Sexta carta

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15 de abril de 2021.

Laura,

Acho que encontrei nas cartas uma maneira de suprir sua ausência. Faz muito tempo que não te escrevo, mas hoje acordei meio melancólica porque senti sua falta quando fui xingar o presidente no Twitter — nós geralmente fazíamos isso juntas.

Já estamos há mais de um ano vivendo numa pandemia e, na verdade, está tudo pior e desesperador. Quem diria que eleger um presidente genocida e negacionista daria nisso, não é? Acho que você pôde escutar meu sarcasmo e ouvir a revirada de olhos. Mas, sei lá, tento focar em coisas pequenas. Sinto sua falta, especialmente porque não posso chamar ninguém vivo para vir aqui em casa ou sair para me distrair. É só eu, a tela do computador e o celular. O. Tempo. Inteiro.

É difícil me concentrar, sentir alívio ou empolgação.

Se você estivesse aqui, eu teria alguém para conversar, para rir comigo, para me fazer sorrir. Eu só estou tentando seguir desde que você se foi, mesmo que seja doloroso. Nos primeiros dias, ainda tinha esperança de que você fosse aparecer ou, sei lá, falar comigo através de sonhos, tentar contato de uma forma sobrenatural e fantasmagórica.

No final, você apenas se foi. Você se foi sem deixar nada para trás, só minhas memórias. Demorei para processar isso, para perceber que você não voltaria mais, agora estou lidando com isso como posso. Te escrevendo cartas, acendendo incensos.

Foram meses tristes e intensos, mas vai ficar tudo bem alguma hora. Quem sabe eu te reencontre em outra vida? Duvido que eu consiga me apaixonar de novo com tanta intensidade, que eu encontre outro alguém para ser meu ponto seguro como você foi. Acho que uma certa esperança ainda queima, bem lá no fundo, só preciso de forças para encontrá-la.

Com saudades,

Alice.

Anjos Como VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora