Capítulo 8 - Após o fim - Lado B:

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Noah Urrea-





Ele morreu.

Ele morreu em uma briga.

Ele morreu em uma briga na cadeia.

Ele morreu em uma briga na cadeia, onde foi parar por minha culpa.

Ele morreu por minha culpa!

No dia seguinte ao que conversamos, uma amiga dele me ligou para dar a notícia. Nunca serei capaz de esquecer como me senti naquele momento.

Era uma manhã normal, até receber a ligação. Estranhei o horário, cedo demais. O número desconhecido, piorou a estranheza. Quando se identificou, soube que me diria algo desolador.

Enquanto pronunciava as frases que ficarão para sempre gravadas no minha mente, eu me esforçava para respirar.

Apenas não fazia sentido continuar levando ar aos pulmões e viver, sendo que ele estava morto.

Eu precisava saber como aconteceu, e contrariando todos os conselhos, fui ao presídio averiguar por mim mesmo.

Doeu tanto ouvir os relatos e concluir que ele fez de propósito. Provocou uma briga com uma gangue de seis pessoas porque queria morrer.

Imagina o nível de desespero de uma pessoa para chegar ao ponto de tomar uma atitude tão drástica.

O carcereiro de meia idade que sempre era gentil comigo, revelou que não estava surpreso com o acontecido, já esse era o desejo e objetivo dele há um bom tempo.

Vendo o quanto eu estava abalado, o homem apertou meu ombro e disse com semblante triste: "Nem todo mundo aguenta os horrores que acontecem aqui."

Os horrores que aconteceram com ele nesse lugar, foram todos causados por mim. Sou tão culpado por essa morte quanto àqueles que o espancaram. Não. Eu sou ainda mais...

Me informo sobre velório e enterro. Quero ao menos me despedir. Meu peito dói sem parar. O desespero, o remorso, a tristeza, são insuportáveis.

Volto para casa e faço a única coisa que está ao meu alcance: choro e mergulho na mais profunda aflição.

Depois de um tempo deitado no chão frio, pego meu celular e noto um recado na minha caixa postal. Acesso para ouvir e recebo outra punhalada.

(Voz na caixa postal) - Noah, bom dia. Aqui é a doutora Milles, liguei para contar a boa notícia em primeira mão. O juiz acabou de deferir o pedido de liberdade condicional do Josh Beauchamp...

Ele ia sair daquele lugar... E ficaria livre em questão de horas.

Por que você não esperou?

Por que fez isso comigo?

Por que desistiu?

Por que fez isso consigo mesmo?

Nós tínhamos uma chance. Poderíamos ter ido para outro lugar, bem distante. Eu fugiria contigo, te seguiria aonde quer que fosse, e ficaria ao seu lado sempre.

Levanto do esgoto de autopiedade em que estou afundado e me arrumo para o velório.

No cemitério, ando até o local indicado, vejo um pequeno grupo de pessoas e não consigo me aproximar. Não me vejo no direito de participar da cerimônia e velar seu corpo inerte.

Se eu não tivesse cruzado seu caminho, ele não estaria em uma caixa fechada, com destino a sete palmos de terra.

Na cabeceira do caixão escuro, avisto uma garota que parece tão solitária e infeliz. Fitando seu rosto, reconheço os olhos azuis. São iguais aos dele. Taylor... a irmã caçula que ele tanto amava.

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