Tempo do Fogo

0 1 0
                                    

Mesmo Krian tremia e se questionava sobre o que os seus olhos viam. O pequeno ser deitado em posição fetal nas escadas à frente deles sangrava através de pedaços derretidos da pele do braço e da asa direita. Ele ainda respirava, contudo com dificuldade junto à tosse seca. O cabelo amarelo também parecia torrado nas pontas. O rosto, mesmo arredondado, dava a entender se tratar de um adulto, porém não com mais de um metro e meio.

— É um homem-borboleta? — Wiam ficou fascinado pela asa esquerda inteira que via.

— Ele é uma fada Wiam — Dego respondeu de prontidão. — O que vamos fazer agora?

O senso de urgência fez Krian esquecer o medo por um momento e se aproximou mais um pouco para uma abordagem diferente.

— Podemos ajudar em algo?

O ser fez um som nasal de indignação, como se fosse óbvio. O garoto não tinha ideia do que poderia fazer para salvar a fada, que lhe olhou pelo canto dos olhos semiabertos. Krian depositou seus olhos diretamente nos dele, e sua mente se intrigou. Os olhos cor de esmeralda deveriam ser tão brilhantes quanto as asas de mesma cor, mas agora não havia brilho, somente um tom de amargura e dor.

— Parece que nem todos desse continente nos odeiam... Cile estava certa... uma pena, ser muito tarde para mim. Para nós — a fada falou consigo mesmo enquanto se esforçava para manter os olhos abertos.

— Quem fez isso com ele pode estar por perto — sugeriu Wiam. — Deveríamos tirá-lo daqui.

— Deve ter sido um algoz. Ele é um exilado, nem deveria estar neste continente.

— Quieto, Dego. Boa ideia, Wiam. Depressa, me ajudem a tirá-lo daqui.

— Ouvi Krian — resmungou Dego. — Mas olha o que encontramos.

Isso não é o tipo de ser que a gente vê só em jogos?

Krian concordou enquanto apressava Dego para lhe ajudar a erguer a fada. Ele se impressiona ao tocar nas texturas da asa e nem parece se sentir inconveniente com isso. Os garotos se posicionavam para levantar a fada com cuidado pelos braços, passando-os pelos espaços formados entre o corpo da criatura e da escada. Ele foi posto nas costas de Wiam, agarrando-se com os finos dedos no ombro da camisa do garoto. Krian perguntou o nome do ser.

— Rade. Minha amada Cile ficaria feliz de conhecer humanos como vocês.

— Ela é sua rainha? — Krian não se deteve em perguntar também. Rade conseguiu dar um curto sorriso pelo canto da boca.

— Sinto muito em lhes envolver nisso.

O grupo não entendeu o que Rade quis dizer com isso. Ele parecia ter se cansado de falar e estavam sem tempo para salvá-lo. Logo que começaram a se mover na direção da saída, ouviram estalos e gargalhadas vindas do lado de fora.

— Ele chegou... — disse Rade num quase último suspiro. — Me deixem. Sigam com sua liberdade.

Mesmo sem entender, os três concluíram ser necessário acelerar para sair logo dali. Dego, todo amedrontado, abria caminho em direção a saída, entretanto, quando atingiram a escada para o lado de fora, o local estava em chamas.

Apavorados com o calor crescente, paralisaram. O fogo se expandia e avançava para dentro do casarão. Abriram a primeira porta que viram na frente e chegaram à cozinha, das janelas já se podia ver o fogo se alastrando pelos arredores da estrutura. A poeira ajudava na combustão, e as chamas tomavam conta das paredes numa velocidade dinâmica. Logo deveria tomar conta de todo o primeiro andar.

— Não acredito, nós vamos morrer. — Dego estava prestes a se desesperar.

— Claro que não, vamos subir. Rápido — gritou Krian com dificuldade de esconder a preocupação também.

Power Heart - Livro 1: O Recomeço da Alma [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora