10. Um anjo de cabelo azul e uma caixa de lápis de cor nunca aberta.

332 67 15
                                    

Mensagem de J.P.:

Toc, toc.

Abri a porta e logo levei os dedos aos lábios, sinalizando que ele falasse baixo.

- Você salvou a minha pele. - Ele escorou o ombro no marco da porta.

- É, eu sei. E agora você me deve uma.

- É, você tem razão. E como uma forma de agradecer pela sua gentileza, eu te trouxe isso... - Ele então puxou das costas um pacote de papel pardo com um desenho de hambúrguer estampado.

- Você me trouxe um hambúrguer de café da manhã?

- O quê? - Ele virou o pacote para olhá-lo. - Não, na verdade é uma bomba de chocolate ali da padaria. - Ele encarou a embalagem confuso.

- Não brinca! - Arranquei o pacote das mãos dele e entrei no apartamento.

- Isso foi uma reação positiva? - Questionou-me enquanto me seguia porta à dentro. - Agora que notei a embalagem reciclada, me questiono se deveria ter comprado naquela confeitaria lá do centro.

- Não. A padaria da esquina é ótima, eles compram as embalagens da promoção, mas as bombas de chocolate deles... - Fechei os olhos e suspirei extasiada. - dos deuses. - Completei.

Me sentei no sofá e ele sentou-se ao meu lado.

- Então... - Ele olhou em volta. - Seu apartamento é bem legal.

Lembrando-me da visita que eu havia feito anteriormente no apartamento dele, um completo oposto do meu, me perguntei o quanto daquela frase havia sido sincera. Ele tamborilava os dedos da mão direita no braço do sofá como se estivesse um pouco nervoso, mas havia cruzado uma das pernas sobre o joelho, um comportamento que demonstrava que estava se sentindo à vontade. O seu braço esquerdo, descansava no encosto do sofá e a sua mão estava a poucos milímetros do meu ombro. Ele observava cada canto com a testa levemente franzida como se tentasse decifrar-me enquanto analisava os quadros nas paredes. Os cantos dos seus lábios subiram, esboçando um leve sorriso quando viu a minha medalha de colunista destaque do ano que estava colada no espelho da sala. Concluindo que havia sido um elogio sincero e não um deboche, agradeci com um "valeu".

Rasguei a embalagem de papel e mordi o doce. - Isso é muito bom. - Disse revirando os olhos e ofereci uma mordida para ele, que aceitou.

Ele segurou o doce por cima das minhas mãos e assim que me tocou, meu coração deu um pulo. O sol que começava a nascer, despejava uma iluminação gostosa pela sala.

- Nada mal. - Foi a opinião dele sobre o doce.

- Nada mal? - Fingi ofensa.

- Tá, deixa eu provar mais uma vez.

Levei o doce à boca dele e ele novamente segurou a minha mão, mas dessa vez afastou-a do seu rosto e antes que eu pudesse entender, encaixou a mão que antes estava no encosto do sofá na minha nuca, inclinou o seu corpo para mais próximo do meu e me beijou. Seus lábios tocaram os meus suavemente.

Eu realmente não esperava por isso, mas gostei. Retribuí o seu beijo lento. Seus lábios sugando suavemente a superfície dos meus até que eu cedesse espaço para a sua língua adentrar a minha boca. Talvez por ter sido algo inesperado ou mais suave do que o beijo no elevador, não senti nenhum desconforto no estômago ou palpitação. Meu corpo estava inerte e em choque. Em completo êxtase. A minha língua, por sua vez, já conhecendo aquela dança, acompanhava-o como se tivesse estado em companhia da dele por toda a vida. Nossas línguas se acariciando de forma alternada. Ele infiltrava-se por entre os meus lábio tocando a sua língua na minha suavemente, só para depois recolhe-la de volta à sua boca, me fazendo esticar a minha própria língua que agora parecia incapaz de permanecer solitária em seu próprio espaço. Na sequência, eu invadia a boca dele, tocando a sua língua com a minha só para em seguida recolhê-la também. Entre esse pique-esconde de línguas, seus lábios macios e doces, seguiam massageando os meus. A textura da sua boca contra a minha, me fazia sentir um leve formigamento na pele, como se além de saliva, durante o beijo, também estivéssemos trocando energia.

VizinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora