Realidade

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Sabendo da proximidade para o fim das aulas, os pensamentos sobre o futuro incerto borbulhavam por toda a mente de Krian. Dessa vez não seriam simplesmente férias para retomar os estudos no mesmo colégio em poucos meses, ele precisava decidir por qual caminho seguir. O número de opções para escolher só era limitado pela quantidade de cursos e locais que as universidades de Lisar ou de Onuy, o país vizinho, poderiam oferecer, contudo nenhuma delas parecia brilhar aos olhos do garoto.

Pensar no futuro também faz lembrar o passado. E não poderia ser diferente com Krian. Ao longo da semana, quando as recordações passavam por suas memórias, não lembrava de nada extraordinário fora dos ambientes dos jogos virtuais, além da conversa do fim de semana com sua mãe, que matutava em sua cabeça. Deveria arriscar sua vida por alguma coisa ou alguém? A vida de estudante certamente não precisa dessa qualidade, ou seja, uma vida bem menos empolgante lhe aguardava.

Poderia culpar Dego e Wiam por suas vidas escolares monótonas, porém sabia que eram eles quem permaneciam ali nos momentos mais embaraçosos também. Se isso não era amizade, Krian desconhecia qualquer outra definição. As preocupações dos três eram diferentes das dos demais colegas. Enquanto a grande maioria se preocupava com notas, dramas amorosos e como ir a festas, eles se preocupavam sobre como ficar mais fortes para encarar os perigos.

— Coincidência ou não, ontem consegui o arco que estava há dois meses tentando. Bem no último dia de aula. Justo quando teria bastante tempo para ficar tentando — disse Wiam, vibrando de emoção logo pela manhã.

Dego e Krian estavam sentados em suas cadeiras quando o garoto baixo e magro e com cabelos finos escorridos pelo rosto alongado ergueu os braços para celebrar a conquista. Junto dos braços, sua camisa subiu e alguns colegas atrás deles deram risadas do ato.

— Liga para eles não — sugeriu Dego. — É o último dia de aula.

Temos que sair daqui e caçar alguns goblins. Testar esse arco.

— É sério, vocês não estão nem um pouco entediados de jogar? — questionou Krian, para a surpresa dos dois.

— Está enjoando de jogar agora? Vai fazer o que nas férias? — Dego falou, balançando o pescoço e a cabeleira alaranjada, como sempre fazia quando queria ser sarcástico.

Apesar de desajeitado, tão vidrado em jogos quanto Krian e acima do peso por conta dos salgadinhos, Dego tinha uma perspectiva clara do que queira fazer em Onuy.

— Tenho muitas coisas para pensar e... — Krian interrompeu a própria explicação para manter a atenção em quem passava.

Assistindo ao amigo boquiaberto, Dego e Wiam demoraram um pouco para entender a parada repentina, mas logo ficou claro: Quel, uma de suas colegas de aula. A garota estava passando por trás de Wiam, e Krian não conseguiu evitar que seus olhos a seguissem. Seus amigos se entreolharam e riram alto.

— O que foi? — Semicerrou os olhos. — Eu daria qualquer coisa para estar abraçado com ela e cheirando aqueles cabelos castanhos.

— É, nós sabemos disso. Por que não vai falar com ela? — questionou Wiam.

— Não é tão simples assim, Wiam. Krian se remexeu na cadeira.

— Pois então, Krian, por que você nunca beijou ninguém mesmo?

— Dego debochava da situação com prazer.

— Dego, você sabe muito bem o porquê de isso nunca ter acontecido. Pergunte para qualquer colega nosso. Aliás, o mesmo vale para você — retrucou.

Inconscientemente, Krian levou a mão no peito. Apesar de ter dito que já superara o fato, tinha certeza de isso incomodar tanto o amigo quanto ele. Juntos, eram capazes de rir da situação e fazer piadas um com o outro; separados, o que poderia significar esse detalhe em seus universos particulares?

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