Scars - Jikook

Capítulo 17

Jimin 

O filme favorito da minha mãe é A Bela e a Fera. 

Passei muitas noites assistindo quando era criança. 

Enquanto eu estava neste hangar vazio e barulhento com os ventos de inverno chicoteando do lado de fora, eu me lembrei daquele filme. 

Eu senti algum tipo de afinidade com a besta. 

Eu estava sozinho e miserável, a pior parte é que era culpa minha. 

Eu estava com raiva e fechado. 

Eu culpei tudo ao meu redor por todos os danos internos. 

Houve um tique-taque do relógio; simplesmente não tinha a forma de uma rosa. 

Eu não me lembrava exatamente o que transformou o homem em uma besta, mas eu sabia exatamente o que me transformou no que sou hoje. 

Ele viu. 

Ele não poderia saber, mas de alguma forma, impossivelmente, ele entendeu. 

Esse tipo de compreensão só vem da experiência, do tipo de dor forte o suficiente para colocar um homem de joelhos. 

Eu vi isso nele também. 

Quais eram as chances? 

As chances de que dois homens tão destruídos se encontrassem? 

A probabilidade de que todas as nossas peças quebradas de alguma forma se encaixassem para criar algo inteiro? 

Um milhão para um? 

Mais? 

Não importa. 

As chances não estavam a meu favor; elas nunca estavam. 

Fiquei furioso por ele simplesmente sair do carro, brandindo alguns contratos e um conjunto de olhos castanhos que viam além do meu exterior, além da minha parede furiosa. 

Ele me desafiou.  

O que foi pior? 

Ele estava certo. 

Eu estava me escondendo aqui atrás da cerca ao redor desta pista de pouso. 

Lambendo minhas feridas? 

Talvez no início - ok, definitivamente no início. 

Mas essas feridas não estavam mais abertas. 

Elas não sangravam. 

O que restou foram cicatrizes e ecos de dor que provavelmente nunca iriam embora. 

O que aconteceu comigo alterou tudo que eu era e pensava. 

Não havia como voltar atrás. 

Mas talvez houvesse uma chance de seguir em frente. 

Eu estava parado no lugar agora. 

Olhando no espelho retrovisor. 

Olhando em uma direção que eu não podia ou não queria ir. 

Eu fiz toda aquela luta, passei por toda aquela dor excruciante. 

Eu perdi minha casa. 

Minha família. 

A minha vida inteira. 

Para que? 

Para acabar aqui? 

Para passar meus dias em um estado perpétuo de congelamento? 

Estar sempre olhando por cima do ombro, em vez de olhar para a frente?