Então, é Natal!

24 4 0
                                    

Dia da comemoração do nascimento de nosso menino Jesus!
Bi e eu montamos uma linda e grande árvore de natal e enfeitamos todo o casarão com lindos arranjos de flores, adornados com laços vermelhos e velas brancas.
Estava tudo lindo!

A noite, mais uma vez, está maravilhosa! Fresca e iluminada.
Da cozinha, o cheiro dos assados e dos doces nos deixam com água na boca!

No grande salão, Luis, meu pai, meu cunhado e meu sogro conversam sobre negócios. A safra de café bateu recorde mais um ano. Por isso, Luis e eu resolvemos dar uma boa gratificação natalina e alguns dias de folga aos colonos de nossa fazenda, para que possam visitar seus familiares.
Somente Bi, Nieta e duas ajudantes permaneceram na fazenda para nos
auxiliarem nos preparativos da noite de natal.

Minha mãe e eu colhemos algumas flores para complementar a decoração da mesa de jantar.
Ao voltarmos ouço Luis  elogiando alguns colonos paulistas :  Nieta, a cozinheira; Jane, a assistente; seu esposo, Augusto o sub-administrador e o Sr. Ucor, contador com grande experiência em negócios de fazenda de café.

Fico pensando... já vi este colono contador tantas vezes e só agora fico sabendo o nome dele. Sr. Ucor... Que nome engraçado!!!!

Nossa ceia de natal foi maravilhosa! Até padre Pil passou conosco e fez uma linda oração antes de cearmos.
Ele é muito divertido e, com certeza, bom de garfo! Mesmo porque, na verdade, estava tudo tão gostoso que todos nós abusamos  da quantidade e comemos sem rodeios e preocupação.

Sr. Pereira nos trouxe um excelente vinho de sua renomada adega.
Brindamos, conversamos e passamos uma agradável noite em companhia de nossas famílias e amigos!

No dia seguinte, todos retornaram para suas casas, enquanto Luis e eu aproveitamos para dormir até mais tarde, afinal, devido à grande colheita do café, os últimos dias foram corridos e cansativos!

Bi, Nieta e suas ajudantes, após nos auxiliarem na noite de natal, também saíram de folga por uns dias e aproveitaram para visitar seus parentes.

O dia engatinhou silencioso e com cara de preguiça...

Resolvemos passar o Ano Novo na fazenda de meu sogro. A festa de Réveillon dos Pereiras é tradicional e conhecida por todos os fazendeiros da região.

Meus pais decidiram ficar em casa . Eles não gostam de festas regadas a vinhos e champanhes.
Além disso, detestavam o tradicional "Pato no Tucupi", prato proveniente do norte do país, servido todos os anos no Réveillon dos Pereiras.

Vinha passará conosco, afinal,  além de ser oficialmente noiva de Carlos é super animada e festiva!

A festa  teria sido tão bonita quanto a de natal se não fosse por um pequeno detalhe: Rita e suas ousadias...

A mesa está linda! Preparada com zelo por Dona Cilene e minhas cunhadas.
Com sempre, o famoso "Pato no Tucupi" ocupa o lugar principal sobre a mesa, acompanhado de farofas, arroz de forno e enormes travessas de saladas.
Pequenas mesas de chá com deliciosos biscoitos amanteigados acompanhados de lindas jarras de cristal, com licor de cacau, ocupam lugares estratégicos no salão.
A decoração com velas enormes clareia todo o casarão.

Quando estávamos  prontos para brindarmos a chegada do Novo Ano, Rita adentra ao salão da fazenda com um vestido vermelho, super decotado e provocante, falando alto e dando muitas gargalhadas.
Quando olhei para Dona Cilene pude perceber seu  nítido constrangimento e reprovação por tal comportamento. 

Pensei: "Ainda bem que meus pais não estão aqui, pois com certeza mamãe passaria mal e meu pai ficaria nervoso com esta cena ridícula".

Não consigo entender o porquê de os Pereiras mantê-la na fazenda, mesmo depois de tudo que aconteceu!
Esta serviçal tem como objetivo de vida destruir meu casamento e passar a viver com Luis. Como é ousada!

De imediato, o capataz da fazenda, a pedido de meu sogro, segura Rita pelo braço e a leva para a cozinha.

Depois dessa lamentável cena o clima na sala ficou horrível!
Todos permanecemos em silêncio. Minha irmã, contrariada, segura forte minha mão e ensaia um sorriso, como se quisesse me acalmar.


Com um discreto olhar, procuro Luis, mas não o vejo.
Ao sair na varanda o vi próximo à cozinha gritando com Rita. Ele, muito nervoso, segura o braço dela com força enquanto a escrava ri sem lhe dar ouvidos.
Acredito que aquele momento foi crucial para desencadear a minha ira!
Realmente, não consigo mais manter as aparências. Esta situação é ridícula! Está na hora de Luis e eu termos uma séria e definitiva conversa.

Sem que ninguém percebesse, subi na carruagem e pedi ao cocheiro que me levasse para casa. Ao chegar em minha fazenda notei que ela estava  vazia devido a folga que havíamos dado aos colonos. Nem Bi estava no casarão e padre Pil estava em uma missão missionária. Senti-me
mais sozinha que nunca!

Sentei-me na sala e fiquei observando tudo ao meu redor .Lembrei de como me custou manter tudo em ordem na esperança de salvar o meu casamento...

Quando percebi  estava aos prantos e pensando: "Como eu pude ser tão sonhadora e ingênua! Será que um dia essa situação poderá mudar?... Mas, Luis era bom marido. Seria perfeito se essa Rita não existisse"!

Olhei para as rosas vermelhas, colocadas simetricamente em um vaso na entrada do salão, como se quisessem me encorajar.

Horas depois, decido me recolher... Cansei de esperar por meu marido.

Na manhã seguinte, Luis e a maioria dos colonos retornaram para nossa fazenda. Tudo parecia continuar como se nada tivesse acontecido.

Acordei muito chateada. Desci e tomei o meu café sozinha, pois ele já estava no galpão verificando as sacas de café.
Acredito que  estava arrumando pretextos para não me encontrar, pois, com certeza, Luis me conhece o suficiente para perceber que minha paciência em relação à Rita havia chegado ao fim.

Respiro fundo e procurando me acalmar. Paciente, aguardo-o retornar para o almoço.
Assim que se assenta à mesa, procuro olhar dentro de seus olhos, mas, em respeito à refeição, permaneci calada. Ele, muito desconsertado, se alimenta em silêncio.
Ao terminarmos o nosso almoço, como de costume, fomos para a sala de estar para tomarmos nossa xicara de café.

A tarde está ensolarada e muito quente, quente mesmo!
Sento-me na cadeira em frente a dele e, com voz calma, quebro o silêncio:

 — Luis, acredito que depois de anos, precisamos conversar sobre um assunto muito delicado. Não temos mais como protelar! Reconheço que você é um bom homem, muito trabalhador, caridoso, amável e sei que me ama, mas, informo-lhe que hoje chega ao fim sua "amizade" com Rita. Caso não concorde, retornarei para a casa de meus pais e retomarei a minha vida sem você. Com certeza, não é isso que eu quero, mas respeitarei a sua decisão, caso opte em continuar com esse envolvimento extraconjugal. Eu poderia jurar que o homem com quem casei era diferente dos libidinosos senhores de fazenda que conhecemos!

— Nana, por favor, não continue... Eu te amo , você é a mulher muito especial! Nenhuma outra a substituirá em meu coração! Devo confessar que também não venho me sentindo bem com essa situação. Sei o quanto a fidelidade é importante em um casamente e o quanto você a valoriza! Pois bem, assim será feito. A partir de hoje, Rita não nos incomodará mais, nem que para isso eu tenha que me privar de visitar os meus pais!

E assim se fez...


Como Num Piscar de Olhos (Brasil)Onde histórias criam vida. Descubra agora