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A noite era uma entidade viva, fria e implacável. O vento gélido, típico do outono, chicoteava o seu rosto solitário, as folhas secas das árvores que de alguma forma "decorava" o local, se aventuravam pelo cemitério. Era uma fúria invisível que arrancava fios negros do cabelo solto, espalhando-os pelo ar como penas de corvo. A capa escura, um manto de mistério, a envolvia por completo, ocultando sua identidade e seus pensamentos.

Os olhos, brilhantes e penetrantes, observavam cada canto do cemitério com cautela. A escuridão, que se estendia como um véu sobre as lápides, parecia se intensificar a cada passo. O silêncio era ensurdecedor, um vazio que ecoava nos ouvidos, amplificando o bater do seu coração. Era como se o próprio cemitério estivesse em estado de espera, aguardando a chegada de sua alma perturbada.
A atmosfera era carregada de uma melancolia profunda, como se as almas aprisionadas nos túmulos estivessem sussurrando histórias de sofrimento e perda. O ar gelado carregava o cheiro de terra úmida e flores murchas, um aroma que se misturava ao cheiro de angústia que emanava da garota.

A sua presença parecia despertar algo no cemitério. Era como se as árvores retorcidas, que se erguiam como espectros, estivessem se inclinando para observá-la. As lápides, com seus nomes e datas gravados, pareciam sussurrar em uníssono: "Estamos aqui, esperando. Estamos aqui, ouvindo".
Ela, envolvida em sua própria tristeza, caminhava em direção ao centro do cemitério, onde um túmulo construído a mais ou menos cinco anos atrás se destacava. Era como se o cemitério, com sua atmosfera fúnebre, estivesse se preparando para receber mais uma vez suas lamentações.

Seus joelhos encontraram o chão frio e úmido pelo orvalho daquela noite, a pedra fria da lápide contrastando com o calor de seu corpo. As folhas secas, que se amontoavam sobre a inscrição, pareciam sussurrar histórias de um outono que já havia passado. Com cuidado, ela as removeu, revelando o nome gravado na pedra. A tristeza, um peso familiar, se instalou em seu peito. Era sempre assim. Todos os anos, em meio às mudanças do tempo e da vida, ela voltava. Voltava para o silêncio do cemitério, para a solidão daquele túmulo.

A sensação de abandono se intensificou ao observar as flores murchas, que ela mesma havia colocado há um mês. A cor vibrante que antes as enchia agora estava apagada, como um reflexo de sua própria alma. Delicadamente, ela retirou as flores secas, substituindo-as por lírios brancos, imaculados e perfumados. Com as mãos entrelaçadas, ela murmurou uma oração silenciosa, cheia de saudade e arrependimento. As palavras, sussurradas como um segredo, ecoavam no silêncio do cemitério. Ela pedia perdão, pedia conforto, pedia paz.

Ao terminar, seus olhos se fixaram na lápide, um espelho vazio que refletia sua própria dor. Aquela imagem tão viva em sua memória, se misturava ao mármore frio, criando uma névoa de saudade que a envolvia por completo. Era como se o cemitério, com sua atmosfera de melancolia, estivesse absorvendo sua tristeza, tornando-se um eco de sua própria alma.

Seus olhos antes negros, agora brilhavam em um carmesim intenso como uma rubi recém lapidada, suas pupilas se transformaram em uma flor de lótus perfeitamente desenhada e centralizada, cercada de três espirais espinhosas que giravam frequentemente. Suas mãos se juntaram novamente, não para retomar uma nova oração, mas para se fundirem em um selo que ao ser terminado, mostrou seu resultado ao colocar a si mesma em um genjutsu.

Seus olhos encaravam o "mundo" a sua frente como um filme, ainda parada, observava adultos e crianças andarem ao seu redor, ou até mesmo passarem por si como se fosse apenas um fantasma daquelas estórias para criancinhas. Aiko não ligava muito para aquilo, de certa forma até achava interessante e estranho, por assim dizer. No entanto, sua atenção se voltou para uma dupla de crianças que saiam correndo de uma pequena loja de conveniência com alguns doces nas mãos.

A Uchiha podia ouvir claramente as risadas gostosas que aqueles dois pilantrinhas davam, e parecia ainda mais divertido quando o dono da pequena loja, um senhorzinho já com o pé na cova saiu em busca dos dois delinquentes. Um garoto de cabelos negros, pele meio pálida e olhos vermelhos segurava a mão da garotinha de cabelos pretos e curtos, e olhos da mesma tonalidade. Ambos corriam frenéticos, com uma certa adrenalina que apenas as crianças tinham. Seu coração se encheu pela nostalgia, e por fim, decidiu retornar a infeliz realidade.

- Olha eu aqui novamente - Aiko se sentou no chão em posição de índio, em frente a lápide, um sorriso fino se instalou em seus lábios, enquanto seus olhos ameaçavam derramar algumas gotas de lágrimas. No entanto, respirou fundo, já havia repetido aquele "ritual" mais vezes do que podia contar. E de todas essas vezes, ainda não se acostumara.

- Eu entrei na academia recentemente. - Aiko começou depois de longos minutos para que o nó em sua garganta se dispensasse. - Ela não mudou nada depois que você se foi - Aiko estralou os dedos procurando as palavras certas naquele momento.

- A Sarada continua me repreendendo por algumas situações, a mamãe ainda fala sobre você, e o papai... - Aiko se xingou mentalmente, a sensação de aperto no coração acabara por aparecer novamente. - Você deve estar bravo por ele não vir te visitar, não é? Ele ainda se sente culpado. E eu também. - a última parte saiu como um sussurro. -

- Depois que você se foi, a mamãe me mandou para Suna, e passei três anos lá - Aiko mordeu seu lábio trêmulo, limpando as lágrimas que se formavam em seus olhos, respirou fundo, e voltou ao diálogo. - Você sempre me pediu para que fizesse novas amizades, que eu era uma pessoa muito solitária. - Aiko riu - Quando voltei para Konoha, conheci o Boruto e o Shikadai, e agora vivo me envolvendo em problemas.

Aiko segurou uma bolsinha que carregava consigo, retirando de dentro um embrulho. - A mamãe fez sua comida favorita hoje. - Aiko mordeu um pedaço do onigiri que continha uma pasta esverdeada por cima. - É meio nojento, ainda não entendo como você conseguia comer isso. - Aiko engoliu aquilo com dificuldade.

Uma linha de vento bateu em seus cabelos como se tivesse brincando com seus fios, e um sorriso a descontraiu. Era como se sentisse que ele estivesse ali, como se ele estivesse a olhando.

- Eu preciso ir - Aiko deu uma última mordida no onigiri e limpou suas vestes ao se levantar. Colocando novamente o capuz, Aiko olhou pela última vez naquela noite a lápide. - eu irei o encontrar, eu irei vingar sua morte, eu prometo, Daisuke.

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Notas da autora

O capítulo de hoje foi mais curto, eu sei, mas sendo sincera eu estava um pouco cansada e decidi ser um pouco breve.
Optei por um capítulo não muito explícito, e com um pequeno toque de mistério.

Aliás, quem é Daisuke?

Para quem me acompanha desde o início da fanfic, muito antes de começar a correção, já conhece o Daisuke. No entanto, para quem está começando agora, eu peço que aguardem mais um pouquinho, não fiquem ansiosos, eu irei colocar ainda mais suspense.

Sangue puro (Irmã da Sarada)Onde histórias criam vida. Descubra agora