suportaria eu e você sob o mesmo teto.

— Não suportaria mesmo. — Artur gritou ao fundo da chamada.

— Eu não lavo meu cabelo há 4 dias, Michael. E o cara parece um Ken de cabelos castanhos que acabou de sair da caixa. — Levantei do chão e sentei no sofá.

— Eu não vou mais discutir a sua negligencia com hábitos de higiene, garota. Agora pare com essa vitimização e  trate de descobrir qual o significado de "JP" para que a gente possa catar o Instagram dele e descobrir se ele é solteiro. 

— E para que a gente possa descobrir se ele é realmente esse deus grego que você descreveu. — Artur acrescentou.

— Eu hein, segura a tua onda, garoto! — Michael deu um tapa na nuca de Artur, repreendendo-o.

— Eu não te trocaria por nenhum Ken moreno, sarcástico, veterinário e gostoso no mundo, meu amor. — Foi a resposta de Artur para o Michael e o casal trocou um selinho.

— Vocês querem ficar sozinhos? — Coloquei o dedo na boca, simulando que iria vomitar.

— Fala sério, Tuti? Até eu me trocaria pelo vizinho gato da Marina. — Michael acrescentou, fazendo-nos rir. 

— O Michael tem razão, Nina. Você deveria olhar as coisas por uma nova perspectiva. Tudo bem que você não estava nos seus dias mais radiantes, mas... ou ele vem de uma terra longínqua chamada de simpaticolândia ou ele tava dando encima de você. 

— Eu quero acreditar que ele estava dando encima de mim, mas isso tá perfeito de mais. Deve ter alguma pegadinha ou o cara tem algum problema. 

— É obvio que ele tem algum problema. Ele é um pai de, julgamos, 22 a 27 anos, solteiro e com um senso de humor muito peculiar. Mas vamos e viemos que você também não é muito certa. — Disse Michael.

— Obrigada, amigo! Ajuda muito na minha autoestima.

— Vejamos, — ele continuo. — Marina, uma jovem com possíveis problemas com alcoolismo. Mãe de gato e mantendo uma rotina de trabalho completamente insalubre de 20 horas diárias. Esqueci algo? — Ele perguntou para Artur, que deu de ombros. — Ah sim, com complexo de adolescência eterna, que mesmo beirando os seus 25 anos e uma coluna fixa no jornal mais lido da atualidade, insiste em pintar o cabelo de azul. 

Coloquei a mão no peito, me fingindo ofendida.

— Só isso, Michael?

— Por ora, sim. 

— Me declaro culpada de 90% das acusações, mas protesto ao que se refere a minha jornada de trabalho. A culpa de eu ter que trabalhar 20 horas por dia é totalmente sua e do seu perfeccionismo irritante.

— Abra uma reclamação no RH, meu amor!

— O RH está de férias e peço que resolvam os seus problemas pessoais sem me envolver. — Artur se esquivou.

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