V - Toque físico

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Itachi franziu o cenho ao sentir o colega passar o braço pelos seus ombros e se desvencilhou do toque da forma mais gentil que pôde. Hidan era legal, mas definitivamente não respeitava o espaço pessoal das pessoas e o Uchiha evitava conviver com gente assim.

Sua família não costumava demonstrar afeto com toques, apesar de Sasuke ter sido bastante grudento enquanto criança. Sua mãe diz ser herança de Fugaku desabrochando no adolescente quando este passou a repudiar gestos afetuosos em público.

Os colegas de Itachi entendiam e respeitavam tal característica, evitando se jogar em cima do prodígio como costumavam fazer uns com os outros e ele realmente agradecia aos céus por isso.

No entanto, o Uchiha sabia que o desconforto que sentia com aqueles toques indesejados simplesmente se esvaia com Shisui. Ele se sentia muito confortável com o melhor amigo e para o bem dele, deixava que ele penteasse e trançasse seus cabelos vez ou outra, já que o mais velho era obcecado pelos fios.

(...)

— Você deveria deixar seus cabelos crescerem. – Itachi murmurou encarando o outro através do espelho. Ele e o amigo estavam no quarto do mais novo, que estava em pé de costas para o outro. Shisui estava penteando seus cabelos e não desviava os olhos do que fazia, apesar de ter erguido uma sobrancelha com o comentário.

— Por que?

— Porque aí você poderá pentear os próprios cabelos e deixará os meus em paz. – Itachi riu da expressão do outro e virou de frente para si. Os rostos tão próximos com o ato que sentiam a respiração alheia na própria face.

— Mesmo que eu deixasse, eles jamais seriam como os seus. – A voz saiu baixa e Itachi soltou um suspiro pesado, os olhos indo imediatamente para a boca de Shisui, hipnotizado ao ver os lábios se entreabrirem e o hálito quente se encontrar com o seu.

Os olhos subiram para os do melhor amigo que o encaravam com intensidade. Ambos podiam notar as respirações aceleradas por causa da adrenalina. A vontade imensa de colarem suas bocas impeliu os rostos a se aproximarem.

Itachi levantou lentamente o rosto e os lábios se tocaram com leveza, a maciez da boca alheia despertando a vontade primitiva de afundar os dentes e a língua na cavidade morna, mas sendo impedidos pela própria insegurança. O medo de não sentirem o mesmo e de estragar a amizade tão forte que construíram com o passar dos anos. A hesitação palpável entre os dois.

Aquilo acontecia vez ou outra. Em diversas ocasiões, os amigos se encontravam perdidos no olhar alheio, nenhum dos dois corajoso o suficiente para falar algo, nenhum dos dois corajoso o suficiente para tomar a iniciativa. Ambos tão imersos nas próprias inseguranças que mal podiam enxergar o óbvio: estavam completamente apaixonados um pelo outro. Tamanho temor impedia Itachi até mesmo de admitir para si mesmo o sentimento e ele evitava a todo custo refletir a respeito. Shisui, por sua vez, sabia até mesmo o dia que se descobriu enamorado pelo amigo.

Itachi estava no final do ensino médio e havia feito há poucos dias a última prova de vestibular. Após certa insistência de Shisui, ele aceitou sair para comemorar o fim dos testes e Itachi escolheu ir a um karaokê, simplesmente porquê queria experimentar algo novo e sabia que não o faria com ninguém além do melhor amigo. E quando Shisui o viu cantar, mostrando estar tão à vontade, os olhos fechados e um sorriso nos lábios, ele soube que queria estar sempre por perto, tendo a melhor versão de Itachi e o oferecendo a sua. Sentiu imensa felicidade ao se perceber apaixonado por uma pessoa que tanto admirava e que tinha como melhor amigo e, naquele momento, era o suficiente.

Shisui suspirou e se afastou, por fim, indo em direção ao banheiro para guardar a escova de cabelo. Ele apoiou as mãos na pia, fechando os olhos momentaneamente. A ideia de dizer o que sente indo e vindo pela sua cabeça, os prós e contras aumentando cada vez mais sua insegurança. Seria difícil demais ouvir do melhor amigo que não sente o mesmo, então ele preferia fingir que Itachi não era, há anos, a razão de seus melhores sorrisos.

Itachi, por sua vez, encarava a porta do banheiro por onde o outro entrou. O afastamento de Shisui o fez ter certeza de que seus sentimentos não eram recíprocos, pois alguém tão confiante quanto ele, não hesitaria daquela forma estando prestes a beijar alguém que deseja.

(...)

Sasuke viu o irmão e o amigo saírem do quarto do mais novo em silêncio. Havia tanta tensão no ar que ele quase desistiu de conversar com Itachi, mas não o fez por saber que o que ia falar, futuramente, ajudaria os dois a se acertarem.

Aniki? – Itachi se sobressaltou, estava tão perdido em pensamentos que nem mesmo notou o adolescente ali. — Amanhã terá um evento na escola, eu irei apresentar e queria muito que você fosse.

— É claro, otouto. Estarei lá. – Ele sorri levemente e encosta o indicador e o médio na testa de Sasuke, fazendo-o bufar levemente e sorrir antes de se retirar.

— Você irá? – O Uchiha de cabelos longos se vira para Shisui e pergunta. A expressão tenta se manter indiferente, mas o mais velho sabe que ele está preocupado com o que aconteceu no quarto e enchendo a cabeça de paranóias.

— Claro que sim. – Ele sorri e coloca uma mão no ombro do outro. — Não precisa se preocupar, Itachi. Está tudo bem. – Ele falava isso mais para si mesmo do que para o outro. — Eu vou 'pra casa, me manda mensagem com o horário da apresentação depois.

Itachi concordou e se despediu do amigo, tentando acreditar que realmente tudo estava bem e que não teria um clima estranho entre eles.

Sasuke observou a cena escondido, teve certeza de que alguma coisa havia acontecido entre os dois quando viu o rosto triste de seu nii-san e torcia para que não fosse nada sério, afinal, amanhã ele iria mostrar para os dois o que sentiam. Ele fez suas anotações finais sobre a quinta linguagem do amor, observada por ele nos últimos dias. Obviamente, Itachi não se identificava, já que até mesmo com os familiares não costuma haver trocas físicas de afeto constantemente. Quanto a Shisui, era o contrário, o adolescente sentia que se dependesse dele, ele viveria agarrado ao seu nii-san, mas conhecendo Itachi como ele conhecia, ele se contentava somente com toques no ombro e principalmente, nos cabelos, deixando explícito sua devoção pelos longos fios do outro. Lembrou-se de não citar essa parte na exposição do trabalho, afinal, não queria deixar óbvio para todos quem era o casal citado, somente para os dois amigos.

Linguagens do amor - ShiItaOnde histórias criam vida. Descubra agora