— Engraçado, não é?
JP desviou os olhos do semáforo e me encarou com um sorrisinho fraco nos lábios.
— O semáforo avisa quando vai fechar, mas não avisa quando vai abrir.
Eu estava sentada no banco do carona com os joelhos dobrados e apoiando os pés no banco. Ele me olhava com ar de deboche o que me deixava irritada, porque eu realmente estava indignada com a questão do semáforo.
— Essa é uma ótima observação, Marina. — Disse Ana Clara. Ela estava sentada logo atrás de mim na sua cadeirinha.
O sinal ficou verde e o João Pedro acelerou.
— O semáforo avisa quando vai fechar para você diminuir a velocidade.
— Ou acelerar. — Ana Clara complementou a frase do pai.
— A questão é que se ele avisasse quando fosse abrir, você já poderia deixar o carro engatado. O que evitaria buzinas dos apressadinhos.
Sem me olhar, ele esfregou a mão abaixo do nariz. O sorrisinho debochado ainda permanecia em seus lábios. A iluminação baixa da rua deixava seus olhos verdes em um tom amarelo parecido com o pôr-do-sol.
Por que homens dirigindo ficam tão sexy? A forma como ele vira o volante com a mão aberta e dá olhadas esporádicas pelo retrovisor estava realmente me seduzindo.
Sabe quando você está olhando para baixo de um lugar muito alto e uma voz na sua cabeça diz para você pular? Essa voz estava gritando para que eu tirasse meu cinto de segurança e voasse para o colo dele.
Fechei os olhos e sacudi a cabeça me livrando dos pensamentos indecentes. A filha dele está literalmente sentada atrás de você, Marina. Se controla!
— Nina, você acredita que o meu pai não quer deixar eu pintar o meu cabelo de azul?
— O quê? Por que não? — Encarei-o bem a tempo de vê-lo repreender a filha com o olhar através do espelho retrovisor.
— Você sabe que a escola não permite, Clara. Não são as minhas regras.
— Ainda assim são regras de mer... mer... luza.
O JP não conseguiu segurar e dessa vez o riso explodiu da sua boca. Era uma risada gostosa de se ouvir. Comecei a rir junto com ele e a Clara acompanhou.
— O que é merluza?
— É um peixe. — João Pedro respondeu à filha no instante em que estacionou em frente a lancheria e piscou para mim. — Quem tá com fome?
— Eeeuuu! — Respondemos em coro com os braços para cima em sinal de empolgação.
Ele havia tirado o seu cinto de segurança e seu corpo estava inclinado na minha direção. Ele umedeceu os lábios carnudos e abriu um sorriso largo. Meu corpo congelou por alguns segundos, eu queria muito beijá-lo. Ele colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e com seus olhos fixos nos meus inclinou ainda mais o corpo na minha direção. Prendi a respiração porque não estava acreditando que ele ia realmente me beijar na frente da filha. Então, ele apoiou a mão no encosto de meu banco e com o outro braço soltou o cinto da cadeirinha da filha. Aliviada e levemente decepcionada soltei a respiração.
Ele encolheu os ombros ao sentir o sopro no seu pescoço.
— Desculpa. — Cobri a boca com as duas mãos já sentindo meu rosto corar. De fato, não havia sido de propósito, mas não podia negar que havia gostado de tê-lo deixado arrepiado com uma simples respiração.
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Vizinhos
RomanceMarina trabalha como jornalista para uma plataforma de notícias da internet. Seguia normalmente sua vida de jovem adulta, pagando boletos das compras online e comprando ração para o seu gato Gary, até que uma garotinha deveras falante e seu pai supe...