22. Fadas morrem nesse capítulo

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Acordei com o sol me dando um soco bem no meio da cara. Em um sobressalto me sentei na cama puxando o edredom até a altura do peito. Para minha tristeza, estava sozinha no quarto extremamente branco e organizado do JP. As paredes eram brancas, os móveis eram brancos e as roupas de cama também. Não havia nenhum adorno nas mesas de cabeceira, somente um copo com água e um relógio digital que marcava 9 horas e 47 minutos. Rolei na cama e peguei o celular na outra mesa de cabeceira.

Um e-mail do Michael reagendando a reunião das 8 horas e 15 minutos para às 11 horas. Uma mensagem de texto dele me perguntando porquê não entrei na reunião e uma mensagem de texto do João Pedro.

J.P.:

Desculpa sair de fininho. Eu tinha um encontro com um coelho de dentes infinitos marcado para às 7h30.

Não tive coragem de te acordar então, mi casa su casa.

À propósito, você baba enquanto dorme.

Bom dia, quase namorada.

Me deitei novamente na cama e abracei o travesseiro. Tinha o cheiro dele, óbvio.

Aproveitando que estava sozinha, resolvi dar uma curiada. Ninguém saberia de nada, então ninguém me julgaria por isso e eu só queria ter certeza de que ele não era um psicopata e que não tinha nenhum corpo escondido atrás de nenhuma porta.

Sabendo da configuração do apartamento já que era idêntica ao meu, abri a porta da frente que só podia ser o quarto da Clara e instantaneamente meu queixo foi ao chão.

O quarto era totalmente temático. A cama tinha formato de foguete e ficava numa espécie de beliche. Havia uma escada para subir na cama e um escorredor para descer. Onde deveria ficar a cama de baixo em uma beliche normal, havia uma escrivaninha com vários desenhos coloridos de, o que eu julguei serem, monstros alienígenas. O lustre tinha formato de lua e do teto pendiam os planetas do sistema solar. As paredes eram pintadas em azul escuro com várias estrelas e pequenos planetas desenhados. Haviam muitos brinquedos no chão e nas prateleiras. Com certeza era o cômodo mais colorido e com personalidade da casa toda.

Se algum dia eu fosse querer colocar um filho nesse mundo maldito, com certeza eu gostaria que o JP fosse o pai. Fechei a porta novamente e parti para a minha parte favorita de ser explorada, o banheiro.

Abri as portas do armário abaixo da pia e olhei todos os produtos. O que mais me chamou a atenção foi o número expressivo de produtos pra cabelo. Fora isso, nada muito revelador. Gel pós barba, um kit de condicionador e shampoo do Buzz Lightyear, papel higiênico, toalhas e muitos produtos para limpeza. Na parte mais alta acima do espelho da pia, lâmina de barbear, remédios, uma caixa de camisinha e um tubo pela metade de lubrificante. Com certeza as coisas mais divertidas estavam fora do alcance de crianças. Anotei mentalmente esse fato importante.

Quando notei o copo com as escovas de dente encima da pia, me dei conta que a minha mochila com a chave do meu apartamento havia ficado dentro do carro. Com o fogo no rabo em que saímos da garagem na noite anterior, eu nem sequer havia lembrado de pegar as minhas coisas no banco traseiro.

Fui para a sala em busca da minha mochila e não encontrei-a. Isso significava que eu não tinha notebook para trabalhar remotamente e nem acesso às minhas roupas para ir ao escritório. Enviei uma mensagem ao J.P.

Marina:

Pode dar uma olhada se a minha mochila está no seu carro?

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