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Fernando sorriu de lado quando viu Arthur e Dante saírem juntos pra algum lugar da boate. Pra ele era incrível ver como seus amigos aos poucos iam tomando seu rumo e criando coragem. Um dia ele também já foi assim, um jovem apaixonado e com medo e se não tivesse tomado uma dose de coragem pra se declarar pra Luciano eles nem estariam casados hoje. Ele se lembrava bem de como o ex-militar demorou pra aceitar seus sentimentos, de como ele ficou confuso e de como se jogou de braços abertos no amor que Fernando tinha pra dar depois de um tempo. Pra Luciano era estranho o fato de um homem amar outro homem, mas o que se podia fazer se ele já amava Fernando? Sem relutar ele quis se entregar e foi a melhor escolha de sua vida.

Fernando suspirou tristonho, queria ter o marido ali com ele pra beija-lo, pra eles dançaram aquela música cafona e também pra que pudessem se beijar e se curtir como alguns estavam fazendo. Erin se aproximou vendo o semblante triste do amigo e lhe acariciou os cabelos.

— Hey, Fer. Não fique assim, Lu não ia gostar nadinha de ver triste!

— Sei que não. Mas como posso me impedir de sentir saudades, Erin?

— Não pode, deve senti-la...-Erin suspirou-Mas faça como eu, se agarre as esperanças de que vocês tem chance de voltar a se verem um dia....Minha avó vai voltar, eu creio nisso assim como você pode crer que o seu amor é de Lu pode superar o impossível...

— Meu corpo foi destruído...Como eu poderia voltar?-Ele a encarou

— Não sei...Agatha pode pensar em alguma coisa, você possuir um outro corpo...

— Ficou doida, mulher? Prefiro ficar nesse mesmo!-Ele riu-Eu estou bem, ok? Só estou com mais saudade do que o normal porque hoje é nosso dia...

— Quer ficar um pouco sozinho?

— Sozinho comigo mesmo? Contemplando minha existência triste e solitária?-Fernando disse dramático e Erin riu

— Vem, Senhor Dramático. Vamos dançar!

A menina o puxou pela mão e eles começaram a pular animados na batida da música agitada que o DJ tocava. Todos estavam na pista de dança curtindo ao seu modo. Tristan e Beatrice aproveitavam pra suprir todo o desejo que vinham escondendo desde que se conheceram, Joui agora tentava ensinar alguns passinhos de dança pra Kaiser que estava perdido tentando aprender a dançar mesmo que ele realmente tivesse dois pés esquerdos e agora Erin e Fernando haviam se juntado a eles. Arthur e Dante saíram do banheiro uma bagunça de roupas amassadas e lábios inchados mas ninguém se importou com isso quando eles foram dançar com os amigos. Eles precisavam espairecer e isso era bom, mas tinha mais alguém ali, alguém que também os olhava.

                           —☆—

No QG Arnaldo dormia tranquilamente na cama enorme de Liz. O garotinho havia tomado um belo de um banho e estava cansado. Marcela fez um prato de sopa pra ele que devorou a comida e  caiu no sono logo depois. Liz também queria paz então deixou pra falarem do caso com o Senhor Verissimo amanhã. Agora ela estava deitada observando o menininho ressonar baixinho ao seu lado. Ela se sentia nostálgica e triste. Estava com saudade de Thiago e se perguntava o porque do homem ter sumido assim de sua visão. Arnaldo balbuciou o nome da Mãe e Liz fez carinho em sua cabeça enquanto ele fazia um biquinho adormecido.

— Thiagão...Você faz tanta falta, cara. Mas tanta...Meu coração está despedaçado desde que você se foi, desde que sumiu, eu nunca mais te vi...Não sinto mais o seu cheiro, sua presença...Isso dói tanto...-Ela sentiu uma lágrima grossa escorrer pelo canto do olho-Tanto tempo nos foi roubado, meu amor. Tanto...E eu boba como sempre fui nem pude te dizer o quanto eu te amava, Thiago. Olha agora...Te perdi pra sempre...Esse tempo nunca vai voltar...-Ela suspirou-Eu queria que ao menos estivesse aqui pra me dizer que o que venho pensando não é real...Esse menino é seu filho, Thiago?-Ela ainda fazia carinho na cabeça de Arnaldo

E no silêncio de seu quarto Liz desabou, ela não era tão forte assim, ela não havia superado a morte do melhor amigo, de seu grande amor. Ela estava triste, frustrada e decepcionada. Por que ela nunca soube sobre Arnaldo ou sobre Karen? Por que Thiago esconderia essas coisas dela? Pra protegê-los? Tantas questões sem respostas rodavam em sua cabeça e ela não conseguia pensar em nenhuma explicação coerente pra nenhuma delas. A mulher se levantou e caminhou até o pequeno frigobar que havia em seu quarto. Em cima dele havia uma garrafa de João Daniel que ela abriu e virou na boca.

— Uma garrafa pra cada vida que escorregou pelos meus dedos, essa foi minha promessa...-Ela sussurrou pra si mesma-Até quando eu vou me culpar pela sua morte, Thiago? Quando será que eu vou conseguir seguir em frente?

Ela se sentou ao lado da geladeira e com as costas na parede fria ela bebeu mais um gole. As lágrimas ainda caiam de seus olhos e logo ela sentiu bracinhos magros lhe envolverem.

— Não chora, titia. Você é bonita demais pra ficar chorando...

— Gente bonita também chora, Arnaldo.

— Minha mãe diz que não...-Ele sorriu banguelo

— Seu pai chorava?-Liz jogou verde

— Não conheci meu pai, minha mãe dizia que...-Ele se calou de imediato‐Tia, tô com sede...

— Vamos pegar água...

Liz agarrou a mão de Arnaldo e eles foram caminhando pelo QG atrás de um copo de água. Ela não ia obrigar a criança a falar. Se ele aprendesse a confiar nela mais cedo ou mais tarde ele ia abrir boca por conta própria e Liz acreditava nisso. Ia descobrir se o menino era mesmo um Fritz ou era só coisa de sua cabeça.

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