Avante! Avante! Fechem os portões de suas casas, senhoras e senhores. O circo da cidade está passando!
Fecho meus portões lacrados em cadeados prateados modernos demais para a civilização.
Sinto-me protegida contra os pilantrões que sujam e aborrecem esta cidade!
Desde meus 5 anos me trancafio dentro de minha casa, enquanto, na caída do sol, os fanfarrões entretidos entram em nossas terras e fazem só deus-sabe-o-que.
A maioria do povo de minha cidade tem medo, não saímos nem para olhar as frestas das janelas nem por curiosidade.
- Soube que esta noite haverá fogos - dizia minha queria irmã mais nova, assustada.
O dia começa a cair e todos já estão dentro de suas casas, cobertos de pavor do que está para chegar nas próximas horas.
E então, o dia cai.
Átrio, meu irmão caçula, por curiosidade de criança destemida, ao ouvir o barulho horripilante das ruas, quebra o medo de gerações de famílias e finalmente, vai de encontro com a pequena abertura no pano de nossa janela, pregado com lençóis escuros.
- Venha, família! Venha todos! Não há de quer ter medo! - gritava, deslumbrado, sem tirar seus olhos da janela- Estou tendo a melhor experiência da minha vida !
Apoiei-me ao lado dele, trêmula, sem saber ao certo o que esperava. Só sei que esperava alguma coisa. Há anos não sentia o vislumbre de paixão em minha vida.
Quando finalmente me deparei com as imagens, senti todos os extremidades da casa, senti as madeiras e senti a porta se abrindo como um passe de mágica, numa força como de um trovão. Não pude mais controlar meu corpo. Estava totalmente envolvida a festança do circo.
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Eu e alguns versos
Poesíajá não pertenço mais a meu ser deixo as palavras me guiarem