— Mas é sério, sobre o que foi aquilo?
— Um cara qualquer que leu algo que não gostou.
— Então é normal as pessoas te atacarem na rua?
— Eu não diria normal, mas comum? É sim.
— Nossa, Nina. Isso é horrível! — Ele esticou a mão por cima da mesa de madeira do bar. Um choque correu pelo meu braço quando seus dedos envolveram os meus. — Se o cara fosse uns 20 ou 15 anos mais jovem, eu teria quebrado a cara dele.
Não consegui evitar uma risada.
— Sorte a dele então.
Ele retribuiu o sorriso e acariciou minha mão.
— Duas cervejas. — Anunciou o garçom ao nosso lado.
Instantaneamente puxei minha mão da sua. Ele me encarou com a testa levemente franzida. Eu também não havia entendido o porquê havia feito isso. Acho que não estava acostumada a demonstrar afeto em público. Curiosamente mantive minhas mãos no colo, longe dos seus dedos longos e finos.
Agradecemos ao garçom. JP ergueu o seu copo americano propondo um brinde.
— Aos bons vizinhos.
Abri um sorriso e bati meu copo no dele.
— E ao acaso que te trouxe pra mim.
Seu sorriso se alargou tanto que seus olhos quase se fecharam. Bebemos um gole do líquido cor de ouro.
— Seria essa uma demonstração de sentimento vindo direto de Marina Coração de Gelo? — Ele levou a mão ao peito. — Devo me sentir lisonjeado?
— HÁ HÁ! — Revirei os olhos e chutei-o por debaixo da mesa. — Nem todas as pessoas, na verdade, pouquíssimas pessoas tem a capacidade de gritar seus sentimentos aos 7 ventos como você faz.
— Você deveria se sentir lisonjeada então. — Ele escorregou o cóccix para a ponta da cadeira, sentando com as pernas mais abertas. Vestia uma jaqueta de couro preta que destacava seus olhos claros e sua postura de garoto mal.
— Você é sempre egocêntrico assim?
— Só nos primeiros encontros. — Ele deu uma piscadinha e se inclinou sobre a mesa, a proximidade inundando meus pulmões com o seu perfume doce e tornando imperceptível o cheiro de cigarro que pairava anteriormente no ar. — É meu charme para que as garotas queiram um segundo. — Então ele se afastou e abriu um sorriso brincalhão.
— E quem disse que isso é um encontro?
— Definitivamente isso é um encontro. — Ele ergueu uma das pernas acima da mesa e apontou para o rasgo no joelho da calça jeans preta. — Estou usando minhas calças de encontro, então... você meio que vai ter que aceitar que isso é um encontro.
Mais uma vez ele conseguiu me arrancar um riso sincero. OK, talvez isso fosse um encontro.
— Não se esqueça, senhor Calça de Encontro, que fui eu quem te chamou pra beber. — Ergui a sobrancelha desafiando-o. Se ele pensava que ia controlar a situação, podia ir tirando o seu cavalinho da chuva. Eu não me curvo pra ninguém, não importa o quão gostoso seja.
— Ah, eu nunca negaria isso. Já te disse mais cedo e repito caso você não esteja entendendo: eu estou à sua mercê.
Ele baixou a cabeça e movimentou a mão em uma reverência como se fosse um duque. Seus olhos sagazes que me encaravam por baixo das sobrancelhas grossas e o seu sorriso petulante contradiziam seus gestos e as suas palavras. Garoto sem vergonha.
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Vizinhos
RomanceMarina trabalha como jornalista para uma plataforma de notícias da internet. Seguia normalmente sua vida de jovem adulta, pagando boletos das compras online e comprando ração para o seu gato Gary, até que uma garotinha deveras falante e seu pai supe...