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Os olhos negros da garota, fundos como poços sem fundo, estavam fixos no teto branco, que pulsava em tons de branco-acinzentado e branco-amarelado conforme o sol da manhã se esforçava para romper as cortinas grossas. A cada raio de luz que se aventurava pela fresta, a sensação de incômodo se intensificava, como se o próprio teto estivesse a vibrar em sincronia com a crescente agonia em seu peito. Era mais uma noite mal dormida, e a frustração se instalava como um nó na garganta, apertando-a a cada suspiro.

A culpa, como um fantasma faminto, rondava seus pensamentos, alimentando-se de suas lembranças. As imagens, nítidas e cruéis, se espreitavam em cada canto da mente, como se estivessem gravadas a fogo em sua retina. Um turbilhão de emoções, uma mistura tóxica de arrependimento, culpa e medo, a mantinha presa em um ciclo de insônia e angústia.

Cada vez que fechava os olhos, a cena se repetia, como um filme em loop, sem fim. O rosto do homem, distorcido pela raiva, as palavras cruéis que ecoavam em seus ouvidos, a sensação de impotência que a oprimia. E então, o aperto no peito se intensificava, a respiração se tornava superficial, e o suor frio escorria por sua pele.

A noite se esvaía, dando lugar à madrugada, mas o sono continuava a fugir de seus braços. A garota se contorcia na cama, procurando uma posição que aliviasse a dor, mas em vão. O tormento se instalara em seu corpo, em sua alma, e a madrugada se tornava uma testemunha silenciosa de sua agonia.

– Aiko – Uma voz suave a acordou de seus pensamentos, sentindo uma mão macia em sua cabeça, fechou os olhos se entregando ao toque materno. – dói? – A rosada perguntou já esperando a resposta de confirmação da garota que apenas apertou o tecido de sua blusa na região onde se localizava seu coração.

– Está tudo bem – Aiko suspirou esfregando os olhos que marcavam algumas olheiras. – Ah, hoje já acaba a suspensão? – Sakura assentiu – Eu acho que vou sair da academia, vida de estudante não é comigo.

– Aiko Uchiha Haruno – A garota sentiu um frio na espinha e olhou para Sakura que estava com seus mãos postas na cintura.

– Fudeu, ela falou meu nome completo – Se levantou rápido sem sequer prestar atenção no que havia pela frente, e correu até o banheiro. – Eu já estou indo senhora algodão doce.

Quebra de tempo

Quase chegou atrasada na academia, podia se dizer alguns minutos antes, e ao pisar o pé na entrada, já sentia o arrependimento. A Uchiha já não tinha uma boa reputação, e depois do ocorrido, as coisas ficaram mais piores ainda.

– O que foi? – Aiko cruzou os braços – Perderam alguma coisa na minha cara? – Alguns de seus colegas se afastaram enquanto outros apenas cochichavam entre si.

– Aiko dá pra não arranjar problema? – Sarada falou indo de encontro a irmã.

– Ah, Sarada – Aiko acenou – Não estou arrumando problemas, eles que me olharam feio.

– Sinceramente – A Uchiha arrumou os óculos – vamos para a sala antes que você entre em alguma discussão.

Ambas seguiram juntas até a sala, claro, ainda recebendo olhares onde passava, claro que nem todos eram tão maldosos, alguns eram de pura admiração, não que ela ligasse, ou notasse, aliás, bendita seja a genética Uchiha.

– Eu não gosto do jeito que eles te olham – A menor parou sentindo uma mão brincar com seus fios soltos.

– Jeito? – Aiko arqueou uma sobrancelha. – você está vendo coisas Shikadai.

– Não estou não – O Nara suspirou – você que é muito lerda, sua tampinha preguiçosa.

– Que eu saiba você também é preguiçoso – Aiko protestou, em sua mão direita estava um palitinho de dangos que havia comprado minutos antes de chegar na academia e estendeu um dango em direção a Shikadai – quer?

Sangue puro (Irmã da Sarada)Onde histórias criam vida. Descubra agora