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      Kaiser suspirou alto e ia descer as escadas quando ouviu a voz de Joui soar baixinha.

— Se fugir de mim como eu penso que vai fazer eu realmente vou começar a achar estranho o fato do Arthur ter levantando o tom de voz com você naquela Van.

— Você ouviu? — Kaiser subiu alguns degraus denovo deixando o topo da cabeça e os olhos a mostra.

— Todo mundo ouviu...Mas acredito que só eu não estou conseguindo dormir por conta disso.

— Também não estou se te serve de consolo.

— Sabe o que me serve de consolo? - Kaiser negou. — Você por perto. Por que não sobe aqui comigo?

— Joui...

— Vamos, César-Kun. Podemos conversar até pegar no sono como fazíamos quando eu tinha aqueles pesadelos...

— O apanhador de sonhos ajudou?

— Acredito que sim...

     Kaiser terminou de subir as escadas e se colocou ao lado de Joui. O asiático puxou o amigo pelo braço e como um coala o abraçou todo desajeitado e Kaiser sentiu as bochechas esquentarem.

— Arthur foi tão certeiro assim? Pra você ter que fugir de seu quarto pra pensar?

— Como nunca foi...Arthur sempre sabe o que dizer e mesmo que agora eu esteja com medo de fazer algo a respeito das coisas que ele disse, no futuro elas vão servir de alguma coisa...

— Arthur não sabe, mas ele é muito espertinho. — Joui sorriu e Kaiser se aconchegou em seu peito.

     O silêncio os envolveu e Kaiser só conseguia escutar o bater agitado do coração do asiático. O coração de Joui martelava em seu peito e ele não se importava com o fato de Kaiser saber que o motivo era ele. Talvez as palavras de Arthur não tenham atingido apenas o cabeludo. As mãos de Joui foram de encontro aos cabelos negros de Kaiser e ali ele as repousou pra começar um carinho singelo. Os olhos de Kaiser se fecharam e como um gatinho ele se aconchegou ainda mais no peito de Joui. O asiático puxou uma coberta que estava abandonada ali pra cobri-los e suspirou alto pelo contato íntimo que trocavam.

— Sabe, eu consigo me lembrar de como eu vivi os dias mais felizes e os mais horríveis de minha vida em Carpazinha. Consigo me lembrar de como nos encontramos a primeira vez e de como eu te achei estranho, me lembro de seu pai e de toda a bravura dele, de cada um dos gaudérios e de como o Arthur se tornou uma parte importante nossa sem nem perceber. Mas sempre que olho pra trás, César-Kun, é inevitável que eu enxergue a mim e a você, que eu veja o Thiago Sensei e seu pai e creio que é por isso que estou aqui agora. A culpa entranhada em meu ser como uma segunda pele não me deixa dormir, porque eu queria poder ter feito mais por cada um deles, ter matado aquela aranha antes dela levar o seu Pai ou ter dado a minha vida no lugar do Thiago e assim dormir em paz.

— Eu acredito que o que restou da Equipe E carregue sempre consigo esse sentimento. Posso até fingir que não vejo mas eu sei que a Liz bebe por se culpar pela morte de Thiago, eu sei que Arthur chorar pelos gaudérios como você chora pelo seu Sensei e eu também sei que não sou mais o mesmo por ter deixado meu Pai ir sem ao menos dizer que eu o amava. Mas sabe o que é mais louco nisso tudo? É que mesmo carregando nossas cruzes, nenhum de nós desiste de lutar pela nossa família. Liz pode estar destruída mas ela nos protege como se fosse uma mamãe coruja, você pode estar despedaçado por dentro mas sempre coloca nossos desejos acima dos seus e Arthur não consegue se deixar cair em nossa frente....Tudo isso porque ninguém quer enterrar mais alguém. — Kaiser suspirou. — Por isso eu me pergunto se isso tudo vale a pena, Joui. Eu não ia suportar perder mais ninguém...

— Você não vai, César-Kun. Eu prometo que vou fazer de tudo pra que a gente não tenha que perder mais ninguém...

— Não prometa coisas que não pode cumprir, Joui...

— Alguma vez eu já quebrei alguma promessa que te fiz? — Kaiser negou. — Então acredite nessa também, por favor.

— Boa noite, Joui.

— Durma bem, César-Kun...

                            — ♤ —

       Arthur estava deitado, agora já não usava mais sua roupa de festa e estava sem sua camisa exibindo seu corpo bonito e musculoso pros olhos curiosos de Dante. O garoto agora mais a vontade vestia uma camiseta grande de Arthur e um shorts velho de pijama que ficava bem apertado nele pela diferença de tamanho tamanho dois. Dante repousava no peito do Gaudério que lhe acariciava os cabelos com louvor.

— Não acha que foi duro demais com o Kaiser?

— Ele sabe que não, ele e Joui precisavam ouvir aquilo. Até quando eles vão se privar de ser feliz, Dante? Ninguém sabe o dia de amanhã e ele pode ser tarde demais pros dois...

— Você fica fofo com essa carinha brava... — Dante sorriu e Arthur sentiu o coração palpitar.

— Você é fofo de qualquer jeito. — Arthur sorriu e beijou os cabelos de Dante. — Vai mesmo dormir comigo?

— Te incomoda?

— Nunca.

— Então eu vou...

— Eu ronco durante a noite. — Arthur admitiu rindo.

— Não se preocupe, eu tenho o sono pesado, meu amor.

      E depois de fechar os olhos Dante não pode ver, mas o sorriso que Arthur abriu pra si era capaz de ser mais brilhante e valioso que um diamante e o Gaudério adormeceu em paz com seu amor em seus braços.

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